13 Maio 2020 | Fernanda Mendes
Paulo Lui acredita no aumento do interesse pelo cinema após a pandemia
Em conversa com o Portal Exibidor, o presidente do Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do Estado de São Paulo falou sobre as perspectivas do mercado
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Desde o começo de março os cinemas do Estado de São Paulo estão fechados por conta da quarentena decretada pelo Governo. Prezando pela saúde e segurança tanto dos funcionários como clientes, os exibidores não estão paralisados totalmente, mas sim, em constante atividade para traçar um plano eficaz de retomada do mercado.
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A ideia é planejar protocolos que possam habilitar o cinema para ser um lugar seguro quando houver a reabertura gradual das atividades econômicas do Estado. Quando isso acontecerá? Ainda é impossível afirmar.
Em entrevista ao Portal Exibidor, Paulo Lui, presidente do SEECESP (Sindicato das Empresas Exibidoras Cinematográficas do Estado de São Paulo), falou sobre o trabalho da entidade junto aos exibidores durante este difícil período. Segundo Lui, o mercado tem vislumbrado cenários que vão desde o otimista, que é reabertura a partir de julho, até o mais conservador, que atrasaria mais um ou dois meses. “De qualquer forma, a discussão e construção das ações são necessárias desde já”, contou.
O calendário de filmes para o segundo semestre do ano também, na visão dele, é fundamental para essa retomada. E a sinalização das datas por parte dos distribuidores é um importante norte para os cinemas. Para o presidente do Sindicato, “se olharmos o calendário, poderemos ver que as promessas para o segundo semestre são muito boas”.
No entanto, há uma dúvida que paira no ar sobre como será o espectador na volta ao cinema, como será o seu consumo? Muitos acreditam que a utilização do streaming durante a quarentena fará com que os hábitos do consumidor mudem drasticamente. Mas, durante a conversa com o Portal Exibidor, Lui não hesitou em dizer que para ele o catálogo diversificado nas mais diversas janelas só tende a despertar ainda mais o interesse do público pelo cinema. “É claro, assim como foi ao longo de seus mais de cem anos de história, o cinema sempre terá que se reinventar através dos tempos. Mas o fascínio e encantamento da sala escura e da tela grande jamais terão substitutos”.
Confira abaixo a entrevista na íntegra:
Revista Exibidor: Como o Sindicato está se mobilizando para auxiliar os exibidores e seus funcionários durante a paralisação das salas?
A partir do fechamento da maioria dos cinemas no Estado de São Paulo, por volta de 19 de março, a primeira providência tomada pelo Sindicato das Empresas Exibidoras foi em relação aos funcionários do setor. Imediatamente contatamos o Sindicato dos Empregados e iniciamos tratativas visando a confecção de uma CCT Emergencial (Convenção Coletiva de Trabalho), a qual foi realizada com muita celeridade, já contemplando as MP’s governamentais pertinentes, atendendo com sucesso aos interesses de todos os envolvidos. O Sindicato também prestou orientação aos exibidores em todas as suas questões particulares, sugerindo soluções acerca das relações de trabalho.
Passada essa fase, nos empenhamos agora, conjuntamente com o governo do Estado, na resolução de outro ponto crucial para o setor, qual seja, a construção de um protocolo de operações a ser implementado para a reabertura das salas.
Paralelamente, mantemos conversações rotineiras com os mais diversos agentes do audiovisual, buscando informações, trocando ideias e sugestões, visando justamente o retorno das atividades. Vale destacar que apoiamos categoricamente as ações propostas pela Ancine, no que tange à liberação dos recursos do auxílio aos exibidores, liberação esta que agora depende da boa vontade de outras esferas federais, às quais a agência nacional de cinema é subordinada.
A flexibilização da quarentena no Estado de São Paulo estava prevista para dia 11 de maio, no entanto, com o aumento da disseminação do vírus, o Governo já afirmou que as cidades com piores taxas de isolamento não entrarão na onda da flexibilização dos comércios. Como os exibidores estão se preparando para uma possível reabertura sem uma data certa?
Independentemente de termos uma data exata para a reabertura, não podemos ficar parados. Neste sentido, continuamos trabalhando, conforme citado acima, junto com os mais variados agentes do mercado, em possíveis e diversificadas ações que poderão ser aplicadas na retomada das atividades.
Na nossa opinião, para qualquer propositura de ações, é preciso ter um horizonte, desde que ele seja minimamente realista. Assim, temos vislumbrado cenários que vão desde o otimista, que é reabertura a partir de julho (e que, neste momento, parece ser o mais provável), até o mais conservador, que seria o retorno postergado por mais um mês ou dois. De qualquer forma, a discussão e construção das ações são necessárias desde já.
Como o calendário de filmes para o segundo semestre pode ajudar a orientar os exibidores?
É importante a sinalização que temos recebido dos distribuidores de que serão mantidos os grandes lançamentos já a partir do final de julho. Se olharmos o calendário, poderemos ver que as promessas para o segundo semestre são muito boas, o que será fundamental na retomada das atividades.
Como você enxerga o futuro no consumo de filmes e onde o cinema se encaixa nesse cenário?
O audiovisual só tende a crescer. O advento de novas formas de fazer filmes, bem como assisti-los, despertará mais e mais interesse no público e, consequentemente, maior consumo. Não é por acaso que, mais do que em qualquer outra época de nossa história, pipocam faculdades e cursos de cinema, de roteiros; abundam sites especializados, feiras gigantescas, etc.
O cinema, pela sua própria grandiosidade, além de ser um espaço de convívio social, educacional e de cidadania, seguirá inigualável como local de consumo de filmes. É claro, assim como foi ao longo de seus mais de cem anos de história, que o mesmo sempre terá que se reinventar através dos tempos.
O fascínio e encantamento da sala escura e da tela grande jamais terão substitutos.
Em quanto tempo você acha que a indústria irá se recuperar por completo (financeiramente e psicologicamente) desta crise?
Caso dependesse apenas da indústria do cinema, não temos dúvidas de que, em pouco mais de seis meses, já estaríamos recuperando os números que vínhamos alcançando.
Porém, essa é uma crise que afetou, globalmente, todos os setores de negócios, sem exceção (alguns podem estar ganhando agora, momentaneamente, porém, à frente, também sentirão os efeitos nocivos do “crash” econômico). Teremos menos investimentos, consequentemente menos empregos, menos dinheiro em circulação e menos consumo, fatores que, sem dúvida nenhuma, atrasarão uma retomada mais rápida.
Além disso o Brasil, particularmente, ainda vivia um momento economicamente delicado antes da chegada dessa pandemia. E, infelizmente, visto o que temos presenciado em nossa política, em especial àquela claudicante dispensada ao setor cultural, ainda nos depararemos com grandes desafios no nosso horizonte, que, não nos restam dúvidas, serão superados em um futuro próximo.
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