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16 Março 2021 | Renata Vomero

Netflix anuncia doação de R$3 milhões a fundo de amparo ao audiovisual negro no Brasil

Auxílio beneficiará 875 profissionais e 275 representantes legais de empresas vocacionais

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(Foto: Netflix)

A Netflix anunciou a doação de R$3 milhões à Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro (APAN) por meio do FAPAN (Fundo de Amparo a Profissionais do Audiovisual Negro). Beneficiando, assim, 875 profissionais autônomos e 275 representantes legais de empresas vocacionais.

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As inscrições para recebimento do fundo estarão abertas a partir do dia 21 de março, Dia Internacional contra a Discriminação Racial. A iniciativa faz parte de um fundo de 150 milhões de dólares da empresa, que foi administrado em mais de 20 países, criado para apoiar aqueles em maior dificuldade no setor de produção audiovisual em países onde a Netflix tem uma grande base de produção.

A nova doação reforça um comprometimento da Netflix em estimular a produção criativa de produtores negros no Brasil. Já no ano passado, a empresa destinou R$2 milhões para os profissionais negros do cinema, o dinheiro foi destinado à APAN, Instituto Querô, Instituto Criar e Instituto Nicho 54 para programas de mentoria, treinamento e capacitação de talentos negros em todo o Brasil. 

O comunicado foi feito junto a uma carta assinada por Rodrigo Antonio, sócio-diretor da APAN, intitulada “Quantas histórias deixam de ser contadas, todos os dias?”. No texto ele reforça a desigualdade racial e social no Brasil, situação agravada pela pandemia, e o quanto isso se reflete em nosso audiovisual. Ele também exalta a importância de iniciativas que visem equilibrar essa balança, ainda mais tendo em vista a pluralidade do país, tão pouco representada nas telas.

“O que estamos passando, hoje, com a pandemia, é muito difícil. E, em momentos como esse, nós, profissionais negros, fazemos o que sempre fizemos: nos reinventamos. Fundos como o FAPAN, apoiados por doações como a da Netflix, como anunciado hoje, são importantes para transformar vidas, apoiando tanto o profissional autônomo quanto os produtores negros. Esses produtores encabeçam as chamadas empresas vocacionadas, dedicadas à produção de conteúdo identitário. Entendem a necessidade de uma transformação na cadeia de produção, que passa desde a criação das nossas narrativas até o acesso e inserção dessas histórias nas mais diferentes telas, para que elas possam circular e dialogar com seus espectadores”, diz trecho do texto, que se encontra na íntegra ao fim desta matéria.

A mensagem de Rodrigo é complementada pelo comunicado da Netflix, que ressalta: “Vidas negras importam e suas histórias também. Esperamos que essas iniciativas - somadas a tantas outras que ainda são necessárias - possam reduzir um pouco as desigualdades e fazer com que essas potências, espalhadas pelo Brasil, se encontrem e ampliem suas vozes. Assim, mais brasileiros também poderão se ver refletidos na tela”.

 

Confira o texto íntegra:

Quantas histórias deixam de ser contadas, todos os dias?

Por Rodrigo Antonio, sócio-diretor da Associação dos Profissionais do Audiovisual Negro

Com toda a sua pluralidade de vozes, rostos e sotaques, abrimos caminho para repensar o audiovisual brasileiro negro. Somos a primeira ou talvez segunda geração de criadores pretos brasileiros que têm a oportunidade de derrubar os muros que nos separam de uma narrativa verdadeiramente plural. Palavras como diversidade e representatividade não dão mais conta da multiplicidade da negritude. Nossas histórias são urgentes, ao passo em que mais pessoas querem se ver refletidas em diferentes telas. 

Como realizador preto e amazônico, reconheço essa responsabilidade de não só consumir, mas produzir conhecimento, em forma de arte. Ao fortalecermos as narrativas negras, passamos de personagens marcados por estereótipos a protagonistas das nossas próprias histórias. Cinema negro não é, nem deve ser tratado como um gênero. É uma revolução. 

A internet potencializou essa conexão entre profissionais negros e apresentou uma nova janela para as nossas narrativas. Na prática, porém, enfrentamos disparidades que são produto de uma discriminação racial que ainda insiste em existir. Há um desnível de profissionalização, principalmente na tríade criativa - roteiristas, produtores e diretores negros - e faltam recursos para que a gente possa realizar. 

No Norte, por exemplo, temos apenas um curso de universidade federal relacionado ao cinema. O Amazonas é o terceiro estado do Brasil com maior demanda de locação internacional, depois do Rio de Janeiro e de São Paulo. Mas são poucas as produções que nascem lá. Então, pergunto: quantas histórias deixam de ser contadas, todos os dias?

O que estamos passando, hoje, com a pandemia, é muito difícil. E, em momentos como esse, nós, profissionais negros, fazemos o que sempre fizemos: nos reinventamos. Fundos como o FAPAN, apoiados por doações como a da Netflix, como anunciado hoje, são importantes para transformar vidas, apoiando tanto o profissional autônomo quanto os produtores negros. Esses produtores encabeçam as chamadas empresas vocacionadas, dedicadas à produção de conteúdo identitário. Entendem a necessidade de uma transformação na cadeia de produção, que passa desde a criação das nossas narrativas até o acesso e inserção dessas histórias nas mais diferentes telas, para que elas possam circular e dialogar com seus espectadores. 

Quando a luz do cinema acende ou quando a gente termina de maratonar uma série, o que reverbera e se transforma de fato em ação? É para isso que essas produtoras independentes existem - e devem continuar existindo.

 

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