19 Fevereiro 2020 | Renata Vomero
É preciso falar sobre o cinema sul-coreano
Mostra do CCSP traz um apanhado dos maiores blockbusters do país
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Impossível não falar sobre o cinema sul-coreano atualmente, aliás, demoramos demais para falar sobre ele. Depois da vitória de Parasita (Alpha/Pandora) no Oscar 2020, o mundo finalmente voltou seu olhar para o que está sendo produzido no país asiático. Em uma excelente hora, aliás, o CCSP (Centro Cultural São Paulo) da Vergueiro, em São Paulo, abriu a mostra Made in Korea com um apanhado de alguns dos maiores filmes sul-coreanos. As entradas são gratuitas e algumas sessões não estão comportando o número de pessoas que está indo conferir esses filmes.
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Com a visibilidade de Parasita, a mídia passou a falar mais sobre o país e, principalmente, sobre suas leis de incentivo à cultura, que são bastante consolidadas (basta prestar atenção no fenômeno do k-pop, que tem até uma pasta separada dentro do Ministério da Cultura). Atualmente, o governo investe quase R$ 7 bilhões em cultura, uma política que começou no fim dos anos 1990 e vem colhendo seus frutos nos últimos vinte anos.
Claro que isso tudo se reflete no cinema, nos últimos anos não foram poucos os filmes que despontaram nos festivais internacionais. O principal deles foi Old Boy, que venceu o prêmio Grand Prix de Cannes em 2004.
“Essas políticas de incentivo foram muito fortes no início dos anos 2000 o que permitiu que diretores como Park Chan-wook e Bong Joon-Ho crescessem no meio cinematográfico. Os filmes não só rendiam, pois tinham a garantia de serem exibidos nas salas de cinema sul-coreanas, mas como também conquistaram grandes festivais internacionais. O cinema sul-coreano só ganhou destaque esse ano nos Estados Unidos, mas já é valorizado no restante do mundo há muito tempo. Old Boy e Parasita foram vencedores em Cannes no ano em que concorreram, e são filmes extremamente originais pertos de uma Hollywood desgastada, aliás a maioria dos filmes selecionados concorreram em alguma categoria em Cannes”, comentaram os curadores da mostra, Carlos Gabriel Pegoraro e Célio Franceschet.
Parte desse sucesso se dá pela originalidade da produção audiovisual feita no país, algo que a própria indústria de Hollywood vem sentindo carência atualmente. O que justifica - e muito - o grande prêmio dado a Parasita neste ano, um filme que fala sobre a desigualdade no país, mas que encontra ressonância em todos os cidadãos que vivem na sociedade capitalista.
Sobre as particularidades dessas produções, os curadores da Mostra enfatizam a liberdade de brincar com os gêneros. “Existe uma leveza no trabalho com o cinema de gênero. Diferente do cinema ocidental eles conseguem trabalhar com thriller, comédia e ação em um mesmo filme, se tornando um gênero híbrido. Vale ressaltar que a maioria dos filmes são marcados pela violência, que se trata de uma resposta histórica do envolvimento do país em guerras e invasões”, explicam. Desta maneira, claro, o cinema ocidental está sempre de olho no que vem sendo produzido no oriente, com diversas referências em Hollywood ao cinema sul-coreano, e a indústria de Los Angeles também buscando nessas histórias alimento para as suas próprias, com fortes investimentos em remakes.
Fato a ser comentado também é a política de incentivo ao cinema do país, hoje em dia 50% das salas nos cinemas sul-coreanos passam produções nacionais. Com todas essas políticas de incentivo à cultura, o crescimento do parque exibidor também foi bastante expressivo, parte por conta da rede local CJ CGV, que hoje tem 50% do mercado. O país tem 51 milhões de habitantes e 2.400 salas (comparativamente, o Brasil tem cerca de 210 milhões de habitantes e 3.400 salas de cinema). Desta forma, o número de vezes que um sul-coreano vai ao cinema é 4 vezes ao ano, nos anos 1990 esse valor era de 0.9. Desta forma, a Coreia do Sul representa a quinta maior bilheteria global.
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