08 Março 2021 | Renata Vomero
O Teste de Bechdel e uma forma diferente de analisar filmes
Avaliação foi criada para medir qualidade da representação feminina nas telas
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Você provavelmente já ouviu falar sobre o teste de Bechdel, criado nos anos 1980 pela quadrinista Alison Bechdel. A avaliação mede a qualidade da representação feminina em um filme por meio de três perguntas simples: O filme tem duas ou mais personagens com nomes? Elas conversam entre si? O assunto da conversa é algo que não seja homem ou assuntos relacionados a romances?
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As perguntas são simples, mas os resultados revelam a complexidade da questão, quando, em sua maioria, os filmes são reprovados na avaliação. O que isso quer dizer? Bom, primeiro que com ainda um número inferior de mulheres por trás das câmeras, fica a cargo dos homens tecerem nosso retrato nas telas. Normalmente essa representação é pouco realista e cheia de estereótipos e clichês, já que giram em torno do imaginário masculino acerca das mulheres.
Outro ponto é que esse retrato reforça a imagem que a sociedade criou sobre as mulheres, com um apagamento de: suas motivações, suas personalidades, sua pluralidade e sua complexidade. É como se o mundo feminino girasse ao redor do protagonista ou mocinho daquele filme.
De qualquer maneira, o teste está aí para podermos ter uma ferramenta melhor de análise. No entanto, ele não mede a qualidade de um filme em si, senão não teríamos tantas estatuetas dadas a longas que falham nessa avaliação. Então, o que podemos fazer com ele?
Primeiro de tudo, ele serve sim para trazermos em nosso dia a dia uma reflexão acerca dessas representações. E se, toda vez que você assistisse a um filme, se perguntasse como as mulheres ali foram retratadas? Essas perguntas vão te ajudar a encontrar a resposta e em algum momento esse vai se tornar um questionamento tão natural como: fulano atuou bem? a história foi boa? o roteiro deixou buracos?
Com isso, cresce o nosso senso crítico com relação ao que está sendo lançado e, consequentemente, melhora a qualidade do que passa a ser produzido a partir daí. Não faz sentido histórias serem contadas a partir de um único ponto de vista sempre e totalmente desequilibrado, essas representações superficiais vão perdendo a cor.
E aí uma forma de ajudar o público a naturalizar essa reflexão são justamente selos ou distinções que esses filmes recebem quando trabalham bem essa questão de gênero. Pensando nisso, foi criado o A-Rate, já adotado no Brasil e utilizado pela Spcine, por exemplo, tanto em sua curadoria do SpcinePlay, quanto em seu edital de distribuição, como um dos critérios para escolha dos projetos. O A-Rate é dado quando o filme é aprovado no Teste de Bechdel.
“O selo representa o início de uma conscientização do público em geral sobre a representatividade das mulheres nas obras audiovisuais de ficção. Como são retratadas? Quais seus interesses? O selo foi trazido por uma iniciativa da Debora Ivanov que fez uma dobradinha com o Mulheres do Audiovisual BRASIL que iniciou a implementação de forma voluntária e o Coletivo Elvira foi quem mais auxiliou nesta propagação. Atualmente é usado pela Spcine nos títulos com contratos longos na Spcineplay e no edital de distribuição, como uma pontuação indutora para filmes que passem no teste”, explicou Malu Andrade, fundadore da rede Mulheres do Audiovisual BRASIL, membre do + Mulheres e foi Diretore de Desenvolvimento Econômico e Políticas Audiovisual da Spcine.
Com um sentido semelhante, existe o ReFrame Stamp, que dá este carimbo de igualdade de gênero quando uma produção conta mais mulheres na equipe, o que usualmente se reflete nas telas também. Também temos no Brasil o Selo Elas, da Elo Company, que reconhece suas produções que tenham uma melhor representatividade feminina.
Isso tudo vai gerando um movimento em toda indústria, que está com pavor de ser acusada de machista neste momento crucial e que, mesmo que para muitos possa ter o sentido de ser apenas uma questão comercial (algo estrutural da indústria), vai em busca de conseguir este tipo de reconhecimento e atrair mais público. Afinal, mulheres são quase metade da população mundial, maioria no Brasil, e excluir esse público consumidor das narrativas, não parece o melhor caminho.
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