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09 Outubro 2024 | Gabryella Garcia

Políticas públicas devem dialogar com etapas e momentos do cinema para estimular crescimento, apontam diretores da Ancine

Painel da Expocine discutiu os desafios da produção nacional para todos os elos da cadeia cinematográfica

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(Foto: Fabiano Battaglin)

O painel Perspectivas e desafios da produção, distribuição e exibição cinematográfica aconteceu no segundo dia da Expocine 2024 e contou com a participação de Alex Braga, Diretor-Presidente da Ancine, e Tiago Mafra dos Santos, Diretor da Ancine. A dupla apresentou dados atuais do mercado de exibição brasileiro e também ressaltou a importância de políticas públicas que estimulem a produção independente, a distribuição e a exibição.

"Nossa proposta é colocar a melhor forma de enfrentar e lidar com desafios e construir as melhores perspectivas. Precisamos tratar o audiovisual no contexto de uma política industrial para o audiovisual", disse Braga no início da apresentação.

Braga destacou que o audiovisual deve ser tratado no contexto de uma política de Estado, e também uma política industrial, afirmando que o cinema é uma espécie de motor de desenvolvimento e transformação na indústria audiovisual. O Diretor-Presidente da Ancine ainda apontou que o audiovisual tem um impacto de R$ 25 bilhões no PIB brasileiro, além de gerar empregos, e citou o modelo adotado na Coreia do Sul como um exemplo a ser seguido para estimular o audiovisual brasileiro.

"O modelo sul-coreano é um exemplo e não se trata de importar o modelo sem considerar as características brasileiras. A virtude desse modelo é que ele é exitoso há 30 anos e consegue dar um exemplo de como tratar a cultura e a indústria criativa trazendo efeitos positivos para a sociedade, Em 1994, Jurassic Park estreou na Coreia do Sul e ocupou todas as salas de cinema do país. Depois concluíram que saíram mais recursos do país com royalties do que entraram à partir das vendas. A Coreia começou a tratar a indústria criativa tal como trata uma indústria pesada", explicou.

Na sequência, Braga também afirmou que a construção de políticas públicas devem estimular a produção independente, a distribuição e a exibição, mas sempre levando em consideração o momento dos cinemas. Como exemplo desse olhar para o momento atual, destacou que houve um grande crescimento no número de salas do parque exibidor brasileiro, e também de filmes, a partir de 2010 com o surgimento de linhas de crédito e do Recine.

"Uma política pública estruturada e constante promove o crescimento de salas, da produção, da circulação e da rentabilidade de filmes brasileiros. Cada vez que se consolida uma política pública, há um crescimento no número de salas. Acreditamos em uma política estruturada e constante que dê conta das particularidades do parque exibidor brasileiro e agora vivemos um momento com linhas de crédito para inovação e infraestrutura", disse Braga sobre a necessidade de políticas públicas caminharem juntas com todos os elos da cadeia cinematográfica brasileira.

Ainda durante a apresentação, o presidente da Ancine afirmou que os investimentos públicos acabam aumentando o resultado das bilheterias, e também destacou que filmes que contam com algum tipo de financiamento público conseguem apresentar melhores resultados. Em sua visão, grandes lançamentos e filmes de maior orçamento acabam sendo importantes para toda a cadeia produtiva uma vez que validam essa política de fomento e isso proporciona investimentos em filmes de nicho e de menores orçamentos. "Deve-se investir de forma sistêmica olhando para o todo, reunindo produção, exibição e distribuição", afirmou.

Antes de passar a palavra para Tiago Mafra, Alex Braga também falou sobre a necessidade de regulamentação do streaming e destacou que essas plataformas são a segunda janela mais relevante para produções brasileiras, perdendo apenas para o cinema e ultrapassando as TVs em grau de importância. "A regulamentação do streaming se faz necessária e vai fortalecer as salas de cinema, tem que haver um casamento perfeito entre o mercado de exibição e o segmento de streaming. Os filmes que passam pelas salas de cinema têm maior entrada no streaming. O cinema é o motor da indústria audiovisual e vai compartilhar efeitos positivos com os demais elos da cadeia, principalmente o streaming cuja regulamentação está em processo de discussão", concluiu.

Na sequência, Tiago Mafra apresentou números e detalhou um pouco do processo da Ancine para monitorar possíveis lacunas do mercado cinematográfico em busca de melhorias para todo o setor. A base utilizada, inclusive, é aberta ao público e todos os dados estão disponíveis nos painéis interativos no site da agência.

"É um grande avanço da Ancine e um novo rumo que temos adotado no processo de melhoria para obtenção de dados. Esse movimento de fomento de políticas públicas é baseado em evidências porque para adotar uma política você precisa ter dados expandidos", explicou.

O diretor da Ancine também destacou que o Brasil, apesar de abaixo dos níveis pré-pandemia, vem se recuperando em alguns aspectos. Hoje, por exemplo, o Brasil apresenta o maior número de salas de exibição ativas, com 3.470 salas, desde dezembro de 2019, quando eram 3.507 salas. Mas, apesar do crescimento do número de salas, assim como acontece no mercado mundial, o crescimento do público não está acompanhando esse ritmo. Para se ter uma ideia, na 39ª semana cinematográfica de 2024 o público acumulado nos cinemas era 33% inferior em relação ao público de 2019. Neste ano foram 92 milhões de espectadores e, no último ano antes da pandemia, nessa mesma fase do ano, o público era de 138 milhões.

No final da apresentação, Mafra também apontou que o público para produções nacionais caiu 76,3% de 2019 para 2024, e disse que a Cota de Tela por si só não resolve o problema da falta de público para produções nacionais. "A Cota de Tela é muito importante, mas ela em si não é necessariamente a solução e pode não ter o mesmo efeito que tinha antes da pandemia. Hoje, em setembro e outubro de 2024, 14,6% das sessões são de filmes brasileiros, mas apenas 8,2% do público é de filmes nacionais. Até maio, os percentuais de sessões e público caminham juntos, mas hoje vemos que apenas a Cota de Tela não é suficiente. Hoje, olhando para essa tendência e para o catálogo de lançamentos, a projeção é que o público caia para 7% e vai depender muito da estreia de ‘O Auto da Compadecida 2’ na última semana do ano. Com ‘Coringa’ e ‘Transformers’, essa projeção de público para filmes nacionais pode ficar ainda pior", finalizou.

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