16 Outubro 2019 | Renata Vomero
Spoiler: O impacto dessa prática no dia a dia do mercado
Conheça as iniciativas dos players da indústria para driblar ou se apropriar do spoiler
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Atire a primeira pedra quem nunca correu de um spoiler. Atire mais uma quem nunca deu um spoiler também. A prática se tornou ponto central no meio do entretenimento e passou a impactar tanto espectadores, quanto os players do mercado. Afinal, imagina ver seu lançamento ser estragado (ou do inglês to spoil, de onde vem o nome dessa prática) pouco antes de chegar ao público?
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“É verdade que os spoilers, como a própria origem da palavra significa, estraga a surpresa de uma obra cinematográfica. No entanto, não existe um estudo de quanto impacta o mercado, mas logicamente acaba tirando público do cinema, pois ninguém quer saber o final ou algo imprescindível da história antes de vê-la”, explicou Humberto Neiva, coordenador do curso de cinema da FAAP e programador no Espaço Itaú.
Obviamente que com a possibilidade de perder público, as distribuidoras estão precisando se manter cada vez mais atentas e ativas quanto a possibilidade do spoiler prejudicar a vida de uma produção no cinema. “Os filmes costumam vir fechados (com kdm), não trabalhamos com links, dependendo do grau de sigilo aplicamos embargo antes da exibição e, se necessário, nos comunicamos com o público final por meio das redes sociais ou diretamente no PDV. Somado a essas iniciativas, ainda contamos com um eficaz controle antipirataria”, comentou a Paris Filmes por meio de sua assessoria da imprensa.
Ação de suma importância nessa questão é a observação constante de possíveis vazamentos nas redes sociais. Atualmente existem muitas ferramentas e sistemas que fazem monitoramento de palavras-chave. Segundo Thiago Costa, coordenador do curso de pós-graduação em Comunicação e Marketing Digital da FAAP, o importante é procurar não só a hashtag, mas as conversas, aquilo que está sendo dito sobre o assunto, "e isso é muito mais difícil", comenta. "Pode ser que a palavra signifique outras coisas, então, só o sistema sozinho não vai fazer isso, é preciso do olhar humano para identificar essas coisas e até mesmo intervir. Por exemplo, se a gente encontra um perfil que está soltando spoiler, então, o estúdio pode entrar em contato com essa pessoa e pedir para ela não fazer, pois está estragando a experiência das outras pessoas. Normalmente o fã vai se sentir muito agradado com isso, a comunidade de fãs se sente extremamente beneficiada quando aqueles que constroem o seu objeto de adoração entram em contato com ele”, complementou
A questão do fã é um pouco delicada, já que estes se juntam em comunidades para discutir o produto que gostam e, com isso, acabam soltando spoilers e outros detalhes dessas narrativas. Para Thiago, isso acontece porque as pessoas querem provar serem mais fãs do que as outras, com mais conhecimento do que o outro, e por isso buscam mais e dão spoiler para mostrar que sabem mais do que os outros. "Tem caso de gente que contratou helicóptero para sobrevoar set de filmagem. As redes sociais são o espaço onde isso vai ser escoado, então, não tem muito como fugir uma vez que a história vaze”. Por conta disso, os estúdios fazem malabarismos para impedirem que as histórias saiam do set de filmagens, fazendo contratos de sigilo com membros do elenco e equipe e encontrando caminhos para despistar onde a filmagem está sendo feita, além de trailers e roteiros falsos.
Até a imprensa está dançando conforme a música e passou a avisar o público com o já conhecido “Alerta de Spoiler” para evitar estragar as histórias em seus comentários e críticas nos veículos e redes. “Mediante a realização de cabines de imprensa e eventos para o mercado, solicitamos a colaboração dos envolvidos, para evitar que façam uso de spoilers para divulgar os filmes. Sempre orientamos os principais formadores de opinião e parceiros de mercado a trabalhar os lançamentos de forma construtiva para não comprometer a experiência do público dentro das salas de cinema”, explica a Paris Filmes, que está lançando em dezembro deste ano o filme Entre Facas e Segredos, cujo grande mote é a descoberta do assassino do patriarca de uma família. A questão aí começa a ficar mais quente já que a possibilidade do mistério ou um plot-twist pode ser um grande atrativo para o público. “O ‘segredo’ e o ‘mistério’ costumam impactar positivamente as ações de lançamento, pois potencializam o buzz em torno da produção. Tal qual o filme Entre Facas e Segredos, a campanha está envolta em mistérios. Vemos com bons olhos quando há uma percepção da audiência e eventual interesse sobre as questões relacionadas ao filme. Neste cenário, observamos que o público fortalece a semana de abertura”, afirma a distribuidora.
A possibilidade de um vazamento de spoiler, então, pode começar a ser uma maneira de levar o público ao cinema, já que se sentem atraídos pela descoberta de algo estarrecedor dessa história e não querem ter essa experiência estragada. “Do ponto de vista de marketing, entendo que construir essa sensação de que algo grande vai acontecer, desde o trailer até a divulgação, é o caminho. Contar partes da narrativa ou, até mesmo, levar o espectador a caminhos que são falsos. Existem casos de filmes que usam cenas no trailer que não entram no corte final do filme e que são usadas como desvio, os estúdios gostam de chamar isso de misdirection. É um truque de mágica, né? O mágico balança as coisas na mão esquerda para chamar a atenção para ali, para fazer o truque com a mão direita”, comenta Costa.
Um caso recente foi o que aconteceu neste ano com Vingadores: Ultimato (Disney). Pouco tempo antes do aguardado filme estrear, algumas cenas foram vazadas na internet, o que levou parte do público a descobrir o que aconteceria no desfecho da saga que começou a ser construída em 2008. Com a possibilidade de deixar a experiência dos fãs menos excitante ao descobrir o fim de importantes personagens, os diretores da produção, Anthony Russo e Joe Russo, divulgaram uma carta pedindo que as pessoas não estragassem o filme para os fãs que estavam esperando para ver o longa nos cinemas. “Essa sinceridade, esse pedido bem explicito e direto, é um caminho que pode ajudar nesse processo. Quando a gente tem filmes que tem alguma coisa que pode ser estragada pelo que as pessoas vão comentar, acho que é super válido fazer isso”, acrescenta Costa.
Para Neiva, a primeira semana de um filme é determinante para sua continuidade na exibição e por isso é necessário guardar todos os segredos da obra cinematográfica, pois o impacto negativo será maior na segunda semana, caso haja um grande spoiler. Inclusive, o último filme de Vingadores levou espectadores do mundo todo a brigas dentro do cinema por vazamento de informações relacionadas a trama. Muitos que saíam da sessão comentando o filme eram alvo de críticas por outros espectadores, o que levou até a agressões.
Ainda, para o especialista, o caso de Vingadores também trouxe o olhar para um dos maiores vilões do cinema: a pirataria. “A prevenção está na extinção da pirataria, mas sabemos o quanto esse problema, no Brasil e no mundo, cresce”.
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