15 Junho 2021 | Renata Vomero
"Nossa missão é criar ilhas de sensibilidade na nossa barbárie", diz Miguel Falabella sobre "Veneza"
Produção estreia nesta quinta-feira (17) nos cinemas do Brasil
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Depois de passar por importantes festivais e acumular prêmios e reconhecimento, chega aos cinemas Veneza (Imagem Filmes), segundo longa de Miguel Falabella, que tinha o profundo desejo de adaptar a peça argentina homônima e estimular as pessoas a desenvolverem a capacidade de sonhar.
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O longa ganhou corpo com a produção Júlio Uchoa (Ananã Produções) e foi coproduzido pela Globo Filmes e FM Produções. Como estrela principal de Veneza está a musa de Pedro Almodóvar, Carmen Maura, que vive Gringa, uma cafetina já no fim da vida que, morando no Brasil, tem o sonho de reencontrar seu grande amor perdido em Veneza.
O longa se passa boa parte no bordel da Gringa, em que trabalham as prostitutas vividas por Dira Paes, Carol Castro, Danielle Winits, entre outras. O elenco ainda é complementado por Eduardo Moscovis, Caio Manhente e Roney Villela. Com exceção da atriz espanhola, elenco e diretor se reuniram com a imprensa nesta manhã para falar sobre o lançamento.
“Quando peguei o texto, entendi que era uma fábula cinematográfica. O sonho é uma coisa que nos emana na América Latina, desde a nossa literatura, a América Latina é muito sonhadora. Para mim as personagens estão ali numa fatia de tempo condenadas a contar aquela história eternamente, explicou Falabella.
E a questão do sonho foi o tema que mais rodeou a conversa, já que o filme traz isso de maneira muito forte em suas personagens, ora quando vão realizar um sonho, ora quando não se sentem na capacidade de fazê-lo.
Desta forma, a equipe entende que não tem momento melhor para o filme chegar aos cinemas, já que representa essa leveza e um estímulo às pessoas sonharem, mesmo em momentos tão difíceis, seja por conta da pandemia, seja por conta da situação em que a cultura no Brasil está inserida no momento.
“Só o Miguel e o Júlio sabem o que fizeram para fazer este filme acontecer, a gente não rouba dinheiro de ninguém, a gente é muito honrado. A gente faz pela gente, mas a gente faz para o público, a gente faz para levar este sopro de possibilidade, de esperança e de beleza”, emocionou-se Eduardo Moscovis. Seu comentário foi complementado por Dira Paes: “Parece que agora a nossa consciência está voltada para defender direitos básicos, como se não pudéssemos sonhar. É uma mensagem para a gente se permitir novamente”.
O longa foi filmado no Uruguai, enfrentou desafios por lá ao fazerem as filmagens em um circo local, que foi destruído por uma tormenta elétrica. Depois disso, o elenco teve três dias para fazer as cenas na cidade do amor.
Toda a correria e as dificuldades foram recompensadas pelo reconhecimento em diversos festivais, como em Gramado, onde o longa levou os Kikitos de melhor direção de arte (Tulé Peake) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro). Também recebeu quatro troféus no Los Angeles Brazilian Film Festival – melhor direção de fotografia (Gustavo Hadba), melhor ator (Eduardo Moscovis), melhor ator coadjuvante (André Mattos) e melhor atriz coadjuvante (Carol Castro), além de melhor roteiro (Miguel Falabella) no Brazilian Film Festival of Miami.
Com uma história que já tinha sua potência nos palcos, Miguel Falabella adaptou o texto para o cinema e ainda acrescentou todo um arco adicional, que envolve os personagens de Carol Castro, Caio Manhente e Roney Villela. Carol e Caio interpretam Madalena e Júlio, que se apaixonam. Júlio, que se identifica como travesti, vive essa liberdade quando está no bordel, levado pelo próprio pai ultraconservador. Neste arco, Falabella consegue levantar a discussão sobre a transfobia, um grande problema no Brasil.
“O Júlio tem uma especificidade porque ele simboliza um sonho de liberdade que representa muita gente que não se sente pertencente, livre para viver como quiser, ainda mais no país mais transfóbico do mundo. Quando fui construir o Júlio, o meu cuidado foi de não tornar ele um garoto amargurado, se a gente vê as cenas com a Carol ele está vivendo ali tudo o que sonhou viver, no filme isso é tolhido dele, o que é uma tristeza, porque jamais deveria acontecer na vida real. Mas representa, infelizmente, a realidade do Brasil”, explicou Caio.
O longa, filmado em 2018, demorou um tempo para conseguir captar seus recursos, muitos negados a Miguel Falabella, por não ser uma comédia popular, gênero ao qual ele acaba sendo bastante relacionado. No entanto, com o recurso em mãos, o cineasta acredita que conseguiu brincar com o lúdico como queria – e conseguia - e, assim, reforçar essa mensagem ao público:
“É bom que as pessoas acreditem em sua capacidade criativa, é ela que vai nos salvar. A necessidade que nos obriga nesses tempos de criar ilhas de sensibilidade na nossa barbárie, é essa a nossa missão. O filme chega num momento que não é o ideal, mas chega num lindo momento apostando na capacidade do sonho, na capacidade da equipe”, finalizou.
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