06 Julho 2021 | Renata Vomero
Spike Lee se posiciona sobre streaming, cinema e política na abertura de Cannes
Festival acontecerá entre hoje (6) e 17 de julho na cidade francesa
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Começou hoje a 74ª edição do Festival de Cannes, primeiro grande evento de cinema a ser realizado presencialmente. Na abertura, como acontece tradicionalmente, houve apresentação do júri, presidido pelo cineasta Spike Lee, e que conta com Kleber Mendonça Filho entre os membros. O júri falou com a imprensa, presente na cerimônia de abertura.
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No dia anterior à abertura do Festival, Thierry Frémaux, diretor do festival, criticou outros festivais por abrirem espaço para o streaming, especialmente a Netflix. Essa é uma polêmica que envolve o evento desde 2018, com a Netflix expandindo sua presença em festivais e premiações, no entanto, Cannes sempre se recusou a abrir espaço para o streaming, inclusive porque os filmes destas plataformas não são exibidos nos cinemas franceses.
Spike Lee, no entanto, se posiciona de forma diferente. Seu último filme, Destacamento Blood, foi lançado exclusivamente pela Netflix em 2020 e conquistou bom reconhecimento da crítica e dos festivais e prêmios que o receberam, embora tenha sido esnobado em alguns deles.
“O cinema e o streaming podem coexistir. Houve um tempo em que se pensava que a TV mataria o cinema. Isso não é novo. É tudo um ciclo”, comentou o cineasta.
Spike Lee já tem uma longa trajetória com o evento, embora esteja presidindo o júri pela primeira vez e é o primeiro negro a fazê-lo. Seus filmes, que tanto retratam o racismo enfrentado pelos negros nos Estados Unidos, se mantém atemporais, mesmo depois de mais de 30 anos de lançamento, caso do icônico Faça a Coisa Certa, que incomodou a imprensa por não vencer o prêmio do Júri no ano em que foi lançado, em 1989.
“Algumas semanas atrás foi o 32º aniversário do filme, o filme foi lançado em 1989. Eu o escrevi em 1988. Quando você vê o irmão Eric Gardner, quando você vê o rei George Floyd assassinado, e você pensa e espera que depois de 30 anos os negros [vão] parar de ser caçados como animais. Portanto, estou feliz por estar aqui”, reforçou Lee.
Como de costume, Cannes foi palco também para discussões políticas, algo que jamais ficaria de fora de uma edição com Lee na presidência do Júri e os membros tão diversificados que o integram, como Maggie Gyllenhaal, Mélanie Laurent, Song Kang-ho, Tahar Rahim, Mati Diop, Jessica Hausner, Mylène Farmer e o cineasta brasileiro Kleber Mendonça Filho.
Um dos jornalistas falou sobre a onda conservadora dos Estados Unidos, que envolve leis anti-LGBTQIA+, movimentos supremacistas brancos, preconceito contra imigrantes, entre outros. O que deu a deixa para Lee se posicionar quanto a alguns líderes mundiais, incluindo, o presidente Jair Bolsonaro.
“Este mundo é comandado por gangsters: o agente Laranja [Donald Trump], tem o cara do Brasil [Jair Bolsonaro] e [Vladimir] Putin. É isso. Eles são gangsteres. Eles não têm moral, nem escrúpulos, esse é o mundo em que vivemos. Temos que falar contra gângsteres como esse", ele ainda passou um recado aos jornalistas presentes: "Faça sua pesquisa. Não se trata apenas de criticar filmes. Você também pode criticar os gangsteres mundiais”, finalizou.
Os selecionados desta edição já foram anunciados, entre os destaques estão Annette, A Crônica Francesa, além da première europeia de Velozes & Furiosos 9. Este foi o ano com o maior número de inscritos e selecionados para o festival.
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