01 Janeiro 2021 | Renata Vomero
O que a indústria de cinema pode esperar da administração de Joe Biden
Vitória do democrata é celebrada entre os profissionais do setor nos EUA
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Matéria atualizada em 06/01
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O ano foi cheio de desafios, disso todo mundo sabe, mas somada à pandemia, também assistimos à conturbada corrida eleitoral dos EUA, que culminou com a vitória de Joe Biden e sua vice, Kamala Harris, ambos representando o Partido Democrata. Sua posse, em 20 de janeiro, é rodeada de expectativa, mas parece que tem um setor que está especialmente animado com a vitória dos democratas: a indústria de cinema.
“Os comentários pós-eleição dos principais executivos do setor foram muito positivos em relação a Biden. Richard Bates, vice-presidente sênior de relações governamentais da Disney disse: 'Nós amamos Joe Biden. Nós estamos muito positivos sobre seu suporte à propriedade intelectual e a questões antipirataria’”, explica Felipe Cusnir, presidente do Brazil California Chamber of Commerce (BCCC).
Aliás, essas boas relações devem se estender à Associação Nacional de TV Aberta (NAB), e também as mantidas por Kamala Harris, que atuou durante anos na Califórnia e com um olhar bastante focado à indústria.
Com a mudança na presidência, ficam evidentes alguns pontos que se espera uma melhora ou transformação. Um dos principais deles gira em torno do apoio às empresas do setor, principalmente os cinemas, no pós-pandemia. Seja na liberação de fundos emergenciais e pacotes de auxílio econômico, seja no cuidado mais responsável frente à pandemia, levando esse período com mais seriedade, fazendo, dessa forma, crescer a confiança dos estadunidenses em sua liderança, o que também impacta nos diversos setores da economia.
Uma questão que vem sendo bastante citada nas análises internacionais sobre a relação de Joe Biden com o entretenimento, é a pirataria, ou melhor, as medidas no combate a ela, claro. Durante seu período no governo Obama, o político se aproximou bastante da questão e tomou medidas legais contra isso, deixando claro estar ciente de sua problemática, ainda mais envolvendo empresas tecnológicas. Além de tudo, o democrata entende que esta é uma questão de supra importância econômica para o país, que tem a indústria de Hollywood como uma de suas maiores forças.
Outro ponto muito importante, e este precisamos estar bem atentos, é a reaproximação dos EUA com a China, uma relação totalmente desgastada durante o governo Trump. A atenção aqui é grande porque estamos falando dos dois maiores mercados de cinema do mundo. Com a China abrindo mais espaço para as produções hollywoodianas, o país, então, se torna uma das peças-chave para o desenvolvimento estratégico dos grandes estúdios.
“Espera-se que Biden e Harris invistam na estabilização das relações diplomáticas e comerciais para reverter o cenário atual de ataques, acusações, tarifas e restrições, para atacar desafios como a proteção de propriedade intelectual e o combate a pirataria e estimular maior colaboração e melhor acesso de conteúdo Americano ao mercado Chinês. Biden e Xi Jinping já trabalharam juntos nesse assunto, quando em 2012 co-assinaram um acordo bilateral de comércio para aumentar o acesso ao mercado chinês, e a expectativa é que esse acordo volte a ser colocado em pauta com a nova administração”, enalteceu Cusnir.
Já quando se fala em Brasil, além de os Estados Unidos serem um modelo interessante de se observar, que prioriza uma relação harmoniosa entre os elos do setor e as autoridades, também é possível que a gente atraia mais ainda os olhares de Hollywood, já que, assim como a China, somos um mercado fundamental em termos de consumo de audiovisual.
“Para o Brasil, vemos com bons olhos a combinação da nova administração, das pautas prioritárias do setor, e da taxa de câmbio favorável a exportações e a entrada de investimentos. O mercado consumidor brasileiro continua sendo um grande atrativo, e nota-se um aumento no interesse de estúdios e investidores para acessar e desenvolver o setor no Brasil. Além disso, a aceleração do trabalho remoto devido a pandemia oferece alternativas à cadeia produtiva do audiovisual, aumentando a contratação de profissionais brasileiros e fomentando investimentos em infraestrutura e tecnologia”, detalha o executivo
De olho na política
Uma questão muito interessante apontada pela mídia estadunidense está relacionada aos estados que deram vitória a Biden, especialmente a Georgia, alvo de grandes controvérsias e que não elegia um democrata desde 1992. O ponto é que a região é conhecida como a Hollywood do Sul, onde grandes estúdios contam com espaços para filmagens e que, por consequência, acabou sendo cada vez mais habitada por profissionais da área, tradicionalmente mais progressistas.
Desta forma, essa política de incentivos que acontece por ali e fomenta a indústria pode ter sido fundamental para o resultado dessas eleições, o que definitivamente deve atrair ainda mais o olhar das autoridades para continuarem incentivando e impulsionando mais o setor na região, modificando assim o quadro político, que já foi tão conservador por aqueles lados.
“Sem dúvidas a expansão do setor, com seus sindicatos e funcionários com ampla preferência democrata, e a migração das produções audiovisuais de Hollywood para outros centros de produção nos EUA - como Georgia, Nevada e Pensilvânia com suas agressivas políticas de incentivos fiscais e estímulos financeiros para geração de empregos e atração de mão-de-obra qualificada - ajudaram a influenciar os resultados das eleições presidenciais”, finalizou Felipe.
* Esta matéria foi realizada com base nas análises publicadas pelo Deadline e Variety.
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