07 Outubro 2015 | Marcelo J. L. Lima
O país onde todos pagam "A Meia do Dobro"
Benéfica para os clientes finais, porém onerosa ao Exibidor
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A meia-entrada é sempre um assunto polêmico. De um lado, os consumidores, que muitas vezes por desconhecerem o funcionamento da meia-entrada culpam as empresas e de outro, as redes exibidoras, que fazem manobras para conseguir fechar a conta do mês e cumprir com as obrigações jurídicas e financeiras.
Recentemente, três redes exibidoras foram multadas pelo Procon, por, segundo a entidade, apresentarem irregularidades quanto à meia entrada e preços e informações divergentes em relação às compras feitas pela internet.
Além disso, as parcerias com redes bancárias ou administradoras de cartões também têm contribuído para que praticamente “todos paguem meia”. Se isso acontece, automaticamente, o valor inteiro do ingresso tem de ser maior para compensar os ingressos que valem como meia. É como se todos pagassem inteira, mas sendo meia.
Além disso, há a fiscalização que também gera confusão e ainda é ineficiente, mas que novamente quem sai perdendo é o Exibidor, que até por exigir documentação é penalizado, como aconteceu há pouco no Mato Grosso do Sul.
A verdade é que a meia-entrada é onerosa a qualquer entidade de entretenimento, sendo ela um Exibidor cinematográfico, teatro, show ou jogo esportivo. Para o lado do Exibidor, algo que tenho mais autoridade em discutir, a instituição da meia-entrada acaba por maquiar o real valor do ingresso, onde os exibidores aplicam a equação do "dobro-da-meia". Os 50% que o cinema deixa de receber não é subsidiado por nenhum governo ou entidade. É o mesmo que o governo determinar que estudantes irão pagar metade da gasolina, metade de um Big Mac ou, melhor de todas, pagar metade da escola particular. Tenho uma melhor ainda: todo aposentado tem direito a pagar meia na casa de repouso. Cinema não é uma ONG, cinema é uma instituição privada, com fins lucrativos e gera centenas de milhares de empregos no país.
Valmir Fernandes, presidente da Cinemark International, questionado nesta semana no Rio Market sobre este assunto foi enfático: "a meia entrada é um câncer em nosso país". E eu concordo plenamente com ele. O Brasil é o lugar onde tem as piores taxas de frequência de cinema entre as pessoas com mais de 25 anos e menos 50, justamente a população que não é estudante ou aposentado. Este pessoal tem poder de compra, mas é impedido por que é obrigado a subsidiar os estudantes e aposentados. Em um país onde "todos são iguais perante a lei", há a segregação de que o trabalhador que financia a previdência social, também é obrigado a pagar um ingresso 50% mais caro.
Em uma rápida pesquisa informal com exibidores, eles são uníssonos de que se a meia-entrada acabasse, os valores dos ingressos iriam cair 40%. Isso literalmente transformaria o nosso país com um dos ingressos mais baratos no mundo.
Não sou contra o desconto ao estudante ou ao aposentado. Sou contra a imposição de 50% de desconto. Isso é um crime contra o poder econômico da indústria.
O que poucos sabem é que o lucro do Exibidor beira uma margem mínima após repartir a renda com as distribuidoras, os altos aluguéis praticados pela ditadura dos shoppings, os impostos, o ECAD e outras despesas, como as citadas acima. A Revista Exibidor abordou o assunto na sua segunda edição, que continua atual até hoje.
Ou seja, há de se ter muita coragem e esforço para ser exibidor no Brasil e enfrentar todas essas questões burocráticas.
Parabéns às quase 3 mil salas abertas no país. Poderíamos ter 6 mil se esta entidade não fosse tão penalizada.
Conheça as novas mudanças na legislação da meia-entrada.
*Marcelo J. L. Lima é CEO da Tonks e da Expocine, bem como diretor do Portal Exibidor.
*Este é um artigo pessoal e reflete, portanto, unicamente a opinião de seu autor e não o posicionamento do Portal Exibidor.
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