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08 Dezembro 2020 | Fernanda Mendes

Talentos de Hollywood alegam que não foram comunicados sobre decisão da WarnerMedia

Em entrevistas à diversos sites americanos, agentes disseram que Warner não negociou com os atores sobre lançamento simultâneo na plataforma HBO Max

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O cineasta Christopher Nolan (Foto: Photo by GP Images - © 2017 GP Images - Image courtesy)

Christopher Nolan é um grande defensor da tela grande e isso não é segredo para ninguém. Aliás, o filme dele, Tenet, foi o primeiro grande título a chegar nos cinemas pós-retomada, arrecadando até o momento US$ 360 milhões no mundo todo.  

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Mas o estúdio com o qual tem parceria de longa data, a Warner Bros., está mudando as estratégias para o próximo ano. Na semana passada o grupo WarnerMedia anunciou que todos seus lançamentos em 2021 terão estreia simultânea em seu serviço de streaming, o HBO Max. A decisão, segundo analistas do mercado, foi motivada por muitos fatores, dentre os principais está a tentativa de fazer uma melhor arrecadação, já que muitos cinemas estão fechados devido ao Covid-19; agradar os acionistas de Wall Street que são “apaixonados” por streaming; além de alavancar a base de assinantes do serviço HBO Max que até o momento tem 8,6 milhões de assinantes, frente aos 73,3 milhões do Disney+ ou os 195 milhões da Netflix.

Mas a decisão não agradou muito aos agentes dos talentos dos filmes e, claro, nem a Nolan. Em entrevista ao ET Online, o diretor disse que a decisão não foi comunicada a ele. “É muito, muito, muito, muito bagunçado. Não é assim que você trata cineastas, estrelas e pessoas que deram muito por esses projetos. Eles mereciam ser consultados e falados sobre o que aconteceria com seus trabalhos”.

O cineasta ainda salientou que em 2021 há grandes projetos no line-up da Warner como Duna, Matrix 4 e Godzilla vs Kong, que estão sendo desenvolvidos há anos e que foram pensados para a experiência na tela grande. “Esses filmes devem ficar disponíveis para o maior público possível, e agora estão sendo usados como um chamariz para o serviço de streaming – para o novo serviço de streaming – sem qualquer consulta”.

Aliás, Nolan não poupou ofensas para a plataforma digital do grupo, categorizando-a como o “pior serviço de streaming”. “Alguns dos maiores cineastas e estrelas de cinema mais importantes de nossa indústria foram para a cama na noite anterior pensando que estavam trabalhando para o maior estúdio de cinema e acordaram para descobrir que estavam trabalhando para o pior serviço de streaming”, disse ao The Hollywood Reporter.

Se de um lado Nolan não ficou feliz por saber que diversos filmes serão vistos na tela do computador, ao invés das telonas do cinema, por outro lado a insatisfação dos agentes de Hollywood se deu pela questão financeira. “Nunca tantas pessoas ficaram chateadas com uma só empresa”, disse um agente ao The Hollywood Reporter. Alguns representantes de talentos também disseram que a decisão afeta não apenas os participantes diretos dos lucros dos filmes, mas também àqueles que trabalharam nas produções, pois a mudança pode afetar os pagamentos residuais. Assim, eles esperam que os sindicatos possam se envolver nessa causa.

A maneira como os estúdios compensam financeiramente atores, diretores, escritores e produtores é negociada filme a filme e pessoa a pessoa. Mas o básico do “pacote” é inicialmente um pagamento pela participação da pessoa no trabalho, e parte das vendas de ingressos depois que o estúdio recuperou seus custos. E agora, como ficaria essa negociação?

Cada filme lançado pela Warner Bros., no próximo ano, ficará disponível no HBO Max por apenas um mês antes de deixar o serviço e seguir para outras plataformas. Segundo o The New York Times, a HBO Max pagará à Warner Bros. uma taxa de licenciamento pelos direitos simultâneos de 31 dias. A taxa será igual à parcela do estúdio nas vendas de ingressos nos cinemas nos Estados Unidos. (A venda de ingressos geralmente é dividida 50-50 entre estúdios e cinemas.)

Além disso, o HBO Max e a Warner também estabeleceram um piso para essa taxa: US$ 10 milhões ou 25% do custo líquido de produção do filme, o que for maior.

Mas ainda assim, de acordo coma matéria do jornal norte-americano, isso não está sendo bem visto pelos agentes dos talentos, que acreditam que a negociação poderia ser melhor e que a WarnerMedia poderia ter conversado com outras plataformas antes de vender os filmes para si mesma.

Ainda, o The New York Times conta que, para evitar que a notícia do lançamento simultâneo se espalhasse e criasse um efeito negativo, a WarnerMedia manteve as principais agências e empresas de gestão de talentos sem saber da decisão até cerca de 90 minutos antes de emitir um comunicado à imprensa.

Como consequência, representantes de grandes estrelas da Warner, como Denzel Washington, Margot Robbie, Will Smith, Keanu Reeves, Hugh Jackman e Angelina Jolie queriam saber por que seus clientes foram tratados de tal maneira. A conversa sobre um boicote da Warner Bros. começou a circular dentro dos sindicatos.

“Por muito tempo, a Warner Bros. foi conhecida como a melhor casa para talentos, e isso tem sido uma vantagem competitiva significativa”, disse Michael Nathanson, fundador da MoffettNathanson, empresa de pesquisa de mídia, em entrevista ao The New York Times. “Com essa mudança, eles alienaram os próprios talentos que trabalharam tanto para atrair”.

Do outro lado, Jason Kilar, chefe executivo da WarnerMedia, disse em uma entrevista por telefone ao jornal que, embora essas mudanças possam ser chocantes para aqueles que esperavam uma coisa para seu filme e agora estão conseguindo algo muito diferente, o objetivo final era honrar as relações de talentos, como o estúdio sempre fez. Aliás, o próprio executivo já salientou que em 2022 o formato tradicional de lançamento será retomado, mas muitos não acreditam que isso possa regredir.

Não só os talentos de Hollywood estão confusos com tais decisões, como outras empresas envolvidas nos filmes. A chinesa Legendary Pictures coproduziu os longas Duna e Godzilla vs Kong, onde foi responsável por 75% dos custos de produção. Nos últimos meses, a Netflix ofereceu à produtora uma grande quantia - pelo menos US$ 250 milhões - para comprar Godzilla vs Kong, mas a Warner bloqueou a venda para a gigante de streaming.

A Aliança dos Cinemas Independentes dos EUA também emitiu um comunicado se mostrando contrária à decisão: “Sejamos claros, é essencial para o sucesso de todo o ecossistema do cinema que os modelos de distribuição híbrida influenciados pela pandemia reflitam adequadamente os termos apropriados para os proprietários de cinemas. Também é imperativo que essas políticas feitas em resposta a uma crise de saúde pública não se reflitam em mudanças de longo prazo nas estratégias de distribuição de filmes de estúdio”.

O serviço HBO Max está programado para ser lançado na América Latina e em partes da Europa no segundo semestre de 2021.

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