12 Setembro 2019 | Renata Vomero

"As autoridades já entenderam que o nosso audiovisual é estratégico", diz Laís Bodanzky

Profissionais do mercado debatem futuro do audiovisual em evento na FAAP

Na manhã desta quinta-feira (12/09), aconteceu, em São Paulo (SP), na Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o evento “O fim da estabilidade: você está preparado para viver essa mudança?", realizado pela Revista Trip e que teve como objetivo levantar o debate com os alunos sobre o futuro do mercado de trabalho em diversas áreas. Entre as mesas de discussão, uma delas abordou o audiovisual. Intitulado “De onde vem e para onde vai o audiovisual brasileiro?”, o painel contou com Laís Bodanzky, Caio Gullane e Martha Nowill e foi mediado por Marina Person, todos ex-alunos da universidade e profissionais com visibilidade no mercado.

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Com bastante participação da plateia, o encontro debateu tanto o futuro do audiovisual, focando na área de produção, quanto o presente, que ainda se mostra incerto. Enfatizando a necessidade de diálogo entre os profissionais, os convidados destacaram a importância dos produtores colocarem a mão na massa para tirarem seus projetos do papel. “Entendi cedo que precisava galgar esse lugar e contar as minhas próprias histórias. Hoje, no entanto, as oportunidades estão bem melhores, principalmente para as mulheres, que agora têm espaço nas telas e foras delas”, comentou Martha Nowill, atriz e produtora.

A conversa rapidamente entrou na questão política, principalmente, dada a recente notícia de que parte do orçamento do Fundo Setorial do Audiovisual será cortado em 2020. “É muito difícil trabalhar dependendo de governos que mudam a cada quatro anos, em cada eleição nós do setor ficamos apreensivos. Agora, mais do que nunca, parece que existe uma força governamental que não quer que a Ancine cumpra seu papel. Somos o 4º maior mercado consumidor do mundo e estão negociando nosso audiovisual com o Donald Trump, porque ele é um produto rentável, assim como aquilo que plantamos. Mas precisamos usar a constituição a nosso favor, pois não é tão simples assim fechar uma Ancine. Mas percebemos agora, com toda essa crise, que o setor se acomodou com a criação da Ancine, porque aí tinha um órgão que regulava tudo, então, o setor ficou desorganizado sem ela”, explicou Laís Bodanzky, cineasta e diretora-presidente da Spcine.

Sobre a questão da prestação de contas da agência reguladora, o grupo de profissionais destacou que esta é uma questão histórica, que veio antes mesmo da Ancine e que tem outros impedimentos burocráticos para funcionar melhor. Ainda mais, os produtores presentes destacaram o crescimento da produção nacional, tornando-se 13% do conteúdo da TV à cabo atualmente. “Compreendo que a situação é mais complexa, mas digo que temos que aprimorar sempre, não podemos esquecer que estamos no Brasil, onde tudo opera de forma bastante lenta. Se a Ancine é assim, imagine os outros órgãos”, afirmou Caio Gullane.

O sócio da Gullane Entretenimento, então, comentou qual a estratégia da companhia frente às dificuldades da indústria. “Pensamos em trabalhar sempre com propriedades intelectuais, a partir disso pensamos em termos estratégicos como vamos trabalhar esses produtos, seja para o cinema, seja para o mercado internacional de festivais, ou até mesmo a televisão. Nós sempre buscamos diversificar e foi por isso que não fechamos, pelo contrário, estamos crescendo”, explicou o produtor.

Gullane ressaltou também o quanto o Brasil é uma força ainda a ser explorada estrategicamente pelos novos players do mercado, com isso, os investimentos em produções nacionais devem crescer cada vez mais, no que foi complementado por Bodanzky: “O futuro depende muito de a gente dialogar, temos que dialogar e defender a nossa identidade, que é muito importante e forte. As autoridades já entenderam que o nosso audiovisual é estratégico, resta saber qual vai ser a estratégia adotada. Porque o que queremos é fortalecer e incentivar a nossa produção nacional e independente”, explicou.

Outro destaque na conversa, foram as possibilidades de produção para o futuro, entre elas, as coproduções, um modelo muito bem utilizado na Europa e que pode servir de exemplo para o Brasil. “Sempre gostamos muito de interagir com outras culturas, então, utilizamos muito esse modelo de coprodução, boa parte de nossos filmes nas premiações adotam esse formato. É um conceito muito saudável”, comentou Gullane.

Logo o assunto entrou na Film Commission, tendo a presença de Bodanzky, diretora-presidente da Spcine, que cuida da Film Commission de São Paulo. “O setor audiovisual brasileiro não pode só viver da prestação de serviço. Quando aparece um filme que é produzido em São Paulo, isso traz muito retorno também para o turismo. Isso é política pública de cinema”, afirmou e logo foi complementada por Marina Person: “A indústria hollywoodiana trabalha muito bem isso, porque eles sabem que não estão só comercializando o ingresso do cinema, estão também mostrando um estilo de vida, uma roupa, um móvel, coisas que as pessoas vão querer consumir depois. Não é à toa que o mundo é americanizado”.

Sobre o streaming, o grupo enfatizou a importância de ter a produção brasileira independente dentro dessas plataformas, no entanto, para eles, é preciso haver uma regulamentação quanto a esses serviços e levar em conta que o que entra ali também é produção de audiovisual. Laís comentou a questão: “Hoje é o streaming, mas não sabemos o que vai acontecer daqui dez anos. Uma coisa é fato, tudo pode mudar, mas o conteúdo sempre vai existir. Somos produtores de conteúdo e isso sempre sobreviveu ao tempo e às transformações”.  A conversa foi finaliza com o comentário de Gullane: “Aprendam a contar histórias, que, então, vão ter sempre onde contá-las”.