10 Setembro 2021 | Renata Vomero
Podcast "Cena Aberta" alcança público com profunda e divertida conversa sobre entretenimento
Iniciativa da Globo é apresentada pelos influenciadores Mikannn, Max Valarezo e PH Santos
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O mundo dos podcasts está ganhando cada vez mais força, com programas para todos os gostos, inclusive, para os fãs de cinema e séries. Pensando nisso, a Globo criou o Cena Aberta, novo podcast, disponibilizado no Gshow e Globoplay, para trazer uma conversa descontraída e aprofundada sobre o tema.
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Para isso, foram convidados os especialistas no assunto: Mikannn (Miriam Castro), Max Valarezo e PH Santos, todos eles conhecidos do público na internet por trazerem conteúdos dedicados ao universo do entretenimento e cultura pop. Desde o fim de agosto, os três se juntam para trazer dois programas semanais, um às terças-feiras e outro às sextas.
“Foram eles que chegaram com o formato, de ser de terça e sexta. Sendo o de terça mais frio e o de sexta mais quente. Mas a partir daí pegamos essas ideias e fomos aprimorando para que dialogasse com a gente. A primeira coisa que nós três concordamos é que não queríamos fazer um podcast para ficar falando só dos grandes blockbusters do momento, queríamos ter oportunidade para falar de filmes de outras épocas, outros momentos. Então, criamos um bloco que é o Balcão da Locadora”, explicou Max Valarezo, dono do canal Entre Planos.
O mais interessante disso é que é uma iniciativa que mostra a importância de se ter conteúdos aprofundados sobre audiovisual, principalmente cinema, aliados a uma boa presença no digital, marcada pelos três nomes reconhecidos pelo grande conhecimento no assunto junto a uma linguagem didática e acessível. É bingo na certa! Inclusive, no dia em que a entrevista foi feita, o “Cena Aberta” estava em segundo lugar no ranking de podcasts mais ouvidos no Spotify.
É com isso que eles mesclam justamente os assuntos mais quentes, como explicou Max, mas trazendo bastante de sua bagagem ao longo dos anos cobrindo o tema. E isso é um combo muito importante de se ter dentro do streaming, já que vai criando interesse no público de conhecer novos títulos, ou títulos antigos desconhecidos para eles. Com esse interesse crescente, aumenta a vontade de seguir consumindo conteúdos no audiovisual, seja no cinema, seja no streaming ou televisão. É um ciclo que se retroalimenta.
“Tem pessoas que não têm cinema em suas cidades, às vezes o podcast chega nessas pessoas com muito mais facilidade, assim como o streaming. Agora está um pouco mais difícil, mas tem gente que viaja para uma cidade maior para ver um filme e é legal de pensar que a gente vai ter alguma influência no que a pessoa vai escolher ver. Mesmo que essa pessoa só possa ver no streaming depois ou se o cinema próximo é pequeno com poucos filmes”, reforçou Mikannn.
E nesta questão, PH Santos trouxe um ponto bastante importante de sua própria experiência de trabalhos focados em democratização e acesso de comunidades ao cinema. “Participei de um projeto de cinema itinerante, levávamos um projetor e uma tela branca para comunidades aqui de Fortaleza e ali eu percebi que a arte que é a protagonista, não é a poltrona legal ou o som legal. Porque era terrível esse cinema que eu levava para essas pessoas. A imagem, às vezes, era com o banner sempre balançando, porque venta muito em Fortaleza, mas eu olhava para as pessoas e elas estavam tão inebriadas quanto eu estava na primeira vez que assisti a aquilo ali, no cinema. E neste momento eu tirei o cinema do protagonismo que eu colocava e dei ao filme. É impossível eu odiar o cinema, não faz sentido, mas para mim se um filme for consumido numa telinha de celular e a pessoa estiver imersa naquilo ali, para mim vale. E aí vamos para um ponto mais social, se a internet não chega a todos os cantos do país, imagine o cinema. Se você restringe um filme a ser assistido de um jeito específico, você está tirando o que a arte precisa para ser gigante, que são as pessoas consumindo. Minha opinião é que o protagonismo seja a arte, que bom que seja no cinema, num Imax, melhor ainda, que bom que seja com dez amigos, mas antes de tudo, que bom que você assista”, reforçou.
E neste assunto de alcançar e, claro, formar público, entra a galera jovem, tão conectada no digital e com forte presença no streaming e nas redes. Há, então, uma preocupação em levar conteúdo para eles, junto a uma noção de responsabilidade de que este conteúdo seja bem trabalhado, algo que está no trabalho do trio sempre.
“Acho muito legal pensar nesse sentido porque o público jovem, os mais adolescentes, é a fase que você está querendo encontrar os gostos culturais que te definem como pessoa. Você quer criar aquela identidade. Acho legal pensar que a gente possa estar contribuindo para que uma galera mais jovem conheça coisas que não iam conhecer, mas também nós três temos vários valores que são intrínsecos nossos, sobre o mundo, sobre como tratar as outras pessoas, a lidar com a arte também. E isso tudo acaba aparecendo nas nossas conversas no podcast. É uma oportunidade de a gente também apresentar esses valores que a gente acredita que é importante defender”, explicou Max.
Com isso, seu comentário foi complementado por PH e Mikann que reforçaram também a ideia de que não é porque tem um público mais jovem que possar ser impactado, que eles vão mudar sua linguagem para se aproximar mais deles, muito menos subestimar essas audiências.
Outra preocupação do time, junto à Globo também, é enriquecer os conteúdos por meio da pluralidade e diversidade. O trio apresentador representa localidades distintas do Brasil, como Ceará, São Paulo e Brasília, e com sotaques diferentes, também têm ali visões diferentes, que eles querem ampliar por meio de eventuais convidados do podcast também.
“Para mim é muito importante a gente se misturar, a gente está com uma boa parte do Brasil contemplada aqui, queremos rodar convidados, vamos fechar esse Brasil de ponta a ponta, vamos ter todos os sotaques nesse podcast, todos os gêneros, tudo. Também não dá para viver a arte a partir de um olhar só, é o maior perigo que se tem”, finalizou PH.
O podcast Cena Aberta está disponível no Globoplay, Gshow e nas principais plataformas de áudio.
Confira a conversa com Max Valarezo, Mikannn e PH Santos:
Como surgiu o projeto e como ele foi desenvolvido?
Mikannn: A Globo nos chamou, o PH foi o primeiro de todos. Em seguida vieram falar com a gente separadamente. A gente tem conversado com eles desde o ano passado, aí fomos definindo este projeto juntos.
Max: O contato a princípio foi individualizado. Primeiro fiquei muito feliz porque era a Globo chamando para um podcast sobre cinema, né?
Mikannn: Até chequei se não era mentira! (risos).
Max: Aí quando tive uma primeira reunião sozinho com eles, me explicaram o projeto e falaram que queriam três apresentadores e que seriam a Mikannn e o PH Santos comigo. Foi ótimo porque somos amigos há bastante tempo, os três começaram seus canais mais ou menos na mesma época no YouTube, minhas primeiras collabs foram com eles. Eles acabaram se tornando dois dos meus primeiros amigos youtubers, meus colegas de profissão. Me ajudaram a não me sentir tão sozinho nesse meio. Ao longo dos anos ficamos mais amigos, quando falaram que seria com eles, achei maravilhoso, porque além de ser uma proposta para falar sobre algo que amo, seria com pessoas que já conheço, adoro e tenho uma boa química. Além de tudo, são profissionais que admiro demais, o trabalho deles é inacreditavelmente responsável, aprofundado, cuidadoso e inteligente.
PH: Para mim foi muito legal quando vieram as primeiras conversas porque tive um podcast entre 2006 e 2019, e quando saí do Rapadura ficou essa lacuna, que nunca foi preenchida. Havia uma ânsia tão grande em falar sobre um filme, que ao invés de gravar o vídeo, eu subia só o áudio no YouTube. É muito doido, porque nesses últimos dois anos sem o projeto, a perguntas mais constante que me faziam era sobre qual era o meu podcast, e eu não tinha. Nesse meio tempo, o podcast estourou de outras formas por conta dos podcasts de entrevistas, principalmente no YouTube, chamo isso de terceira explosão de podcast. Engraçado porque o trem começou a pegar vapor, mas eu estava fora desta vez. Ao mesmo tempo, já tinham essas conversas e tratativas, mas isso não estava muito desenvolvido ainda. Era, então, um mix de vontade e ansiedade de querer conseguir fazer logo ao mesmo tempo de muito carinho de fazer diferente. Uma responsabilidade minha comigo mesmo é de levar algo de diferente, percebi que a Globo já tinha algumas ideias que tornavam o projeto diferente, como o modelo de dois episódios por semana.
Max: Foram eles que chegaram com o formato, de ser de terça e sexta. Sendo o de terça mais frio e o de sexta mais quente. Mas a partir daí pegamos essas ideias e fomos aprimorando para que dialogasse com a gente. A primeira coisa que nós três concordamos é que não queríamos fazer um podcast para ficar falando só dos grandes blockbusters do momento, queríamos ter oportunidade para falar de filmes de outras épocas, outros momentos. Então, criamos um bloco que é o Balcão da Locadora.
Mikannn: O YouTube não valoriza muito esse conteúdo mais autoral ou pessoal, ele quer mais o que está em voga, vídeos longos e frequentes. É bem cansativo produzir neste sistema. O PH tem esse sistema muito bom de conseguir manter as discussões do momento, acho que sou um meio termo, já entendi que não consigo fazer as coisas muito quentes. Algumas coberturas específicas eu faço com dois ou três dias depois do assunto, o que para mim já é a maior correria do mundo e para o YouTube é super velho. Já me acostumei e entendi que é o meu processo. Em outros momentos, trago umas pautas geladas, invento alguma desculpa para trazer porque eu queria fazer. O Max já é de assuntos mais pontuais, de histórias.
Max: Sou aquele que nunca faz nada do que está sendo falado, sou o extremo oposto do PH. Geralmente, vou mais na pauta fria, ontem, por exemplo, soltei um vídeo sobre “Persona”, de Ingmar Bergman, um filme sueco de 1966. Da mesma forma que o PH é muitas vezes é pauta quente e vez ou outra algo mais fria, também sou o oposto, porque na maior parte das vezes trago pautas mais frias, mas de vez em quando coloco uma pauta mais quente. Não é como se fosse uma recusa de falar sobre o que está no momento, mas falo sobre o que me traz inspiração. Minha bússola sempre foi o meu nível de empolgação para falar de algo.
PH: Essa divisão entre terça e sexta fica legal, até quando estamos fazendo o roteiro. No de sexta, sinto que tenho uma voz muito mais ativa na reunião de pauta. E terça é sentar e conversar com a turma que é de onde vem a grande essência da gente. É algo muito íntimo até, se você olhar os podcasts que vão ser lançados na terça é onde tem nossos causos, nossas piadas. É bom porque parecem dois podcasts e aí já mostra também o porquê do aberta no nome, porque estamos abertos para tudo.
Vocês são nomes conhecidos na internet, com seus públicos já consolidados. Mas agora, ganham maior projeção pela Globo, como analisam esse contato com um novo público?
Max: A gente sabe que a maior parte da força da audiência neste primeiro momento vem do público que já está acompanhando a gente, mas não podemos deixar de lado este fato de que vão ter pessoas que descobrirão a gente agora. Por mais que a gente soubesse que muita gente que ia ouvir o podcast já conhecia a gente, começamos o primeiro episódio nos apresentando e falando sobre nossas trajetórias. Eu e a Miriam somos jornalistas de formação, passamos por nossa formação lembrando de sempre lembrar que vai ter gente que não sabe do que a gente está falando, é sempre bom trazer as informações mais completas. No segundo episódio, em que ficamos mais soltos, falamos sobre cinema respondendo perguntas sobre quem nós somos. Mas com a intenção de mostrar mais sobre nós, mas também entregar o conteúdo.
Os programas são muito um bate-papo mesmo, dá vontade de entrar na conversa. Como foi isso?
Mikannn: Um dos nossos objetivos é tornar o podcast em uma conversa. A ideia é que a pessoa se sinta parte. Para mim o maior sucesso nosso é a pessoa contar que respondeu algo que dissemos em voz alta, quando falam isso sinto que meu objetivo foi realizado. Se a pessoa está se sentindo parte da conversa e posta sobre isso, é isso o que eu quero.
PH: Se a pessoa não estiver com vontade de conversar junto é porque o podcast falhou, sou até um pouco mais drástico. Até a informalidade, mesmo na edição. Pedimos para deixar as vozes se baterem, não precisa marcar, por mais que seja informando, deixa a bagunça, porque deixa mais natural e é quando a pessoa quer participar. Sobre a projeção da Globo, estamos sentindo isso mais, até por mais entrevistas. Já somos o segundo podcast mais ouvido do Brasil. Só estamos atrás do Mano Brown e está tudo bem! Zero tenho medo dessa projeção da Globo, falo por mim e pelo time, porque é um grupo muito forte porque já esteve em discussões muito grandes, mas nunca foi um epicentro de declarações polêmicas, posicionamentos fortes, mas sem polêmicas. Para mim, estou dizendo que já vivemos algumas porradinhas e sinto que pode vir, porque para mim é uma honra ser apresentado por meio desses dois, por conta de como eles se portam e nem sempre a gente concorda, temos visões bem diferentes, por termos vivências bem diferentes. Me sinto muito preparado e muito feliz de ver uma porta grande se abrindo, porque estamos preparados e estou tranquilo com o que vier.
A gente vem discutindo muito essa questão do acesso ao cinema que o streaming traz, pensando também em formação de público, já que muitos lugares do Brasil não contam com salas de cinema. Para além disso, como analisam o papel do podcast de vocês dentro deste cenário?
Max: Uma coisa que a gente estava discutindo quando criamos o podcast era justamente pensando em trazer diversos conteúdos, de fora do mainstream até, incluindo o cinema nacional. A gente fala das estreias dos filmes brasileiros e sempre que entra no assunto falamos do nosso cinema. É algo que está na nossa mente de tentar aproveitar esse público grande para mostrar essas coisas, alguns filmes nacionais que as pessoas podem nem conhecer, mas que bate com o gosto delas, então, vamos apresentando esses títulos.
Mikannn: Foi legal a sua pergunta em falar na questão de acessibilidade que o streaming gera. Em um dos nossos episódios falamos sobre a volta ou não volta do cinema durante a pandemia. Sobre como os diretores estão reagindo e como a gente como público se sente também. Debatemos muito sobre isso. Tem algo legal que você falou, porque tem pessoas que não tem cinema em suas cidades, as vezes o podcast chega nessas pessoas com muito mais facilidade, até o streaming. Agora está um pouco mais difícil, mas tem gente que viaja para uma cidade maior para querer ver um filme e é legal de pensar que a gente vai ter alguma influência no que a pessoa vai escolher ver. Mesmo que essa pessoa só possa ver no streaming depois ou se o cinema próximo é pequeno com poucos filmes.
PH: Eu já fui muito mais romântico com relação ao cinema, inclusive o cheiro que agora eu já não sinto mais tanto pela máscara e a covid que levou parte do meu olfato. Eu era muito romântico com essa experiência, a sala, aquele silêncio de antes de começar o filme, parecia um relacionamento iniciando. Participei de um projeto de cinema itinerante, levávamos um projetor e uma tela branca para comunidades aqui de Fortaleza e ali eu percebi que a arte que é a protagonista, não é a poltrona legal ou o som legal. Porque era terrível esse cinema que eu levava para essas pessoas, a imagem as vezes era com o banner sempre balançando, porque venta muito em Fortaleza, mas eu olhava para as pessoas e elas estavam tão inebriadas quanto eu estava na primeira vez que assisti a aquilo ali, no cinema. E neste momento eu tirei o cinema do protagonismo que eu colocava e dei ao filme. É impossível eu odiar o cinema, não faz sentido, mas para mim se um filme for consumido numa telinha de celular e a pessoa estiver imersa naquilo ali, para mim vale. É a respeito do filme. Tiveram pessoas que eu mantive contato nesse projeto e elas me contaram que depois foram no Dragão do Mar, um cinema de fortaleza. E aíi vamos para um ponto mais social, se a internet não chega a todos os cantos do país, imagine o cinema. Se você restringe um filme a ser assistido de um jeito específico, você está tirando o que a arte precisa para ser gigante, que são as pessoas consumindo. Minha opinião que o protagonismo seja a arte, que bom que seja no cinema, num Imax, melhor ainda, que bom que seja com dez amigos, mas antes de tudo, que bom que você assista.
Como entendem o impacto de chegar nesta geração mais jovem e tão ligada na internet?
Max: Acho muito legal pensar nesse sentido porque o público jovem, os mais adolescentes, é a fase que você está querendo encontrar os gostos culturais que te definem como pessoa. Você quer criar aquela identidade. É muito fácil a gente acabar criando uma identidade com as coisas que estão mais em evidência, então, a partir do momento em que a gente pode criar um podcast para falar dessas coisas, mas também de outras, e abrir mais os horizontes de quem está formando seu gosto, em uma fase tão importante. É algo muito legal e valioso e deixa a gente até um pouco mais humildade. Acho legal pensar que a gente possa estar contribuindo para que uma galera mais jovem conheça coisas que não iam conhecer, mas também nós três temos vários valores que são intrínsecos nossos, sobre o mundo, sobre como tratar as outras pessoas, a lidar com a arte também. E isso tudo acaba aparecendo nas nossas conversas no podcast. É uma oportunidade de a gente também apresentar esses valores que a gente acredita que é importante defender.
PH: Para mim é super tranquilo, porque sou super jovem (risos). Uma vez ouvi uma fala do Ariano Suassuna falando que não muda o jeito de falar e mesmo assim os jovens gostavam dele e que ele não mudar a forma de se expressas. Então isso ficou na minha cabeça, porque temos o senso comum de dizer, que a gente tem que falar a língua dos jovens. Será¿ O jovem já está falando a língua dele entre eles. Quando ele vai atrás de outras coisas, é que ele quer ver outras vivências, outros jeitos, ele quer aprender. A gente tem que ser super esperto de sacar que quando eles estão conversando entre eles sobre a gente, temos que deixar eles falarem. Eu não me adequo, o mais legal é que é muito difícil estar no meio que a gente está e não estar ligado nas coisas que estão acontecendo. Não tem menino aqui, é tudo safo. Aparece uma tecnologia nova, por mais que a gente não domine isso aqui, a gente aprende. Então, isso deixa a gente num âmbito muito jovem e ele percebe que a gente entende do que ele fala. Não tem que ter adaptação. Tem gente que vê isso como descer o nível, para mim não existe isso, o nível é o mesmo, são só dialetos diferentes.
Mikannn: É muito de não menosprezar. O público jovem existe, está lá. Sou uma pessoa que fala muito de animação, gosto muito, e esses produtos são feitos, na maior parte, para um público infanto-juvenil. Tem gente que até briga que algo não foi feito para crianças, como os filmes da Pixar, como se animações não pudessem ser vistas por adultos. Acho a coisa mais horrível que se possa dizer, porque um filme tem um público-alvo por questões de marketing, mas um filme é um filme. Tem uma classificação indicativa só para não expor crianças à violência, mas não é que outras pessoas não possam assistir. Quando vou falar de um assunto desses, tento trazer a minha visão e não a de uma criança ou adulto assistindo àquilo, para mim não existe isso, tudo é feito para todos verem, tirando pouquíssimas exceções de filmes para maiores de 18 anos, que a criança não vai ver mesmo. Tirando isso, acho que a gente não tem que colocar barreiras de compreensão. Isso é uma coisa que peguei muito do Hayao Miyazaki, que é um diretor que eu vivo citando, ele fala que a barreira para você sair do filme tem que ser maior do que a que você entrou. Os filmes infantis para ele são isso, você tem que ter uma barreira muito baixa para sair, mas para sair essa barreira não pode ser baixa também. Ele até critica alguns filmes de animação por conta disso, porque ele acha que menosprezam a criança, a capacidade de compreensão, de absorção daquele filme. O conteúdo sobre cinema tem que ser assim também, temos que ser acessível, sempre vamos explicar as coisas, a barreira para entrar tem que ser bem baixo, mas, na minha opinião, tanto o conteúdo que faço no YouTube, quanto o podcast, quero que essa pessoa saia dessa experiência com alguma coisinha a mais, a barreira tem que ser mais alta.
Vocês têm algo mais a dizer para finalizar, algo que não discutimos aqui e queiram complementar?
Mikannn: Estamos muito felizes e orgulhosos no projeto, estamos no segundo lugar e não pensamos que foi algo muito rápido. Pensei que ia começar pequeno e ia crescer ao longo do tempo. É um choque positivo. Estou muito feliz e honrada. E feliz com a confiança da Globo e do público. Espero que continue assim, espero continuar fazendo conteúdo de qualidade com meus amigos.
PH: Queria trazer um bastidor, já que falamos que estamos no top 3, com homens negros. Mas para mim tem outra coisa muito forte que é a questão do meu sotaque, da minha origem. Por muito tempo era uma coisa só, era o Nordeste, eu sou do Nordeste, mas antes disso sou do Ceará, sou de Fortaleza. Só dentro do Ceará existem diversos sotaques, dentro da minha casa existem dois e todo mundo é cearense. No começo das conversas, até falei, que é um auto preconceito que a gente se coloca, logo no começo falei para eles: “vocês têm noção de que tinha gente no começo que achava ruim o meu sotaque”. E eles falaram que era justamente por isso que eles me queriam, e a partir disso se tornou um parque de diversão esse projeto. Para mim é muito importante a gente se misturar, a gente está com uma boa parte do Brasil contemplada aqui, queremos rodar convidados, vamos fechar esse Brasil de ponta a ponta, vamos ter todos os sotaques nesse podcast, todos os gêneros, tudo. Também não dá para viver a arte a partir de um olhar só, é o maior perigo que se tem.
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