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04 Setembro 2019 | Fernanda Mendes

Conheça o Cine Passeio, cinema inovador em Curitiba (PR)

Inaugurado há cinco meses o complexo de rua já acumula 30 mil espectadores

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(Foto: Cido Marques)

Quando falamos em ir ao cinema, logo nos vem a cabeça qual é o shopping mais próximo. No entanto, os cinemas de rua existem e resistem. Prova disso é o Cine Passeio em Curitiba (PR) que está em funcionamento há cinco meses e acumula números promissores.

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A convite do próprio cinema, o Portal Exibidor foi visitar o complexo que fica localizado no centro da cidade. O Cine Passeio, aliás, chama a atenção desde a sua entrada, pois o prédio era um antigo quartel do exército, e sua fachada remete bastante às construções da década de 1930. As duas salas de exibição também prestam homenagem a dois antigos cinemas de rua curitibanos que foram fechados, o Cine Luz e o Cine Ritz.

Outro ponto que chama bastante a atenção em relação à infraestrutura é o café que vai muito além de uma bombonière convencional. O Coffeeterie inclusive ganhou o prêmio Bom Gourmet pelo seu design. A ideia era trazer uma área de convivência, onde as pessoas podem marcar reuniões e encontros, o que faz com que o cinema tenha um movimento quase três vezes maior do que só de espectadores. “O Rodrigo, da RT Features, veio para Curitiba outro dia e disse que nem ficou em seu hotel pois passou o dia todo por aqui trabalhando”, comentou Marcos Jorge, curador do cinema.

E se na estrutura a inovação é nítida, a programação também não deixa nada a desejar. A Fundação Cultural de Curitiba, da qual o cinema pertence, chamou o cineasta Marcos Jorge e o cinéfilo e crítico de cinema Marden Machado, para pensar juntamente na programação. Jorge explicou que quando foi chamado para o projeto há um ano e meio atrás analisou muito em como poderia programar filmes para duas salas, e a ideia foi trazer oito sessões diferentes por dia sem repetir o filme, a chamada “programação horizontal”. No começo, houve uma resistência das distribuidoras em conceder o DCP dos longas, mas hoje, segundo o curador, elas entendem e respeitam o trabalho do Cine Passeio.

“Muitas ainda mandam os filmes só depois da primeira semana, mas o nosso público espera o longa chegar aqui para assistir no nosso cinema. Os espectadores ligam para nós para verem quando o filme vai chegar”, comemorou Juliana Fritoli Flores Pedrozo, gerente do complexo.

E a estratégia está dando muito certo mesmo. Neste último fim de semana o cinema alcançou 30 mil ingressos vendidos em tão pouco tempo de funcionamento. A página no Instagram também já é um sucesso, com 15 mil seguidores. “Queremos que este espaço seja um porto e que seja a preferência das distribuidoras colocarem seus filmes aqui, fazerem lançamentos e eventos”, contou Marino Galvão Jr., diretor executivo do ICAC (Instituto Curitiba De Arte e Cultura), órgão da prefeitura.

Na programação de filmes há a mescla entre blockbusters e produções de arte. Na semana em que o Portal Exibidor fez a visita (29/08 a 04/09) os filmes em cartaz eram os nacionais Benzinho (Vitrine), Uma Noite Não É Nada (Imovision), Simonal (Downtown/Paris) e Bacurau (Vitrine), além dos internacionais Três Faces (Imovision), As Rainhas da Torcida (Diamond) e Dor e Glória (Universal). Aliás, o longa de Pedro Almodóvar está há 11 semanas em cartaz no cinema, sendo que estreou com 95% de ocupação na sala e atualmente tem 55%.

Benzinho, que já saiu de cartaz há meses nos cinemas brasileiros, voltou para o Cine Passeio porque venceu o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro recentemente. A sessão faz parte do projeto ‘Nova Chance’ que coloca filmes que os curadores acreditam que o público precisa prestar mais atenção.

E é possível observar que há uma divisão justa entre filmes nacionais e internacionais. A tríade que move a programação é “democratização, acessibilidade e diversidade”. E isso o Cine Passeio está fazendo muito bem. “Não somos um cinema de arte, somos um cinema de rua que tem compromisso com a população. Queremos alargar a oferta de programação de qualidade”.

Para Marcos Jorge é muito óbvio que o público tende mais a assistir os blockbusters de Hollywood do que os filmes de arte, pois o trabalho de marketing para esses filmes é muito maior. Então, a estratégia do Cine Passeio é também induzir o espectador a optar por longas diferentes. Os blockbusters sempre estão nas sessões da sala Cine Ritz, no segundo andar, pois obriga o público a passar pela sala Cine Luz onde estão em cartaz os filmes de arte.

“A ideia é: venha a qualquer hora no Cine Passeio que você vai ver um filme bom”, salientou.

Além dos festivais, mostras, sessões à céu aberto e a programação horizontal, o cinema ainda tem mais um – grande – diferencial: a sala Passeio On Demand. O espectador pode reservar um horário e chamar uma quantidade de pessoas para assistir à plataforma que quiser: desde Netflix, passando por HBO Go, até Hulu. Mas, é bom ressaltar que cada espectador faz o seu login, nada é fornecido pelo cinema.

O que motivou a abrir este espaço é manter o espírito de coletividade que o cinema sempre proporcionou, mas unir essa característica com a modernidade. A sala tem uma boa procura e já foi palco de comemoração de Dia dos Pais e até aniversários.

 

Produção x Exibição

Marcos Jorge, autor de filmes de prestígio como Estômago (Downtown), contou que está adorando a experiência de ir “para o outro lado do balcão”. “O grande problema do nosso setor é que há uma falta de comunicação entre as partes. No começo dos anos 2000 quando criaram a Ancine, o CBC (Congresso Brasileiro de Cinema) reunia todo o setor de cinema: exibidores, produtores, distribuidores. E foi essa união que deu o impulso no cinema brasileiro, mas isso não se perpetuou como deveria. Os produtores conversam mais com os distribuidores, mas não com os exibidores”.

Agora, com esse maior contato com a exibição, Jorge está passando por uma verdadeira escola e vendo as alegrias e desgostos do setor. Se por um lado é superinteressante acompanhar em tempo real a reação do público com os filmes, por outro também é bastante difícil ter uma conta “gorda” para pagar no fim do mês. “Os exibidores querem filme que dê público, não importa se é brasileiro ou não. É uma demanda deles”.

A experiência com a exibição já lhe rendeu frutos. Ele acaba de ser convidado para ser curador do Festival de Cinema Brasileiro na China, onde oito produções nacionais serão exibidas em seis cidades chinesas. E, além disso, durante a Expocine estará como exibidor visitando a feira e também fará uma palestra sobre seu próximo filme.

Essa ponte entre produção e exibição está lhe ensinando muitas coisas, entre elas é se esforçar para formar público, principalmente para o cinema brasileiro. “Temos que fazer um trabalho igual ao da Disney, apoiar desde o começo o filme, mostrar para o público que o filme existe e fazer com que o público queira vê-lo. Entender esse diálogo para mim é fundamental”.

 

Operacional

Apesar de ter o apoio da prefeitura, da Fundação Cultural de Curitiba e do ICAC, o objetivo é conseguir que o cinema seja cada vez mais autossustentável. “Nenhum projeto consegue se manter exclusivamente com subsídio e temos aqui algo que rende. O Cine Passeio tem que dar lucro, não foi um investimento para o lugar ficar vazio”, explicou Jorge.

Para isso, todo o trabalho de fidelização do moviegoer está sendo acompanhado de perto pela gerente do cinema. O tratamento intimista entre os funcionários e os espectadores do complexo teve consequências bastante legais, como certas espectadoras que foram viajar e trouxeram presentes para os colaboradores do Cine Passeio.

O tótem de autoatendimento também é motivo de orgulho para a equipe. O modelo da Schalter disponibilizado pela Ingresso.com exclusivamente para o cinema foi o primeiro implementado no Brasil. Hoje, o equipamento é responsável por 43% das vendas de bilheteria por dia. A ideia é trazer mais outro tótem em breve.

E, até o fim do ano, as duas salas terão recursos para acessibilidade de conteúdo, sem contar com o treinamento de toda a equipe para atender esse novo público.

 

Conheça o Cine Passeio em números:

Salas: Duas de exibição tradicional, uma de streaming, duas salas para cursos voltados ao audiovisual, uma sala para coworking e uma laje que será palco futuramente de exibições ao ar livre.

Capacidade: 88 lugares em cada (Cine Luz e Cine Ritz)

Equipamentos: Projetores Christie CP2208 LP; Processadores Dolby IMS-3000; Telas de Projeção da Severtson Screens modelo Stelllar White 1.4 Gain; Poltronas Kastrup e ATM Schalter da Ingresso.com

Investimento: Foram R$ 9,5 milhões, recurso captado pela Prefeitura de Curitiba por meio de comercialização de cotas de potencial construtivo.

Curiosidades: Em cinco meses de funcionamento já venderam 30 mil ingressos, sendo que no mês de julho atingiram 40% de ocupação das salas; Dor e Glória é o filme há mais tempo em cartaz desde a inauguração do cinema, há 11 semanas em exibição;

VEJA A GALERIA DE FOTOS DO CINE PASSEIO.

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