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12 Fevereiro 2021 | Renata Vomero

Em meio a tantas incertezas, estaria Hollywood prestes a reviver sua Era de Ouro?

Portal Exibidor traçou panorama conectando principal marco do cinema com o período atual

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(Foto: Divulgação)

Impossível falar sobre cinema, que está completando 125 anos de história, sem mencionar um dos períodos mais importantes para sua trajetória, talvez aquele que tenha marcado para sempre como se vê e se faz cinema. Sim, estamos falando sobre a Era de Ouro de Hollywood, que durou entre 1920 e 1960 e tem em aí alguns dos principais títulos da sétima arte.

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Em homenagem à história do cinema, o Telecine preparou um especial justamente sobre a Era de Ouro de Hollywood, com programação no Telecine Cult entre hoje (12) e domingo (14). Entre os filmes exibidos estão Os Dez Mandamentos, Cleópatra, Amor, Sublime Amor, Os Homens Preferem As Loiras, Minha Bela Dama e A Princesa E O Plebeu. O especial faz parte do Festival 125 Anos de Cinema, que está acontecendo desde o ano passado e seguirá até junho no Telecine Cult e streaming do Telecine

“Boa parte do acervo do Telecine Cult já abrangia os filmes da Era de Ouro de Hollywood e seus grandes clássicos. Essa seleção também era refletida no catálogo do nosso streaming. O que fizemos foi dar um recorte maior, buscando mais títulos e, ao mesmo tempo, sendo mais cirúrgicos. A época da Era de Ouro foi muito importante para estabelecer o domínio de Hollywood no cinema como a indústria do entretenimento. Foi o surgimento dos grandes estúdios e estrelas que determinaram padrões, marcam até hoje o nosso imaginário e nos remetem ao glamour e à magia do cinema”, explica Karina Branco, programadora do Telecine Cult, idealizadora e uma das curadoras do Festival 125 anos de Cinema.

Logo depois da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Europa estava devastada, com a produção cinematográfica em queda, dando espaço para os recém inaugurados estúdios estadunidenses, como Universal, Paramount, Fox, Columbia e em seguida Warner, MGM e RKO. Com essa força corporativa, algo que os Estados Unidos entendem muito bem, veio a chance de reerguer a economia do país, que foi abalada pela guerra, junto à moral dos norte-americanos, também enfraquecida.

Bom, o American Way of Life nasce por aí e, até hoje, sentimos o impacto da força cultural de Hollywood no comportamento das pessoas no mundo todo. No entanto, vamos aqui falar sobre outra coisa, naquela época os estúdios se fortaleceram, dominando as produções e as salas de cinemas, das quais eles mesmos eram donos. Isso ficou conhecido como o Sistema de Estúdios, que, além desse domínio industrial, também contava com suas estrelas com contratos exclusivos, entre elas, astros das telonas, diretores, roteiristas e grandes produtores. Foi nesse momento que o mundo ficou fascinado por Judy Garland, Marilyn Monroe, Fred Astaire, Audrey Hepburn, Sophia Loren, Greta Garbo... a lista é longa. São as estrelas de cinema, um conceito que jamais sairia de moda e viraria o sonho de gerações de pessoas.

E não só isso...também foi nesse período que se conheceu o significado de blockbuster, ou os "arrasa quarteirões", até hoje tendo como grande representante ...E o Vento Levou, maior filme da história, com uma estimativa atualizada de US$3,7 bilhões em bilheteria. Se Vingadores e as franquias de super-heróis estão hoje acumulando bilhões, com certeza, a semente foi plantada lá atrás, com essa leva histórica de filmes, entre os mais populares musicais, comédias e os western (ou velho oeste).

Resumindo? É assim que nasce a indústria de Hollywood, não só como mais um segmento lucrativo, mas como uma potência. E não é coincidência estarmos relembrando este período atualmente.

De volta para o presente

Um dos marcos na história do cinema nasceu de uma crise semelhante com a que a indústria está vivendo neste momento, com cinemas fechando, estúdios se virando para entender qual caminho seguir, as estrelas indo para o streaming (lembra dos contratos exclusivos no início de Hollywood?) e os espectadores precisando de boas histórias.

É um momento duro e, com ele, não surpreende que as pessoas estejam voltando os olhares para a Era de Ouro, afinal, podemos revivê-la depois disso, não é? Com grandes produções, estrelas conhecidas mundialmente e um público com muita vontade de voltar ao cinema e consumindo mais audiovisual do que nunca na história, temos aí ingredientes mais do que essenciais para vivermos bons momentos na retomada e nos anos seguintes.

“Reviver a história é sempre importante para entendermos o presente, e com o cinema não seria diferente. Acredito que o cinema não vai acabar, como já li em alguns lugares. A experiência da tela grande ainda é muito forte, principalmente quando falamos dos grandes blockbusters. Acho que uma nova Era de Ouro já estava acontecendo até mesmo antes da pandemia, de certa forma. Nos últimos anos vimos uma quantidade significativa de filmes de heróis serem produzidas em massa e lotando as salas de cinema, algo similar ao que foram os westerns. É também perceptível o apelo nostálgico que a indústria tem oferecido com diversos remakes e reboots de conhecidas histórias e, mesmo assim, atraindo o público. O streaming ganha muito mais força não só pela pandemia, mas pela diversidade que ele oferece, atingindo também um público maior que o do cinema”, completa Karina.

E aí surge um ponto interessante, se no nascimento de Hollywood, o sistema de estúdios incluía dominação na exibição e nos contratos com os talentos, atualmente, a briga se volta para as marcas, os selos e os direitos autorais em torno de títulos e personagens. Mais do que um nome famoso, ter a possibilidade de expandir um universo de franquias cinematográficas não só para as telonas, mas também em séries, derivados, livros, games e produtos licenciados, é a grande jogada dos estúdios para manter os espectadores por perto e sempre consumindo, mesmo quando não há lançamentos no cinema.

Vemos isso com a Disney e suas marcas Marvel e LucasFilm, mais do que bem-sucedidas, sem contar a Pixar. A Warner com a DC, suas franquias de terror e Harry Potter, a Sony com o Homem-Aranha, a Universal com Velozes e Furiosos e 007, e por aí vai. A experiência nunca começa e acaba só dentro do cinema. 

“Os fãs estão lá, escrevendo histórias, criando mídias de fãs, mantendo o interesse nos personagens e no mundo da história para que ainda haja pessoas se engajando com a série, enquanto a franquia pode estar em um período de descanso, até que o estúdio esteja pronto para voltar a este conteúdo novamente. Os principais produtores de mídia passaram a ver o envolvimento dos fãs como a moeda principal que molda o sucesso ou o fracasso de qualquer propriedade de mídia hoje”, explicou Henry Jenkins, especialista em transmídia e cultura de fãs, em entrevista ao Portal Exibidor, quando participou do evento Workshop Internacional Escola de Séries (WIS), em dezembro de 2020.

O cinema ainda é, sim, o ponto central da maior parte dessas histórias e desse novo modelo de negócio. Não é à toa, portanto, que os estúdios apostam tanto em seus produtos na telona. Veja bem, entramos em uma espiral de adiamentos nesta pandemia e as empresas não estão abrindo mão de lançar seus produtos nos cinemas, pois são filmes que vão atrair multidões às salas e fazer girar essa roda de conteúdos e lucros. A indústria merece viver este momento e tem tudo nas mãos para conseguir isso.

Também não vemos como total coincidência o fato de que o filme com o maior número de indicações nas premiações até o momento reviva os bastidores de uma das maiores produções da Era de Ouro. Mank, da Netflix, tem em si tudo o que os cinéfilos precisam neste momento: um diretor com chancela de qualidade (David Fincher), elenco forte (Gary Oldman e Amanda Seyfried) e a história por trás de Cidadão Kane, o símbolo do cinema: revolucionário, ousado e disruptivo. É reviver o passado para mirar no futuro, e que venham mais muitas Eras de Ouro pela frente. Estamos todos prontos.

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