27 Agosto 2021 | Renata Vomero
Festival Imersivo das Favelas conecta criadores VR de comunidades indígenas e periféricas
Evento tem início hoje (27) e acontecerá até domingo (29) em formato online e gratuito
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O Festival Imersivo das Favelas (FIF) ganha sua primeira edição com o objetivo de amplificar vozes de artistas e VR filmmakers negros e indígenas de periferias e zonas rurais de todo o Brasil. O evento acontece em formato online e gratuito entre hoje (27) e 29 de agosto.
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Durante todo o mega evento, a proposta é potencializar a atuação revolucionária de jovens inovadores que trabalham com tecnologias sociais, ancestrais, low tech e high tech, a partir das artes visuais e mídias imersivas.
Para tal, foram selecionados jovens de 17 a 30 anos, negros e indígenas de áreas periféricas e rurais do Brasil. Para tal, os selecionados precisam desenvolver trabalhos contemporâneos que remixam artes visuais e tecnologias imersivas, como projeção mapeada, 360º, 3D, programação, animação ou games, levando em consideração a estética afrofuturista.
Pensado primeiramente para acontecer antes da pandemia, o evento acabou ganhando força justamente pensando no alcance que teria se fosse criado para o ambiente digital, embora bastante desafiador, já que essas tecnologias de VR ou XR passam pela experiência física. Então, veio aí o desafio de criar um festival imersivo dentro do ambiente digital.
Com produção e estética afrofuturista da produtora Sete Léguas, em parceria com a escola GatoMÍDIA e Coletivo Papo Reto, os participantes poderão acompanhar talk shows e workshops ao vivo para aprender sobre as diferentes vertentes da realidade virtual, através de uma plataforma digital em 3D e 360°, que simula o contato presencial.
“Queríamos chegar em jovens de favela, então, precisava ser acessível, democrático e online. O processo levou em consideração a realidade socioeconômica, acesso a tecnologia e uma coisa que a gente sabe no Brasil é que as pessoas usam muito o celular. Então, todo o processo foi pensando em como chegar nos jovens e que eles estão dentro dos espaços digitais, estão nas redes sociais e usando a internet pelo telefone”, explicou João Inada, produtor de conteúdo imersivo e um dos idealizadores do Festival Imersivo das Favelas, ao lado de Raull Santiago e Thamyra Thâmara.
Todos os idealizadores são envolvidos com projetos de narrativas imersivas nessas comunidades e são parte da equipe do Na Pele VR, obra principal do festival e primeiro documentário em realidade virtual interativo produzido no Complexo do Alemão, que foi estreado no IDFA - Doc lab Competition for Digital Storytelling 2020 e teve apresentação ilustre no festival South by Southwest, em Austin, no Texas.
Tudo isso ressalta a importância de amplificar as vozes desses criadores espalhados pelo Brasil e mostrar suas visões de mundo por meio dessas tecnologias e narrativas imersivas, que tanto devem ocupar um espaço significativo no futuro do audiovisual.
“A importância é incalculável, primeiro porque a indústria de tecnologia e dos aplicativos, tudo que envolve ciência da computação vem sendo dominada por elites, pela burguesia, Europa e América do Norte. Tudo que é desenvolvido nessas regiões é feito a partir das experiências deles, experiências privilegiadas, de primeiro mundo, a criação dessas soluções geralmente visa os problemas enfrentados por eles, o que deixa margem enorme para os granes problemas enfrentados pelas favelas e periferias. Então, a importância de dar voz, não é nem dar voz, a gente não dá voz, a gente amplifica as vozes, é criar um mundo que, essas pessoas se reconheçam, criar soluções que simbolizem e representem aspectos da vida da periferia e da favela. A importância disso é tirar esse senso de centralidade dessas áreas mais abonadas e trazer para a periferia. Você pensar a periferia como centro, quando você começa a amplificar essas vozes, você começa a criar possíveis futuros”, reforçou Inada.
O evento tem apoio da Fundação Heinrich Böll Brasil e da FordFoudation, que desde o desenvolvimento do documentário no Morro do Alemão ajudam a financiar projetos que saem das periferias. Para complementar a experiência dos participantes, grandes personalidades engajadas em causas sociais confirmaram presença. Entre eles, o DJ Rennan da Penha e o criador da Batekoo Brasil, Mauricio Sacramento. Além disso, também integram o FIF Nina da Hora, referência do afrofuturismo, a ativista e comunicadora indígena Alice Pataxó, curadores de arte e designers da África do Sul e Senegal, como Dan Minkar e Thokozani Madonsela, entre outros convidados.
Em uma das mesas do festival, intitulada “Favela AGORA”, Rennan da Penha, Alice Pataxó, Raull Santiago, junto à multiartista e fundadora do Afrofunk Rio, Taisa Machado, e à comunicadora e ativista Tiê, vão debater as possibilidades de desenvolvimento da arte, a partir das novas tecnologias e os alcances globais que elas têm.
“Esse festival tem como foco essa relação transatlântica entre Brasil e África, as Américas e África. A gente está com uma série de convidados de diferentes países africanos para dialogar com influencers indígenas, desenvolvedores pretos e artistas digitais. A gente está querendo trazer para o centro da discussão o ato de fazer, de criação digital e tudo o que isso engloba, também o papel do jovem preto, indígena, periférico e rural e qual sua visão de mundo, o que querem promover e de onde estão tirando as referências. A gente muitas vezes esquece, falamos de narrativa imersiva como se fosse algo novo, mas longe disso, isso já rola há milênios, acredito até que a forma mais poderosa dela é a oral, não há nada como um grande contador de histórias te trazendo para aquele mundo, ao vivo, apenas com a palavra, o trejeito, com o entregar do discurso”, finalizou o idealizador do FIF.
Todos os detalhes e acesso ao Festival podem ser encontrados no site do projeto.
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