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20 Novembro 2020 | André Sturm

Precisamos de uma aliança inédita no setor

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(Foto: Petra Belas Artes)

André Sturm, especial para o Portal Exibidor

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O ANO: Ao pensar no título deste texto, veio “2020 – o ano da peste”. Que ano para esquecer. Não tem aprendizado nem novo normal. Tem sim a lembrança de um ano em que as pessoas sofreram. Ficaram doentes; com medo; perderam entes queridos; perderam empregos e negócios. Em que o pior do ser humano aflorou. O egoísmo, a mesquinhez, o dedo acusatório apontado para o outro.

Nestes momentos, porém, não dá para reclamar e ficar esperando. O Cine Petra Belas Artes foi um dos primeiros a fechar as portas, no dia 17 de março. Salas de cinema têm 80% de seu custo em folha de pagamento e aluguel. Empregam muitas pessoas e ocupam grandes áreas. Ou seja, fechados, o custo permanece muito elevado. Desde o primeiro dia busquei alternativas para manter o cinema e sua equipe. A primeira iniciativa foi uma ação de crowdfunding que resultou um sucesso com mais de 700 pessoas colaborando. Fizemos também um leilão de objetos pessoais de artistas que doaram para apoiar o cinema.

Usamos a linha lançada pelo Governo Federal de financiamento de folha de pagamento. Crédito da Desenvolve São Paulo. Buscando caixa e fôlego. Destaco também a iniciativa da Ancine em criar linhas de apoio às salas, cujos recursos estão chegando agora e foram fundamentais.

Em maio vi uma foto de um drive-in nos Estados Unidos e resolvi tentar fazer um em São Paulo. Seria o Belas Artes a céu aberto. Fomos um dos primeiros a iniciar, numa parceria excelente com o Memorial da América Latina. Com uma programação original e o atendimento da equipe do Belas, foi um sucesso, com 100% de ocupação por semanas. Isso ajudou enormemente, pois tínhamos uma receita e equilibrava o caixa. Sem ter que dispensar colaboradores por “economia”.

Outra iniciativa que estava em curso desde o final do ano passado e que lançamos em 1º de abril foi o nosso streaming. A data terminou sendo perfeita: duas semanas após o início da quarentena, as pessoas presas em casa, uma opção de filmes para quem já não queria as plataformas globais. Decidimos oferecer por um mês gratuitamente. Foi um sucesso maravilhoso. Tivemos mais de 1 milhão de acessos no período. A partir de maio iniciamos a cobrança de mensalidade e o número de assinantes cresce de forma consistente.

Com tudo isso acontecendo percebemos a possibilidade de melhorar e criamos o Belas Artes Grupo, com as operações coordenadas, oferecendo distribuição, exibição, streaming, eventos e vendas de forma vertical, com uma equipe experiente e criativa. Produtores, distribuidores e instituições podem buscar parceria com o Belas Artes Grupo, apto a oferecer toda gama de serviços necessários para potencializar o resultado de filmes e projetos. Promovi Juliana Brito que trabalhava comigo, a Diretora Executiva do Grupo. Jovem e cheia de energia, poderá liderar esta nova fase.

O PRESENTE E O FUTURO: O setor da exibição enfrenta agora o medo do público em retornar às salas. A demora na autorização por parte dos governos criou uma impressão de serem as salas mais perigosas.

Temos que fazer uma campanha forte para mostrar como cinemas são seguros e os protocolos que são seguidos. Existe um risco real de termos uma redução brutal do número de salas no país a partir de janeiro se não houver reversão deste temor. Ao mesmo tempo, faltam títulos fortes. Mas compreendo. Um filme lançado que não conquista público é um filme perdido. Para um produtor que ficou anos trabalhando para chegar ao momento do lançamento é risco demais.

Acho que precisamos de uma aliança inédita no setor. Com a coordenação da SAV (Secretaria de Audiovisual) e Ancine. Tem que ser uma campanha oficial. Com recursos financeiros e humanos. Com médicos e engenheiros gabaritados, e o público que já frequenta os cinemas, dando depoimentos sobre a segurança. E junto à campanha, distribuidores e produtores oferecerem títulos fortes. Assim levaremos as pessoas de volta aos cinemas. Sem salas, não haverá indústria. Cinemas cheios são a locomotiva do setor audiovisual. Não existe lugar do mundo com indústria forte, sem amplo circuito cinematográfico. Escoar os muitos títulos que não puderam estrear é fundamental para o público, salas e para que os mesmos cheguem as demais janelas. Também para a retomada da produção. Precisamos desta aliança entre cinemas, distribuidores, produtores e Governo para a retomada!

O ano está terminando e tenho convicção de que 2021 trará um novo momento, com o bom e velho normal em nossas vidas. A contagem regressiva já começou.

Cinema é a melhor diversão, como já dizia o letreiro das salas da mais antiga empresa cinematográfica do país. Feliz 2021!!

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