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08 Julho 2021 | Renata Vomero

Cineasta Anita Rocha da Silveira volta à Cannes com longa sobre violência nas relações entre mulheres

"Medusa" fará sua estreia mundial no festival em 12 de julho

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(Foto: Divulgação)

Entre os brasileiros selecionados no Festival de Cannes deste ano, está o longa Medusa, de Anita Rocha da Silveira, parte da Quinzena dos Realizadores. O filme terá estreia mundial em 12 de julho e marca o retorno da cineasta ao festival, depois de quase uma década do lançamento de seu curta Os Mortos- Vivos, na mesma seção de Cannes.

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O filme é o segundo longa escrito e dirigido por Anita. Antes dele, ela lançou Mate-me Por Favor, em 2016. A produção passou por importantes eventos de cinema do mundo e foi premiada no Festival de Veneza, na Mostra Orizzonti.

Ambos os títulos mostram a situação de vulnerabilidade feminina em nossa sociedade. Em Medusa, Anita explora o quanto o machismo alimenta a violência na própria relação entre mulheres, por meio de uma rivalidade e imposições de condutas morais impostas a elas.

“A violência entre mulheres – muitas vezes usada como forma de controle - é reiterada constantemente em nossa sociedade e permanece ainda um assunto pouco debatido, pois nos desafia a pensar como a engrenagem do machismo atua também em nós. A partir daí, desenvolvi a protagonista, Mariana, uma jovem mulher que é cúmplice dessa violência, mas também vítima. E alguém que ao longo do filme precisará se reinventar para enfim alcançar a liberdade”, explicou Anita.

Para fazer este retrato, ela foi até o mito de Medusa, parte da mitologia grega, para revisitar a história da criatura colocada em oposição com a deusa Atena. A história ganha uma adaptação para a realidade brasileira atual, por meio da personagem Mariana (Mari Oliveira), uma jovem que pertence a um mundo onde deve se esforçar ao máximo para manter a aparência de uma mulher perfeita. Para não caírem em tentação, ela e suas amigas se esforçam ao máximo para controlar tudo e todas à sua volta. No entanto, essa fiscalização moral acaba esbarrando na própria vontade da personagem de ir em busca de sua liberdade.

“Da junção entre mito e realidade me ocorreu que mesmo com o passar dos séculos, faz parte da construção da nossa civilização as mulheres quererem controlar umas às outras. E que talvez essa seja uma forma de mantermos o controle de nós mesmas. Afinal, crescemos com medo de ceder aos nossos impulsos, e até de sermos consideradas “histéricas”. O controle também passa pela aparência, pela beleza, pois está impregnada em nós a ideia de que este é o nosso principal atributo. Fazemos dietas para chegar ao peso “padrão” e passamos por procedimentos estéticos dolorosos na esperança de sermos jovens para sempre”, reforçou.

Além do próprio mito em si, Anita também se inspirou em alguns clássicos do terror, como Suspíria, de 1977, dirigido por Dario Argento, e que ganhou uma nova versão em 2018 pelas mãos de Luca Guadagnino. Ambos retratam justamente essa violência entre mulheres tendo uma seita de bruxas por trás. Até o mais atual Corra!, de Jordan Peele, também serviu de referência para a cineasta, já que traz um importante retrato da opressão e racismo tendo o terror como pano de fundo.

Somando tudo isso a uma trilha sonora formada por vozes femininas, Anita espera levar muita reflexão ao público e se sente honrara com essa estreia em Cannes.

“É um sonho antigo que se torna realidade. Sinto-me extremamente honrada de estrear Medusa na Quinzena dos Realizadores, nove anos após lançar lá o curta Os mortos-vivos. Após um ano e meio tão difícil e duro para o Brasil e para o mundo, espero com esse filme levar às pessoas reflexões, mas também risadas, tensão, alegria e tesão”, finalizou.

Medusa é uma produção de Vânia Catani, fundadora da Bananeira Filmes, que em seus 20 anos de existência produziu e coproduziu vários curtas e mais de 25 longas-metragens, entre eles o primeiro longa de Anita, Mate-me Por Favor.

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