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03 Abril 2020 | Fernanda Mendes

Com produções paralisadas, setor se une para exigir mais organização do Governo

Reuniões começam a surgir, mas ainda nenhum dinheiro foi liberado

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(Foto: Divulgação)

Infelizmente, é quase sempre assim, os produtores estão acostumados a viverem sempre no limite, com falta de recursos e com a incerteza sempre quando há troca de governo. E, de dois anos para cá, estão se reinventando a cada instante para continuarem exercendo a atividade.

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Muito porque o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) não é liberado desde 2018, acumulando R$ 700 milhões parados. Sem contar a descontinuidade de alguns avanços que estavam sendo pautados pelo extinto Ministério da Cultura e, então, a completa ruptura do mesmo com a chegada do governo de Jair Bolsonaro. 

“O cenário é super catastrófico para a indústria como um todo. E isso é um microcosmo do que está acontecendo no país”, opinou Iafa Britz, produtora de longas de sucessos como Minha Mãe é uma Peça e Se Eu Fosse Você 1 e 2. A sua produtora, Midgal Filmes, teve a paralisação de dois novos filmes por conta da quarentena.

É claro que não há condições de voltar a filmar neste período, pela segurança e saúde de todos. Mas, a liberação desses recursos do fundo poderia ajudar no fluxo de caixa das produtoras para não demitirem seus funcionários ou, até, para não fecharem suas portas.

É a mesma situação de Diane Maia e Joana Mariani, sócias da Mar Filmes, que estão em período de pré-produção de um filme musical. Na quarentena, não pararam totalmente, estão fazendo reuniões via Skype com os atores, preparação corporal, adiantando figurino, trilha sonora e coisas mais burocráticas. Por isso mesmo, junto com outros produtores, chegaram à conclusão de que “pudesse surgir uma linha que considerasse as produções em curso e que estão pausadas. Em que todos os projetos que estão em execução tivessem um aumento da taxa de gerenciamento, com depósito imediato de 25% dos recursos captados. Se o FSA olhasse as obras paradas, poderia compensar equipes autônomas e toda a cadeia que tem ligação com essas filmagens”, explicou Diane.

As entidades representativas do setor estão se mobilizando – e muito! – para exigir uma reunião urgente do comitê gestor do FSA para que retomem as medidas que possam ajudar o desenvolvimento do setor. A reunião ainda não aconteceu, mas a diretoria colegiada da Ancine aprovou, nesta semana, a criação de uma força-tarefa para dar conta das análises orçamentárias de projetos audiovisuais. O objetivo do grupo é dar seguimento à aplicação dos recursos do FSA, mesmo com a capacidade de operação reduzida da agência em tempos de isolamento social.

Também foi recriado um grupo de trabalho para propor soluções tecnológicas e operacionais para sanear o alto passivo de projetos pendentes de análise na agência acumulado há anos.

A agência também decidiu flexibilizar os critérios econômicos e os procedimentos administrativos para a análise prioritária de projetos audiovisuais. Além disso, também suspenderam a portaria de outubro do ano passado que estabelecia a necessidade de ter 80% de recursos captados para liberação de verba incentivada da Ancine. Durante esse período de paralisações da quarentena, passa a valer a regra anterior em que bastava ter apenas 50% dos recursos captados.

A diretoria também determinou que os projetos que terminaram a fase de produção possam movimentar todos os recursos autorizados pela agência, já que a fase de pós-produção pode ser feita durante a pandemia.

Em entrevista ao Portal Exibidor, o presidente do Sicav (Sindicato da Indústria Audiovisual), Leonardo Edde, reforçou que precisa haver uma melhor organização na estrutura governamental para que a cadeia de decisões volte a funcionar. Hoje, a indústria do audiovisual depende do Ministério do Turismo, Ministério da Cidadania, Secretaria Especial de Cultura, ANCINE, Conselho Superior de Cinema e do Comitê Gestor do Fundo Setorial. “O Governo Federal precisa estabelecer onde a cultura está, se no Ministério do Turismo ou da Cidadania”.

Edde também reforça a necessidade da reunião do Comitê Gestor. “Principalmente porque existem etapas que podem ser feitas durante o isolamento social como desenvolvimento de roteiros, pesquisa, montagem e finalização, mantendo a cadeia produtiva do audiovisual viva. Se não alavancarmos isso e nada acontecer até o final dessa tormenta vamos ficar mais um ano em uma crise sem precedentes no audiovisual”.

Os próximos passos do governo ainda são incertos, mas a união de todas as frentes do setor tem que estar mais forte do que nunca. “É hora do setor falar enquanto setor, o que sempre foi a nossa dificuldade. A gente fala de vários setores dentro do nosso setor. Só vamos sair dessa em união e esforços conjuntos”, explica Iafa.

O Sicav, por exemplo, está se articulando com mais 40 entidades para falar em nome não só da área criativa, mas também do lado dos exibidores e distribuidores. Edde explicou que estão tentando uma solução para ajudar os proprietários dos cinemas que estão desesperados, sem receita alguma. “Seguimos discutindo para entender como o audiovisual pode superar essa crise”.

Com certeza, a indústria como um todo não sairá igual dessa crise, muitas mudanças acontecerão. Como as de janela de exibição. É claro que o cinema ainda é uma vitrine extremamente importante para as produções, mas Diane coloca uma reflexão: “Nessa crise, observamos que em algumas etapas do nosso trabalho dá para fazer diferente. Isso também tem demonstrado a quantidade de filmes lançados no cinema. Podemos aceitar e sermos criativos nas novas janelas. Fiquemos muito atentos e fiquemos ligados nisso que está rolando”.

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