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29 Abril 2020 | Fernanda Mendes

Universal fala sobre lançamentos em plataformas digitais e irrita mercado exibidor

CEO da Universal falou sobre o possível lançamento de outros filmes em VOD

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(Foto: Universal)

A estreia de Trolls 2 diretamente nas plataformas digitais, em 10 de abril, não agradou nem um pouco o mercado exibidor.

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A animação da Universal arrecadou US$ 100 milhões após três semanas disponível para aluguel em VOD na América do Norte. O que fez com que o CEO do estúdio, Jeff Shell, comemorasse a vitória em entrevista ao Wall Street Journal. O executivo falou sobre a possibilidade de abandonar a janela de 90 dias entre o lançamento nos cinemas e nas plataformas digitais. “Os resultados de Trolls 2 excederam as nossas expectativas e demonstraram a viabilidade do VOD. Assim que os cinemas reabrirem, esperamos lançar os filmes em ambos os formatos”.

Adam Aron, o executivo da AMC Theatres, uma das maiores redes de cinema do mundo, reagiu à declaração com uma carta direcionada à presidente do Universal Entertainment Group, Donna Langley. “É decepcionante para nós, mas os comentários de Shell sobre as ações e intenções unilaterais da Universal não nos deixaram escolha. Portanto, a AMC não irá mais exibir filmes da Universal em nenhum dos seus cinemas dos EUA, Europa ou Oriente Médio”.

Aron deixou claro que essa decisão se aplicará a qualquer outro estúdio que decida também adotar esse tipo de lançamento simultâneo. No entanto, a intenção é se reunir com a Universal para discutir essa questão. “Na ausência de tais discussões e em uma conclusão aceitável, nossas décadas de atividades comerciais conjuntas incrivelmente bem-sucedidas acabarão tristemente”.

Em uma resposta à Aron, a Universal deixou claro que sempre respeitou a experiência nos cinemas. “Daqui para frente esperamos lançar filmes diretamente para os cinemas, assim como no VOD, quando esse tipo de distribuição fizer sentido. Esperamos ter conversas privadas com outros parceiros nossos de exibição, mas estamos desapontados com essa tentativa aparentemente coordenada da AMC e da NATO de confundir nossa posição e nossas ações”.

A Universal se referiu à declaração da NATO (Associação Nacional dos Proprietários de Cinema) que também falou sobre o assunto: “A Universal não tem motivos para usar essas circunstâncias incomuns como trampolim para contornar lançamentos nos cinemas”, disse John Fithian, CEO da NATO.

Fithian ainda falou que os lançamentos em vídeo estão em declínio, afirmando que as vendas e aluguéis de títulos para consumo doméstico foram de US$ 24,9 bilhões em 2004 para US$ 9,3 bilhões em 2019. “Infelizmente, a Universal teve uma tendência destrutiva de anunciar decisões que afetam seus parceiros exibidores sem realmente consultá-los”.

A UNIC (União Internacional de Cinemas) que representa mais de 38 países na Europa, também se pronunciou sobre o assunto. Com uma carta intitulada “Circunstâncias em torno de Trolls 2 não justificam mudanças no modelo de negócios”, a entidade afirma que o resultado estrondoso da animação em VOD se deve pelo fato de as salas de cinema estarem fechadas e pela população estar bloqueada de fazer qualquer ação por conta do Covid-19. “Não surpreende que muitos tenham recorrido ao VOD e outros serviços similares”.

A carta ainda afirma que o resultado também se deve pelo trabalho de marketing de filme ter sido muito forte pois foi pensando em lançamento para os cinemas, antes da pandemia. “Todo mundo teve que fazer ajustes em suas vidas diárias e isso inclui fãs de cinema. No entanto, isso não deve ser visto como um sinal de mudança de preferências do ponto de vista do público - vale a pena lembrar que 2019 foi um ano recorde para os cinemas em todo o mundo”.

O analista sênior da Comscore, Paul Degarabedian, acredita que seja equivocado achar que no futuro será um padrão o lançamento de filmes pulando a janela do cinema. “Reflete um mal-entendido da importância da experiência no cinema em termos de lucro potencial, prestígio e conveniência que um lançamento em tela grande traz”.

Já o analista da LightShed, Rich Greenfield, tomou partido da Universal e escreveu em seu Twitter que a indústria do cinema “acabou de acabar com o próprio futuro”.

Greenfield ainda ironizou sobre a situação financeira da AMC Theatres, que é alvo de especulações sobre um possível pedido de falência.  “A parte engraçada é que nenhum filme será lançado nos cinemas antes que AMC Theatres protocole o pedido de falência”.

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