11 Fevereiro 2021 | Fernanda Mendes
Paulo Lui fala sobre obstáculos do setor em 2020 e o que espera para este ano
Executivo acumula 40 anos de experiência no mercado exibidor
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Com 40 anos de experiência no mercado exibidor e com a rede Topázio Cinemas na cidade de Indaiatuba, interior paulista, Paulo Lui, mais conhecido como Paulinho Lui, acredita que o público está ávido em retornar aos cinemas.
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Os cinemas de Paulinho, apesar de estarem em uma praça pequena, sempre foram conhecidos por trazerem projetos inovadores ao mercado como o Assista Mulheres, sessão com filmes protagonizados por mulheres seguidos de debates; o Sessão Cult, com filmes de arte e debates; além de sessões de filmes da Netflix, quando o mercado exibidor ainda relutava contra a gigante de streaming.
Na quarentena do ano passado, a rede mais uma vez se reinventou e também trouxe mais projetos como forma de continuar rentabilizando o cinema, como a venda de pacotes de ingressos para quando os cinemas reabrissem, lives nas redes sociais discutindo filmes de streaming e ainda aderiram ao projeto Cinema Virtual, que oferece salas de exibição virtuais.
Em entrevista especial ao Portal Exibidor, como parte da série Perspectivas 2021, esta figura bastante conhecida no mercado conta suas impressões sobre o momento ímpar em que vivemos na indústria. Entre os assuntos está a repercussão da estreia de Mulher-Maravilha 1984, a volta dos espectadores aos cinemas e as expectativas para a guinada do setor.
Confira!
Quais são as expectativas para o mercado de cinema em 2021?
Devido ao recrudescimento da doença entre o final de 2020 e início de 2021, e esse imbróglio envolvendo a vacinação no Brasil, a retomada do setor - que eu previa acontecer a partir de novembro - deverá se iniciar no final de março, início de abril. Creio que, vencidos os obstáculos da produção e logística das vacinas (graças a Deus o bom senso e pragmatismo estão finalmente fazendo parte do vocabulário das nossas autoridades), teremos um ano de números crescentes, dia após dia. Se ficarmos em 55/60% dos números de 2019, será uma grande vitória. Importante salientar que os novos ventos democráticos nos EUA ajudarão em muito, visto que com o mercado americano “rodando”, com a volta dos grandes lançamentos, o nosso vai a reboque.
2020 foi um ano que pegou todo o mercado de surpresa, como vocês se prepararam e estão se preparando para este ano?
2020 pegou todos os setores de surpresa, sem exceção. Como sempre aprendi, ao longo de quatro décadas de trabalho dedicado ao setor de exibição, é preciso sempre ter previdência e pé no chão, pois nosso negócio é uma “montanha-russa”. Já passamos por grandes turbulências, momentos bem difíceis, claro que nada comparado a esse em que fomos obrigados a suspender atividades. Particularmente nossa empresa estava relativamente alicerçada, porém não esperávamos que o fechamento (e posterior recuperação) demorasse todo esse tempo e, nesse sentido, foram fundamentais os recursos oriundos do FSA para que a empresa continuasse em pé – destacando aqui o ótimo trabalho da Ancine, da Secretaria da Cultura, do Comitê Gestor do FSA, entre outros, que não pouparam esforços para que os mesmos fossem disponibilizados.
Como o consumidor brasileiro deve se comportar com relação ao cinema quando a situação melhorar?
O consumidor já mostrou que está ávido para voltar aos cinemas, desde que tenhamos filmes de forte apelo, conforme Mulher-Maravilha 1984 mostrou. O filme foi lançado e, logo em seguida, a pandemia voltou com tudo; muitas cidades importantes e muitos cinemas ainda fechados; notícias quase - ou mais – tenebrosas quando do pico da doença. E mesmo assim o filme teve (e vem tendo) uma performance, no meu entender, excelente.
Além disso, filmes como Destruição Final, Convenção das Bruxas, Trolls 2, Scooby, fizeram números muito interessantes, mesmo no meio de um cenário ainda de “terra arrasada”. Saliento também que o boca-a-boca dos consumidores que estão indo aos cinemas é extremante positivo quanto às questões de higiene e atendimento total aos protocolos, principalmente no que diz respeito ao distanciamento social. As pessoas perceberam que, das opções de lazer, os cinemas estão no topo do ranking do que diz respeito aos cuidados, o respeito aos protocolos e à segurança.
Quais são seus palpites sobre como será o futuro do cinema e do mercado com relação ao streaming e à janela de exibição entre o cinema e o digital?
O cinema sempre existirá. É clichê, mas a “magia do cinema”, como interação social, lazer e diversão jamais será superada mesmo.
Vamos ter ajustes, claro, próprio da evolução dos negócios do audiovisual, das novas oportunidades que a tecnologia traz. E temos que ter sabedoria para acompanhar isso. Convergência é a palavra!
Porém, faço aqui uma pergunta e uma reflexão, as quais, no meu humilde modo de entender, explicam porque o cinema é insubstituível e extremamente importante para a perenidade do audiovisual como indústria plural, diversificada e capilarizada, para a independência dos pequenos, médios e grandes produtores, diretores e os milhares de profissionais e empresas envolvidos:
"Me deem, de bate pronto, rapidinho, sem pesquisar no Google, o nome de 10 filmes que foram lançados exclusivamente em plataformas de streaming, home vídeo, DVD (o que seja), que foram sucesso de audiência e ficaram eternizados na memória das pessoas até hoje?”
Difícil, não é?...pois bem, no espaço de tempo para formular essa pergunta, já teriam me listado uns vinte lançados em cinema, pelo menos. Portanto, prestem muita atenção: filmes, sem o cinema, com o tempo vão murchando, ficando menores, morrendo; aos poucos, morrendo os filmes, vão se acabando os realizadores, os souvenires, os parques...enfim, a indústria...
E quais são seus palpites sobre como será o futuro do mercado exibidor?
Creio que, em termos de mercado, teremos algumas consolidações num futuro próximo.
Operacionalmente falando, acredito mais do que nunca que os exibidores precisam voltar os seus olhos para o principal motivo de sua existência: o espectador. De nada adianta um cinema altamente tecnológico, moderno, sofisticado, se o fator humano ficar em segundo plano. De nada adianta ter telas gigantes, projeção laser, som hiper-ultra-mega espacial, poltronas que só faltam falar, se o espectador não encontra informações ou a versão que ele quer; se é mal atendido; se a pipoca é amanhecida ou está murcha, se o refrigerante está aguado; se a temperatura do ar-condicionado não está adequada; se a sala e o banheiro estão sujos; se um problema técnico (que pode acontecer) atrasa o início da sessão, ou a interrompe no meio, e ninguém aparece para dar satisfação.
Se a experiência do espectador for ruim, toda tecnologia, toda modernidade e toda sofisticação – que, claro, são importantíssimas e custam caríssimo ao exibidor – deixam de ter importância. E ele, com certeza, pensará duas vezes antes de voltar ao cinema. Que tal também pensar no espectador, algo que não custa muito, não é verdade?
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