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09 Outubro 2024 | Ana Paula Pappa

Coproduções internacionais aparecem como um importante caminho para o cinema nacional

Em painel da Expocine 2024, especialistas destacam como o Brasil pode expandir sua presença global

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(Foto: Fabiano Battaglin)

A BRAVI (Brasil Audiovisual Independente) promoveu o painel Fronteiras Audiovisuais -  A Importância das Coproduções Internacionais para o Brasil na Expocine 2024. O debate reuniu figuras proeminentes do setor, como Eros Ramos, representante da ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos); Leila Bourdoukan, diretora de desenvolvimento econômico e parcerias estratégicas da Spcine; Mauro Garcia, presidente da BRAVI; Lucas Soussumi, gerente executivo da Brazilian Content; e o jornalista Morris Kachani. O encontro explorou os desafios e as oportunidades para o Brasil expandir sua presença no mercado internacional.

Leila Bourdoukan, representando a Spcine, ressaltou o papel da empresa pública na promoção do audiovisual paulistano, que em 2025 completará uma década de atuação no mercado. A Spcine, segundo Leila, tem sido fundamental para apoiar projetos de formação, distribuição e produção, além de abrigar o programa de cash rebate, que atrai coproduções internacionais. "Quando promovemos o cash rebate, não estamos apenas beneficiando São Paulo, mas pensando no Brasil inteiro. As coproduções internacionais são cruciais, e esse programa facilita que empresas estrangeiras colaborem com produtores locais", explicou.

Essa parceria entre o Brasil e o exterior tem se expandido também para outros setores, com acordos bilaterais e colaborações com distribuidoras e salas de cinema, o que fortalece o ecossistema audiovisual nacional. "O Brasil está sendo procurado não só pelo conteúdo, mas pelas parcerias que oferecemos", acrescentou Leila.

Eros Ramos destacou o papel da agência em promover o que há de melhor no Brasil no cenário global. Para ele, o audiovisual se tornou um braço importante do soft power brasileiro, contribuindo para a atração de investimentos. "Estamos em um ótimo momento para o audiovisual e a economia criativa, com destaque também para o setor de games", disse Eros, ressaltando que a Apex Brasil tem feito matchmaking entre produtores brasileiros e potenciais parceiros internacionais, como a China. 

O executivo também destacou o câmbio favorável ao Brasil no momento, o que facilita a competitividade internacional. Porém, ele pontuou a necessidade de melhor articulação entre as iniciativas locais e nacionais. "Precisamos de mais comunicação entre agências municipais e nacionais para atrair compradores internacionais. Isso fortalece os produtores locais e ajuda a criar um ambiente favorável para que esses compradores queiram voltar", afirmou Eros.

Mauro Garcia apontou que o Brasil tem sido cada vez mais procurado por mercados estrangeiros, mas ainda há muito a ser feito para expandir essa presença. "Temos que pensar além do mercado interno. A produção brasileira precisa avançar para o mercado internacional, principalmente em co-produções e co-distribuições de séries, filmes e novelas", afirmou. Ele reforçou a necessidade de um conteúdo que tenha apelo global, destacando o exemplo da Espanha, que vem ocupando mercados internacionais de forma consistente. "Se queremos que nossa produção seja competitiva, precisamos de previsibilidade, apoio governamental contínuo e um planejamento que considere o desenvolvimento do conteúdo já com uma perspectiva global", disse Garcia.

O debate também abordou como as coproduções internacionais começam desde o desenvolvimento de projetos e exigem uma atuação conjunta e próxima entre os países. "Precisamos entender o que é o produto para o mercado local e como ele pode se adaptar ao global", afirmou Garcia. Para Eros Ramos, o desafio é aproveitar as oportunidades certas nos mercados adequados. "Sem uma visão ampla de todo o processo, os projetos acabam demorando muito mais para se concretizar", alertou.

Os serviços de streaming também foram um ponto central da discussão, vistos como importantes para a inserção do conteúdo brasileiro no mercado global. "Eles têm o poder econômico e orçamentos que elevam o nível do mercado. Mas, por outro lado, estamos em desvantagem por conta do câmbio", comentou Garcia. Ele ressaltou que a questão da propriedade intelectual é um ponto sensível, pois sem controle sobre essa área, o Brasil corre o risco de se tornar apenas um prestador de serviços para grandes players internacionais, sem agregar valor ao seu próprio mercado. Leila Bourdoukan concordou que o streaming é inevitável e destacou a importância de plataformas públicas como a Spcine e o Sesc para difundir o conteúdo de forma democrática: "Precisamos ampliar a conversa sobre os diferentes tipos de streaming que temos à disposição e como cada um pode ser utilizado para promover nossos conteúdos".

A sensação geral do painel foi de otimismo em relação à retomada do audiovisual brasileiro no cenário internacional. Leila destacou que a rápida reentrada do Brasil no mercado global se deve à união dos profissionais do setor. "Mesmo com a perda de recursos, nos mantivemos unidos e, agora, estamos voltando a nos inserir com força no mercado internacional", afirmou. Eros Ramos compartilhou dessa visão positiva e destacou os resultados robustos dos projetos setoriais em economia criativa. "Sabemos que o Brasil tem o poder de produzir muito com poucos recursos e agora é o momento de nos articularmos melhor para expandir esse potencial", concluiu.

A internacionalização do audiovisual brasileiro é um caminho necessário e promissor, mas ainda há desafios a serem superados, como a falta de previsibilidade e de uma articulação mais forte entre os diversos programas nacionais e regionais. As coproduções internacionais, apoiadas por iniciativas como o cash rebate e acordos bilaterais, mostram-se como um dos principais motores para esse crescimento, enquanto os serviços de streaming e as parcerias internacionais abrem novas janelas de oportunidade para a difusão do conteúdo brasileiro no exterior. O futuro, embora desafiador, é encarado com otimismo pelos participantes, que acreditam na força do Brasil para se consolidar globalmente no setor.

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