23 Abril 2021 | Renata Vomero
Dos clássicos aos blockbusters: adaptações literárias estão entre os maiores sucessos do cinema
Maiores franquias cinematográficas nasceram nos livros
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Desde que o cinema é cinema, ele vem bebendo da água da literatura para transformar tantas ricas narrativas em filmes. Enquanto a sétima arte ainda se estruturava, criando formatos de roteiros próprios e profissionalizava seus talentos para escreverem para a área, era natural recorrer a estes escritos para criar as imagens da telona, adaptando-as.
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Não demorou muito para os figurões de Hollywood perceberem que esse era um casamento que dava jogo não só em termos artísticos, mas também comerciais. Se havia a necessidade de encontrar boas histórias para transformá-las em audiovisual, havia também de atrair o público para assisti-las e nada melhor do que trabalhar um conteúdo que já tenha o seu próprio público. E essa é uma dinâmica que persiste até os dias atuais, talvez até mais fortalecida do que antes.
O maior sucesso dos cinemas, um marco histórico da sétima arte e a primeira vez em que a indústria entendeu o significado de blockbuster foi com E o Vento Levou... (1940) que fez uma bilheteria na época de US$400 milhões, valor que se for atualizado para os dias atuais, deixaria qualquer grande franquia para trás. O romance homônimo em que ele foi baseado fez tanto sucesso quanto. Quatro anos antes, ele se tornou o livro mais vendido da história da literatura dos Estados Unidos na época, alcançando 1,5 milhão de vendas nos primeiros seis meses de seu lançamento.
A partir de então grandes sucessos vieram justamente deste casamento do cinema e a literatura, algo que vem beneficiando as duas indústrias mutuamente. A lista é longa e inclui belas obras, como O Morro dos Ventos Uivantes, O Sol é Para Todos, O Exorcista, O Silêncio dos Inocentes, Drácula, Moby Dick, 39 Degraus, Apocalipse Now, O Poderoso Chefão...
Aliás, um dos maiores diretores da história construiu sua talentosa e bem-sucedida carreira com adaptações literárias: Stanley Kubrick, que adaptou e marcou o cinema com O Iluminado, Laranja Mecânica, 2001: Uma Odisséia no Espaço, Lolita... Não é pouca coisa. Por muitos ele é considerado o gênio das adaptações e já desagradou alguns dos autores dessas histórias, entre eles o emblemático Stephen King, talvez também um dos autores mais adaptados para os cinemas da história.
É de King grandes clássicos aterrorizantes das telonas, um gênero que o público ama assistir e que, com King, ganha camadas de terror psicológico, choque e até bom humor. Vem da cabeça dele O Iluminado, Carrie: A Estranha, Cujo, Colheita Maldita, Cemitério Maldito, It: A Coisa, Doutor Sono, Torre Negra e até os grandes dramas Conta Comigo e Um Sonho de Liberdade. Não é pouca coisa, né?
Um estudo britânico publicado em 2018 pela Publishers Associaton concluiu que adaptações cinematográficas tendem a fazer maior bilheteria do que roteiros originais, ora, veja só, até as premiações deixaram uma categoria dedicada à roteiro adaptado, muitos deles de livros. O estudo concluiu que historicamente essas adaptações arrecadaram 53% mais do que os filmes originais.
Com esse dado em mente, não fica difícil prever que algumas das maiores bilheterias do mundo nasceram das páginas dos livros, principalmente, as principais franquias do cinema, muitas delas adaptadas de sagas literárias.
Sim, não tem como não falar de Harry Potter, a saga que inclui sete livros da história original e se mantém nas listas de mais vendidos do mundo, tendo repetido o feito nas telonas. A Warner tomou boa decisão ao investir no mundo criado pela polêmica J.K. Rowling. O encerramento da saga, Harry Potter e as Relíquias da Morte – Parte 2 (2011), rendeu aos cinemas do mundo todo US$1,3 bilhão. Toda a saga garantiu bilheteria, apenas na América do Norte, de US$2,3 bilhões. Os oito filmes da franquia principal geraram bilheteria próxima de US$1 bilhão cada em escala global.
Outro universo da fantasia que rendeu bons frutos aos cinemas foi – e continua sendo – o de O Senhor dos Anéis. A trilogia faturou mais de US$1 bilhão nos cinemas da América do Norte e O Senhor dos Anéis – O Retorno do Rei (2003) garantiu bilheteria global de US$1,1 bilhão. A trilogia do Hobbit foi também muito bem-sucedida, apesar das críticas, e parece que tudo o que chega com o nome do escritor J. R. R. Tolkien, merecidamente, já vem com garantia para o sucesso. A Amazon anunciou em 2017 que criaria uma série baseada no universo do escritor e, nesta semana, foi divulgada a notícia de que a empresa está investindo US$465 milhões só para a primeira temporada. É a série mais cara da história da televisão.
E não vamos ficar de rodeios, porque não tem como ignorar o impacto do universo dos quadrinhos para as bilheterias dos últimos dez anos. Todo o Universo Cinematográfico da Marvel está sendo responsável pelas maiores arrecadações da história, quebrando grandes recordes. Vingadores: Ultimato (2019) faturou US$2,7 bilhões e até pouco tempo era a maior bilheteria da história. Todo este universo já fez quase US$10 bilhões só na América do Norte e não deve parar tão cedo.
Tudo isso nos leva a olhar para o público jovem, grande consumidor de sagas literárias e que vai em peso aos cinemas ver suas adaptações. É na conta deles que entraram os recentes fenômenos das distopias Jogos Vorazes, Divergente e Maze Runner. Também o drama teen A Culpa é das Estrelas (2014), que teve grande sucesso aqui no Brasil, levando mais de 6 milhões de pessoas aos cinemas.
A Netflix compreende muito bem essa força e, conhecendo tão bem o seu público, tratou de levar para seu catálogo a trilogia Para Todos os Garotos, Moxie, Enola Holmes, Pai em Dobro e por aí vai. Inclusive, este último, nacional, vem da escritora que está entre os títulos mais adaptados do Brasil e tem como base justamente este público jovem, Thalita Rebouças, autora de Ela disse, Ele disse, Tudo por Um Pop Star, Fala Sério, Mãe, É Fada e outros grandes hits.
E há também o caminho contrário...Star Wars é um sucesso inegável, nasceu nos cinemas e se tornou uma das sagas cinematográficas mais importantes do mundo. No entanto, nos hiatos entre as trilogias, os fãs do universo de George Lucas criaram histórias literárias para dar maior profundidade aos personagens já conhecidos das telonas e até criando novos deles. Foi então que nasceu o Universo Expandido de Star Wars, que já foi aceito como cânone da saga e até vem sendo usado para a criação das novas produções audiovisuais deste mundo.
Não é raro também ver filmes que ganham opções para serem lidas, seja em forma de roteiro, seja em forma de bastidores, materiais extras, entrevistas, tudo. São dois mundos que andam muito bem juntos, obrigada. E este casamento está bem longe de ter um final, obrigada também.
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