08 Março 2021 | Renata Vomero
Atuação feminina cresce por trás das telas, mas números ainda são desiguais
Número de diretoras indicadas nesta temporada pode ser histórica
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Desde que Hollywood começou a dar mais atenção às mulheres da indústria, principalmente com o fortalecimento do movimento #MeToo, que apoia essas profissionais, o número de cineastas e, consequentemente, narrativas contadas por mulheres, vêm crescendo ano a ano.
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Apesar deste crescimento animador, os números ainda mostram uma desigualdade, e mais: ainda evidenciam a necessidade de mais iniciativas e políticas públicas que incentivem o trabalho destas cineastas.
Conforme pesquisa divulgada pela Ancine em 2017 e amplamente debatida nas rodas e eventos de discussão sobre o assunto, dos filmes brasileiros lançados em 2016, 19,7% deles foram dirigidos por mulheres e nenhum deles dirigido por uma mulher negra, recorte mais do que importante e urgente de se fazer. Inclusive, porque apenas 2% dos longas lançados no ano foram dirigidos por homens negros.
Esses números vêm aumentando nos anos subsequentes, mas se mantendo dentro desta média. A Ancine - em gestão anterior - veio criando, sob o comando da Débora Ivanov, editais de fomento para ampliar a diversidade entre as profissionais, não só pensando nas mulheres, mas também nas mulheres negras, indígenas e aquelas que produzem de fora do eixo Rio-SP. Algo semelhante vem sendo feito pela Spcine, também, com seus editais de apoio na cidade, dando, assim, continuidade.
Mesmo enfrentando tantas dificuldades, as profissionais conseguem despontar em suas frentes de trabalho. O filme nacional mais visto em nossos cinemas, por exemplo, foi dirigido por uma mulher. Minha Mãe é Uma Peça 3 contou com público de 11, 6 milhões de pessoas e foi comandado por Susana Garcia. Entre as produtoras desta franquia de sucesso, inclusive, está Iafa Britz, uma das grandes produtoras brasileiras. Aliás, quando falamos em produção, o número de mulheres sobe e muito. Foram 46% delas ocupando o cargo de produtora executiva entre os filmes lançados em 2016.
Se estamos falando em bons números, precisamos ressaltar que 2020 contou com número recorde de diretoras entre os cem filmes de maior bilheteria: foram 16% das produções comandadas por mulheres. O destaque ficou com Aves de Rapina, de Cathy Yan, e Mulher-Maravilha 1984, de Patty Jenkins. Aliás, a única mulher a dirigir um filme (neste caso codirigir) com bilheteria de mais de US$1 bilhão, na história, é Jennifer Lee, que dividiu o comando de Frozen 2 com Chris Buck. O filme faturou US$1,4 bilhão.
Tudo indica que o número deve crescer ainda mais em 2021 também por conta do represamento de grandes títulos deixados para este ano, mas também com a virada que está acontecendo, principalmente no Universo Cinematográfico da Marvel, que contará com o lançamento de Viúva Negra, de Cate Shortland, e Os Eternos, com o nome do momento: Chloé Zhao.
A diretora pode aparecer duas vezes nesta lista por conta também de Nomadland, o grande favorito desta temporada de premiações. Com ele, Chloé se tornou a primeira diretora não-branca a levar o Globo de Ouro e a segunda premiada na história do prêmio. Inclusive, foram três mulheres indicadas por seu trabalho na direção, um recorde na história do Globo de Ouro. Foram elas, além de Zhao, Regina King (Uma Noite em Miami) e Emerald Fennell (Bela Vingança).
Parece que, se seguir a tendência da temporada, o Oscar pode ser histórico em termos de inclusão de mulheres em 2021. Começando pela diversidade entre essas mulheres e reforçando a importância da presença delas, historicamente ignoradas.
Em seus 92 anos de prêmio, apenas cinco diretoras foram indicadas por seu trabalho e apenas uma delas levou a estatueta. Foi Kathryn Bigelow, por Guerra ao Terror, em 2010. E diversas incoerências cercam o prêmio quando o assunto é reconhecimento destas profissionais. No ano passado, por exemplo, nenhuma diretora foi indicada, no entanto, Adoráveis Mulheres, de Greta Gerwig, esteve entre os nomeados a Melhor Filme.
Em alguns anos parece haver maior espaço para elas, em outros, menos. Pensando nisso, o próprio Oscar mudou as regras de elegibilidade nas categorias principais para que exista maior diversidade, não só de gênero, mas também étnica, racial e LGBTQIA+. E não só ele, o BAFTA já está colocando em prática regras nesse sentido, e os principais festivais também. O Festival de Berlim, inclusive, eliminou da premiação por atuação a distinção de gênero, tão tradicional no meio. São caminhos utilizados para promover o maior equilíbrio, para que no futuro, regras como essas, casadas com políticas de apoio, talvez não sejam mais necessárias.
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