Exibidor

Publicidade

Notícias /mercado / Animação

08 Outubro 2021 | Renata Vomero

Tortuga Studios destaca crescimento do mercado de animação e interesse do público adulto pela linguagem

Produtora lançou primeira animação brasileira inédita do Disney+

Compartilhe:

(Foto: Divulgação)

A Tortuga Studios nasceu há mais de quinze anos se consolidando como uma das importantes produtoras de animação do Brasil. Em frente aos desafios da pandemia, a empresa comemora o lançamento de O Pergaminho Vermelho, primeira animação brasileira inédita a entrar no catálogo do Disney+. Mas não só isso, com mais de 15 anos de estrada, a produtora celebra o crescimento do mercado de animação no Brasil e no mundo, muito impulsionado pelo streaming.

Publicidade fechar X

Quanto ao O Pergaminho Vermelho, embora tenha conseguido uma visibilidade ainda maior do que a inicialmente esperada, já que o longa ganhou distribuição na plataforma da Disney em toda América Latina, sua trajetória não foi tão simples quanto possa parecer.

O projeto foi idealizado há mais de dez anos, primeiro como série, passando por 3D e depois em 2D, já no formato de filme. Parte deste período foi destinada apenas à captação de recursos para a produção, vindo em parte do próprio bolso da Tortuga, só para então o filme infantil ser negociado com o Disney+ antes mesmo de sua chegada na América Latina.

“Para a gente é uma vitória, principalmente, se pegar todas as condições em que o filme foi produzido. Esses dez anos, não foram produzindo, foram dez anos tentando viabilizar a produção. Foi bem difícil, a gente logo de início ganhou um edital, mas não era a verba completa. De lá até conseguir mais dinheiro, foram três ou quatro anos. Tem uma equipe muito grande envolvida, gente que acabou muitas vezes trabalhando por uma remuneração menor do que normalmente receberia, a gente mesmo da Tortuga colocou muito dinheiro do bolso no projeto, praticamente 50% do orçamento”, explicou Nelson Botter Jr., diretor da Tortuga Studios e também da animação, que está concorrendo ao troféu de melhor animação dos Prêmios Platino do Cinema Ibero-Americano, que acontece em Madri, em outubro.

Aliás, a produtora, que tem atuação na Espanha e nos EUA, consegue analisar de forma bastante clara a evolução do mercado de animação no Brasil e no mundo, culminando neste lançamento no Disney+, simbólico também para a indústria, mas falaremos disso mais para a frente.

Nascida há mais de 15 anos, a produtora foi uma das primeiras a focar neste segmento de animação, ainda tão embrionário no Brasil, embora também trabalhe com live-action.  Os produtores e diretores da empresa Nelson Botter Jr. e Fernando Alonso conseguem ver como um importante marco da indústria brasileira o surgimento da Lei da TV Paga, de 2011, que prevê obrigatoriedade de conteúdos nacionais na grade. Com ela, o mercado de animações cresceu vertiginosamente, justamente abraçando os canais voltados ao público infantil.

“Com a lei, o mercado cresceu demais e as operadoras se viram obrigadas a abrir espaço para as animações nacionais. O que acabou sendo bom para elas, porque as grandes audiências são de séries nacionais”, reforçou Nelson.

No entanto, com o momento atual, e nem estamos falando da pandemia, esta indústria volta a se sentir ameaçada por conta das políticas do atual governo brasileiro que paralisaram os incentivos e congelaram, ou eliminaram, recursos.

“Se a gente for ver, não são só os três ou quatro anos dessa nova política. Você vai ter que reestruturar e recomeçar o setor até tracionar de novo, pegar o ritmo. Refazer o que já foi feito. Por isso que a gente vem aproveitando esse momento que a gente está mais presente no cenário internacional para buscar parceiros e investidores privados, porque aqui não estamos podendo contar com ajuda nenhuma”, explicou Fernando Alonso.

E esses investimentos estão chegando cada vez mais, ironicamente, porque o Brasil, antes dessa paralisação, começou a se consolidar como um forte nome da linguagem de animação, inclusive, ganhando visibilidade até maior no exterior, onde a Tortuga também atua.

E isso vem crescendo com a ação dos streamings, responsáveis por facilitar o acesso a produções que escapam do circuito comercial, chegando a pessoas de todos as localidades do mundo. E engana-se quem pensa que estamos falando aqui de animações restritas apenas ao público infantil, muito pelo contrário, o crescimento maior, observado pelos players, vem justamente de um maior interesse de animações voltadas ao público adulto.

“O streaming por si só ajuda a democratizar esse processo, é um facilitador. Estamos notando que o próprio público está pedindo mais animação adulta. A maioria ainda é de universos fantásticos, mas tem essa visão mais filme adulto, nessa pegada comédia e drama vem mais dos EUA, mas também do cinema europeu.  A gente tinha esse filme que é o ‘Nosso Louco Amor’, que até antes da pandemia seria um live-action, então, vendo essa questão mercadológica, decidimos embarcar nessa animação adulta com outro viés”, ressaltou Alonso.

Então, entra um desafio ainda maior nessa fórmula: o brasileiro. Não se sabe ao certo por qual razão, mas diferente de outros mercados internacionais, o público brasileiro tem uma resistência maior com animação, por pensar que são sempre infantis. Desta forma, se constrói uma barreira entre os espectadores e os players envolvidos no meio.

“Acho que tem uma questão cultural muito importante que é de que a gente sempre bebeu muito da fonte americana, tem eles muito como referência. E aí entram dois ‘poréns’, primeiro é a concorrência, que se o cara for escolher, vai no longa da Pixar que custou uma fortuna. Tem a questão da programação nos cinemas, que não favorece tanto o nosso produto. O consumidor brasileiro sempre acaba comparando as produções estrangeiras com as nacionais e isso não acontece na Europa, por exemplo, que já existe esse hábito de ver os filmes locais”, explicou Fernando.

Ambos destacaram também a questão econômica, já que o programa cinema é caro para muitos brasileiros, que acabam tendo que escolher o que ver, favorecendo os blockbusters. E outra questão econômica é a dos cinemas em si, tendo em vista que o Brasil não conta com muitas salas, o que força os exibidores também a fazerem escolhas que sejam mais lucrativas para eles, o que também favorece os blockbusters.

“Interessante é que com o streaming, o gênero que mais cresce agora ao lado de documentário é a animação adulta. Se você pega os gráficos, vê o quanto estourou em termos de animação adulta, e não só de séries que são de comédias, como as séries americanas, hoje tem séries só de ação, de aventura, drama e muito filme que está sendo produzido, que poderia ser um live-action, mas que por uma escolha vira animação. Por conta do streaming, e com essa produção mais desatrelada ao que sempre foi, acho que com o tempo essa resistência com animação vai cair e vai ser natural daqui uns anos a gente assistir a um filme que é animação e que a gente não vai ter uma sensação de estranhamento, vai ser simplesmente a estética escolhida”, finalizou Nelson.

Compartilhe:

  • 1 medalha