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24 Agosto 2021 | Renata Vomero

"Para mim, o importante é conseguir fazer algo que encontre seu público", exalta cineasta Fabrício Bittar

Com diversos projetos para televisão e streaming, Bittar fala sobre futuro e traz panorama do mercado

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(Foto: Divulgação)

Fabrício Bittar é um nome que tem aparecido na televisão, no streaming e no cinema com certa frequência nos últimos tempos. Responsável por Exterminadores do Além Contra a Loira do Banheiro, de 2018, ele acaba de lançar a sequência do filme em formato de série no SBT; estreou Como Hackear seu Chefe no VOD e agora em streaming e tem a responsabilidade de levar uma releitura de O Sítio do Picapau Amarelo para os cinemas.

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Se somam a estes projetos, o filme Alice no Mundo Internet, Acampamento Intergaláctico e o programa Bugados, sucesso do canal Gloob. Os conteúdos, com exceção de Bugados, produzido pela Floresta, são realizados por sua produtora, a Clube Filmes, pela qual ele sempre busca títulos que prometam um bom entretenimento ao público.

“Tem uma característica básica no meu trabalho, que é que eu tento fazer um audiovisual pop. Essa é a minha meta, fazer algo popular, que as pessoas gostem. Têm diferenças grandes entre eles, claro, mas no geral é engraçado, é para o pessoal curtir. Sofri muita influência do Steven Spielberg, tanto dele como diretor, quanto produtor. Se for olhar, ele faz Tubarão, depois Indiana Jones, depois tem Poltergeist. Então, este é o cinema que me interessa, que é entretenimento e junta uma galera para se divertir”, explicou o cineasta.

Não é diferente do que ele está fazendo agora, com a série Exterminadores do Além, em dez episódios no SBT. Um caminho diferente do que normalmente o audiovisual nacional segue, partindo da televisão para o cinema, mas que parece bastante interessante diante das demandas atuais de mercado e também se comparando com o que acontece bastante nos EUA.

No entanto, a ideia surgiu enquanto o filme estava sendo rodado, pensando que seria uma oportunidade de explorar mais personagens e linguagens do terror na televisão, além, é claro, de conseguir atingir muito mais gente na TV Aberta.

“Fiquei muito feliz com a possibilidade de apresentar Os Exterminadores do Além no SBT, porque a gente fala muito do streaming, que alcança muita gente, mas, no Brasil, nada alcança mais gente do que a TV aberta. Essa sensação de fazer um conteúdo que vai chegar a todos os lugares do país e que muita gente está assistindo de graça, é muito legal”, ressaltou.

Vindo na esteira da produção protagonizada por Danilo Gentili, teve também Como Hackear Seu Chefe, uma produção que usa de filmagens pelo computador para contar a história; e a finalização de dois títulos que usam bastante do universo da internet e cultura pop, algo que também faz parte da assinatura de Bittar, são eles Alice no Mundo da Internet e Acampamento Intergaláctico.

Porém, talvez a produção que tenha mais expectativa ao redor e, portanto, ainda mais visibilidade é De Volta ao Sítio do Picapau Amarelo, que será lançado exclusivamente nos cinemas e que promete uma grande releitura do universo criado por Monteiro Lobato e tão popularizado na televisão. Releitura essa que também não vai deixar de se preocupar com aspectos polêmicos deste universo, como as denúncias de racismo na obra.

“Quero ver um Sítio do Picapau Amarelo com recursos de Hollywood, quero ver da mesma maneira que a gente assiste a Harry Potter. Quero entregar algo grande para essa geração e fazer uma releitura. E quando falo em releitura, falo em todos os sentidos, a discussão sobre o racismo de Monteiro Lobato é extremamente válida, a gente precisa realmente falar sobre isso, precisamos, óbvio, fazer uma releitura sem propagar qualquer tipo de visão racista dele ou de ninguém, mas tenho o pensamento que é o seguinte: acho que a gente precisa se apropriar do que ele escreveu, do que é patrimônio do Brasil e não dele e fazer as pessoas enxergarem por outro olhar”, ressaltou Bittar.

Essa comparação com Harry Potter não vem à toa, nem os títulos de seus filmes e produções, todos tão ligados ao universo de cultura pop e entretenimento, remetendo a grandes blockbusters de Hollywood.

Não poderia ser diferente, sendo o fã de Spielberg que é, muito menos consumindo os clássicos de Hollywood dos anos 1980, tanto filmes de gênero que misturaram ação, aventura, ficção científica e fantasia.

É dessa fonte que vem a vontade de criar algo neste sentido no Brasil, algo que Bittar acredita que faz falta em nossa indústria, por puro preconceito, mas que acredita mais ainda de que tem muito público sedento por histórias deste tipo e que tragam em si a nossa brasilidade.

“O importante para mim é conseguir fazer algo que encontre seu público, minha meta é sempre encontrar um público que está carente ou quer assistir a um tipo de conteúdo”, finalizou.

Confira a entrevista completa:

Como surgiu o projeto de transformar a sequência de Exterminadores do Além em série? Quais foram seus desafios?

Os Exterminadores do Além nasce muito de uma vontade nossa, minha e do Danillo, desde que começamos a trabalhar no Como se Tornar o Pior Aluno da Escola que é essa vontade de trabalhar esse conteúdo de gênero, esse conteúdo pop, a gente já assistia isso quando era criança. Esse tipo de conteúdo funciona muito bem em franquia, porque você cria ali o primeiro personagem, a primeira aventura e aí quer ver mais daquilo. Quando a gente viu que tinha esse potencial, pensamos que dava para fazer mais filmes ou uma série também. Assim que a gente estava fazendo o filme, a gente meio que conseguiu o investimento para fazer a série também, foi junto. Então, desenvolvemos o roteiro um pouco depois do lançamento do longa. Fizemos o filme, vimos que havia o interesse ali por série de televisão, então, já apresentamos o projeto. Estreou na semana passada, acompanhando os comentários no twitter, as pessoas já conhecem os personagens.

A série é procedural, tem um arco, mas o mais importante é o monstro do episódio, que nem tem aquela coisa de série policial ou médica, que tem o caso do dia, no nosso caso, tem o monstro do dia. Em cada episódio Os Exterminadores do Além vão caçar um monstro específico, então, neste sentido, não foi muito diferente. Construímos cada episódio como se fosse um filme, com começo, meio e fim, a estrutura é um pouco parecida. Mas conseguimos desenvolver tipos diferentes de narrativas, porque o longa se tratava da Loira do Banheiro, ali era um tipo de personagem e de filme. Na série conseguimos desenvolver diversos tipos de terror nos episódios.

Você tem dirigido para os mais diversos meios, desde televisão, para o streaming, e tem projetos para o cinema. Como tem sido isso e como você analisa o mercado audiovisual neste momento e neste sentido de pluralidade de telas?

Acho muito legal, porque antes a gente não tinha muita opção, ou a gente trabalhava contratado de uma televisão ou fazia cinema. Vivi um pouco das duas experiências. Agora você tem mais possibilidades, as TVs estão fazendo mais produções independentes, consigo fazer TV sem ser contratado, isso é muito bom. Antes você tinha que fazer filme para o cinema, o que tornava tudo muito mais caro. A vantagem agora, que foi o que aconteceu com Como Hackear Seu Chefe, é que dá para fazer um filme legal, para assistir em casa, com qualidade de cinema, mas pensado para ver em casa, sem todo aquele gasto do lançamento nas telonas, que deixa a produção muito mais cara. Hoje em dia a gente vai ter muito mais chance de ver filmes acontecendo que antes não aconteciam porque não havia a grana para isso.

E as pessoas vão tendo mais acesso ao audiovisual nacional...

Exatamente! Fiquei muito feliz com a possibilidade de apresentar Os Exterminadores do Além no SBT, porque a gente fala muito do streaming, que alcança muita gente, mas, no Brasil, nada alcança mais gente do que a TV aberta. Essa sensação de fazer um conteúdo que vai chegar a todos os lugares do país e que muita gente está assistindo de graça, é muito legal.

Neste período de pandemia, você lançou o filme Como Hackear seu chefe nas plataformas digitais, como foi retratar as relações na pandemia e ainda também lançar o filme dentro do formato que está sendo mais recorrente neste momento?

Tive a ideia de fazer este filme antes da pandemia, quando assisti ao filme Buscando... e achei muito legal, porque pensei que dava para fazer uma comédia incrível neste formato, mas deixei na gaveta. Quando veio a pandemia, fiz um curta de suspense, o Quarentena sem Fim, que era uma coisa bem tensa, mas foi neste formato de tela. Aí, conversando com a distribuidora, eles falaram para a gente fazer um longa de comédia e eu já tinha a ideia. Foi legal, porque não parei, logo depois do curta, fiz dois longas, o Como Hackear Seu Chefe e o Alice no Mundo da Internet, que foi um filme de ação todo feito em croma, em que os atores não se encontraram. Então, teve todo o trabalho de construção de cenário, juntar os atores e será lançado primeiro em VOD e depois para streaming.

Você já tem alguns projetos futuros, entre eles De volta ao Sítio do Picapau Amarelo, como está sendo trabalhar em torno deste universo já tão conhecido dos brasileiros e que já foi bastante trabalhado no audiovisual?

Esse foi um filme que a pandemia impactou um pouco, não vamos filmar enquanto não tiver uma segurança maior. Mas é um projeto que a gente vem desenhando há tanto tempo, com um roteiro muito legal, uma história completamente original, diferente de tudo. É o filme com maior orçamento que a gente já produziu, a gente quer ver no cinema, está sendo pensado para a telona, é uma grande aventura. Agora que ele está voltando, estamos trabalhando no roteiro, escolha de elenco. A ideia é filmar no segundo semestre do ano que vem.

Qual o desafio de tentar trazer um novo olhar para este universo, ainda pensando nas controvérsias que envolvem Monteiro Lobato?

De uma certa maneira, este tempo está sendo muito importante para a gente pensar, escutar todo mundo e entender o que é o melhor a se fazer. Para mim, o importante é a gente fazer uma releitura do sítio, tanto visual, para ver o sítio do ponto de vista cinematográfico mais moderno, porque temos uma visão da série de TV que foi feita antigamente, sem tanta estrutura de efeitos e maquiagem. Quero ver um Sítio do Picapau Amarelo com recursos de Hollywood, quero ver da mesma maneira que a gente assiste a Harry Potter. Quero entregar algo grande para essa geração e fazer uma releitura. E quando falo em releitura, falo em todos os sentidos, a discussão sobre o racismo de Monteiro Lobato é extremamente válida, a gente precisa realmente falar sobre isso, precisamos, óbvio, fazer uma releitura sem propagar qualquer tipo de visão racista dele ou de ninguém, mas tenho o pensamento que é o seguinte: acho que a gente precisa se apropriar do que ele escreveu, do que é patrimônio do Brasil e não dele e fazer as pessoas enxergarem por outro olhar. A Emília é um personagem incrível, se for pensar em uma boneca que questiona e quer saber das coisas, há sempre o incentivo à imaginação. Tem uma coisa muito importante, Monteiro Lobato popularizou a literatura infantil, fez com que crianças gostassem de ler, então, queremos trazer isso. Temos um potencial incrível de conteúdo infantil que é pouco explorado. Tem muita coisa internacional, mas tanta coisa nossa, que é patrimônio do Brasil. Desde que anunciamos este filme, é o projeto que a gente mais recebe e-mail e comentário sobre o lançamento. Praticamente todo dia recebemos mensagem de alguém perguntando algo, é gente querendo fazer parte do elenco também. Grupos de teatro do Brasil inteiro que fazem peças sobre o Sítio querendo contribuir de alguma forma. A gente ainda não divulgou a sinopse, mas o título tem um pouquinho de spoiler, estamos trazendo novos personagens, fazendo uma nova abordagem. É um olhar do futuro baseado no sítio.

Você tem na mão trabalhos voltados para todas as idades, quais são as principais diferenças quando está dirigindo para estes diferentes públicos e o que você mais gosta nestes diversos trabalhos?

Costumo não separar muito por idade, tem uma característica básica no meu trabalho, que é que eu tento fazer um audiovisual pop. Essa é a minha meta, fazer algo popular, que as pessoas gostem. Têm diferenças grandes entre eles, claro, mas no geral é engraçado, é para o pessoal curtir. Sofri muita influência do Steven Spielberg, tanto dele como diretor, quanto produtor. Se for olhar, ele faz Tubarão, depois Indiana Jones, depois tem Poltergeist. Então, este é o cinema que me interessa, que é entretenimento e junta uma galera para se divertir.

Como vê o futuro do cinema, como mercado no geral, a partir deste momento presente?

De uma certa maneira, a pandemia causou algo, que é a gente se preparar mais. Acho que vai ter um boom do audiovisual brasileiro. Cada vez mais a gente vai produzir mais com a nossa identidade, o nosso público gosta de ver o nosso conteúdo, de ver nossos atores. Não é à toa que as novelas fazem muito sucesso, nossos realities e programas também. A gente praticamente não tem formatos enlatados mais na nossa televisão, ela é feita de produção brasileira. Isso vai acontecer nos streamings, essa concorrência é muito boa. A Netflix produziu, mas não tanto quando poderia e agora com tantos outros streamings, vai ter muita produção, estou muito animado. Vivemos um problema sério institucional, com a Ancine parada, que é boa para investir em projetos e produtoras menores que talvez não tenham tanto espaço no streaming, ela é fundamental. Fico feliz de conseguir, mesmo de forma independente, tanto como diretor ou com a Clube Filmes, produzir projetos tão grandes como estamos conseguindo produzir. Espero que isso aconteça para outras produtoras também, que venha mais criatividade. Precisamos resolver essa questão da Ancine, mas do outro lado, com investimento privado e de streamings, acho que isso vai acontecer e vai ser incrível.

E temos muita qualidade em nossas produções também...

Temos muito mais acesso, quando comecei a gente gravava com fita ainda. Era inconcebível fazer cinema se você não tivesse grana. Hoje em dia não, na verdade, você pode fazer um filme com o celular, com webcam, temos muito mais acesso à informação e aos programas. Hoje você vai para as empresas de pós-produção no Canadá e só dá brasileiro, estamos dominando o mercado de pós-produção lá fora. Agora temos que ter escala de produção aqui para que essa galera fique aqui e não vá para lá.

Para finalizar, pensando em tudo isso o que conversamos, o que você tem mais vontade de fazer e produzir no futuro?

Tenho muita vontade de experimentar dentro do cinema de gênero, temos pouco terror e pouco filme de ação. Já provamos que o brasileiro adora filme de ação. Temos que insistir e fazer. A minha ideia é trabalhar em cada vez mais produções que sejam esse cinema de entretenimento, de gênero. Sejam aventuras de fantasia, como é este filme do Sítio, seja um filme de terror ou série, como Os Exterminadores, estou buscando muito isso. Estamos finalizando o Alice que vai ser lançado no começo do ano que vem e estamos finalizando O Acampamento Intergaláctico, que está sendo feito com o Youtuber que faz o Gato Galáctico, é um filme infantil, que envolve aventura, extraterrestres... Eu adoro esse tema! Adoro gênero, adoro brincar com as coisas que assistia quando criança. Fazer cinema para mim é resgatar aquele moleque que ficava assistindo a todo tipo de filme. Ao mesmo tempo, tenho um projeto aqui que é um drama médico super pesado e falaram que é tão diferente de tudo o que eu já fiz. Não quero que me chamem só para comédia porque é algo que eu já fiz, precisamos misturar as coisas, tento ser bem eclético. O importante para mim é conseguir fazer algo que encontre seu público, minha meta é sempre encontrar um público que está carente ou quer assistir a um tipo de conteúdo.

O público está muito a fim e consumindo muito também, cada vez mais. Isso dá mais espaço para criar?

Todo mundo quer assistir a muita coisa, tem muito espaço. Mas também precisa arriscar, as vezes a gente ouve tanta coisa, tantas regras, mas no fim ninguém sabe, não tem uma receita. Tem que fazer e ver no que vai dar.

 

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