22 Abril 2021 | Renata Vomero

A24: A produtora que virou protagonista dos cinemas

Com foco no cinema independente, a companhia conseguiu se tornar aclamada em todas as pontas do mercado

É impossível falar sobre o cinema hoje, ainda mais quando se trata do mercado independente, sem falar sobre a A24. A produtora e distribuidora estadunidense foi criada em 2012 com o objetivo de dar nova vida ao cinema independente e artístico, mas com uma lógica muito mais próxima das startups do que da maior parte das empresas do meio.

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A ideia foi um acerto, fundada por David Fenkel, John Hodges e David Katz, a A24 começou com a distribuição de alguns filmes menores, entre eles Spring Breakers (2012) e The Bling Ring, de Sofia Coppola. Mas enquanto se fortificava como uma distribuidora - e depois produtora - que dá espaço para os cineastas criarem, ela foi em busca de mais duas frentes que seriam essenciais para seu negócio: modelo de lançamento direto para o consumidor, que logo se consolidaria no streaming, e fortalecimento de sua própria marca.

A produtora passou a lançar seus filmes em festivais de cinema independente (se tornando a queridinha do Sundance e depois do prêmio Spirit Awards), fazendo lançamento limitado nos cinemas e depois fechando parceria com plataformas digitais, entre elas a Amazon.

Com o faro apurado de seus fundadores para boas histórias, sempre prezando por originalidade, logo chegaram para o catálogo da empresa o aclamado A Bruxa (2015), um divisor de águas para a produtora, e Moonlight: Sob a Luz do Luar, responsável por dar à empresa o Oscar de Melhor Filme, em 2017. A partir daí o nome da A24 ganhou uma força absurda e ela se tornou ícone, principalmente entre os jovens, do cinema de terror, drama e amadurecimento.

“Vemos a A24 como uma das mais dinâmicas e criativas forças do mercado independente nos tempos atuais. A empresa tem um track-record impressionante de sucessos e prima pela qualidade, prestígio e inovação, tanto nas suas produções como nas estratégias e campanhas de distribuição de seus títulos no mercado americano. Com títulos como Sob a Pele, O Lagosta, A Bruxa, Moonlight, Projeto Florida, Hereditário, Midsommar, A Despedida e, agora, Minari, em seu incrível currículo, não há como questionar seu faro e bom gosto na seleção de títulos e projetos”, declara Ivan Boeing, diretor geral da Diamond Films Brasil, uma das principais distribuidoras dos títulos da A24 no Brasil, entre eles, o recente Minari, que estreia hoje nos cinemas do Brasil e pode surpreender neste Oscar. Um filme que retrata o sonho americano abalado pelo olhar de uma família sul-coreana.

Sob o nome dela estão os sucessos de Ari Aster, um diretor de terror que preza por sua liberdade artística, liberdade esta oferecida pela A24. Com a produtora, ele lançou os chocantes Hereditário (2018) e Midsommar (2019). Não só ele, foi com a A24 que Greta Gerwig conseguiu sua grande estreia como diretora em Lady Bird, que lhe garantiu indicação ao Oscar. Outro nome forte e autoral da produtora é Robert Eggers, que lançou com eles A Bruxa e O Farol. Com este catálogo, mesmo com títulos tão diversos, a força da criatividade e do cinema impactante e emocionante se tornam o ponto de convergência de todos estes filmes. A assinatura é da A24.

Falando em assinatura, está aí uma conquista da produtora. Para muitos, basta ver o logo da A24 no início de um trailer para ser convencido a assistir ao filme. Essa construção se deu por meio da mentalidade calcada lá no Vale do Silício, focando totalmente no marketing digital, voltado para as redeis sociais e desenvolvido por meio de uma forte base de dados. Não há espaços físicos com publicidade da produtora, desde seu início, mas a internet está cheia deles.

Conhecida entre os jovens, ela tem sido uma das maiores responsáveis a atraí-los para o meio audiovisual. Com tantos títulos, público e boas críticas, o mercado internacional se vê com o radar mais do que atento ao que a A24 está lançando no mercado, confiando no faro da empresa para o sucesso e adquirindo seus títulos para lançar nos mercados de fora dos EUA.

“Juntamente com a Bleecker Street e a IFC, a A24 se consolidou no topo da nova geração de distribuidores independentes nos EUA, onde é reconhecidamente distribuidora de títulos com grande originalidade, sofisticação e apelo de público. Esse benchmarking acaba percolando e chegando aos mercados internacionais, o que naturalmente acaba atraindo a atenção de agentes de vendas, distribuidores internacionais e demais aquisitores de conteúdo audiovisual”, explicou Boeing.

Com esse novo passo rumo ao Oscar e um longo caminho pela frente, a A24 ganhou ainda mais destaque neste ano de pandemia, seja no streaming, seja no cinema, com Minari e First Cow, mostrando que há espaço para originalidade, orçamentos menores e talentos, às vezes, não tão conhecidos. Não é à toa que ela está se tornando a casa favorita dos cineastas e já se prepara para produzir o próximo filme de Darren Aronofsky, reconhecido talento do mercado.

Em menos de dez anos no meio, a trajetória da A24 desponta para ser um dos maiores cases de sucesso da indústria, mostrando que sabe muito bem lidar com um mundo digitalizado e dominado por uma geração tão ligada na internet, mas que não perde a chance de consumir bons conteúdos. Além disso, se mostra como um norte em meio a todas as transformações que o mercado vem sofrendo nos últimos dez anos, acertando nas decisões e mostrando que o faro bom não se limita apenas a boas narrativas do audiovisual, mas mais do que tudo, para os negócios.