25 Setembro 2024 | Gabryella Garcia
Downtown celebra sucesso com o cinema nacional e projeta crescimento: "O melhor ainda está por vir"
Portal Exibidor conversou com Bruno Wainer, sócio e CEO da Downtown Filmes, uma das distribuidoras homenageadas na Expocine 2024
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A Downtown, uma das distribuidoras homenageadas na Expocine 2024, se orgulha de ser a número um no ranking de filmes nacionais, ao lado da Paris Filmes, e já ter atingido a marca de 80% da venda de todos os ingressos de filmes brasileiros em determinado período. Após 18 anos de sua fundação, a distribuidora já lançou 162 filmes e o sócio e CEO da Downtown, Bruno Wainer, conversou com o Portal Exibidor sobre a trajetória da empresa, sua importância no mercado hoje e a participação na Expocine, que acontece entre os dias 8 e 11 de outubro, em São Paulo.
Com uma experiência de 15 anos na distribuidora Lumiére, Wainer decidiu dar um passo ousado ao fundar a Downtown Filmes em 2006. Apesar de lançar em um mercado imprevisível, o início não poderia ser melhor. O primeiro filme lançado foi A Marcha dos Pinguins, ganhador do Oscar de melhor documentário de 2006. Mas, mesmo com o início animador, o CEO da distribuidora se viu obrigado - mais uma vez - a ousar. Com as constantes mudanças no mercado, a Downtown se tornou a única distribuidora dedicada exclusivamente a filmes brasileiros. Após assumir o risco, os números mostram que a decisão foi certeira e falam por si só. Desde a sua fundação a empresa já vendeu 155 milhões de ingressos, o que representa mais de 50% de todos os ingressos de filmes brasileiros lançados até janeiro de 2023. Neste ano a escrita se mantém, uma vez que Os Farofeiros 2 e Minha Irmã e Eu, filmes distribuídos em parceria com a Paris Filmes, são as maiores bilheterias do cinema nacional.
"Temos uma média incrível de 956 mil ingressos por filme e a parceria [com a Paris Filmes] nos fez players fortes e respeitados pelo mercado. Dominamos o Market Share do cinema brasileiro e atingimos, em 2018 e 2019, a impressionante marca de 80% da venda de todos os ingressos de filmes nacionais, além de acabarmos no 3º lugar geral entre todas as distribuidoras em número de ingressos, ficando atrás apenas da Disney e Warner, um feito histórico", destacou Wainer.
Mas, apesar dos excelentes números, o executivo aponta que a falta de continuidade de políticas públicas é uma grande dificuldade para as distribuidoras no audiovisual, que precisam de um mercado interno forte, e também bate na tecla da necessidade da regulamentação das plataformas de streaming.
"Estamos com uma carteira muito competitiva comercialmente e o ciclo precisa se completar com um trânsito bem pavimentado com as plataformas de streaming, e neste momento não há fluidez nessa relação. Essa fluidez só se estabelecerá com a regulamentação das plataformas de streaming, YouTube incluído. Aí as perspectivas serão as melhores possíveis para a Downtown e para o mercado em geral. (...) precisamos, todo o setor, nos focar no que realmente importa para assegurar a saúde da nossa atividade - a regulamentação do streaming, com regras justas para o audiovisual independente. Todo o resto é secundário e sem uma boa regulamentação, não há futuro sadio para o audiovisual brasileiro", afirmou.
Entretanto, mesmo com as dificuldades e necessidade da regulamentação do streaming, Wainer comemora o momento da Downtown, afirmando que os recursos via FSA possibilitam que a distribuidora possa investir em novos projetos enfrentando menos burocracias, e promete que os melhores anos da Downtown ainda estão por vir.
"Sou consciente dos números espetaculares que alcançamos e, diga-se, sem nenhum favorecimento, muito pelo contrário. E nestes tempos incertos, [a homenagem da Expocine] me dá a energia que preciso para continuar a lutar. Tenho sempre a certeza que o melhor ainda está por vir", encerrou.
Confira a entrevista na íntegra:
Como surgiu a iniciativa de criar a Downtown?
Fui sócio, mas não CEO, da distribuidora Lumiére por 15 anos. Lá, aprendi tudo que sei de distribuição. Só que chegou um momento em que as relações se desgastaram e então resolvi montar uma distribuidora que tivesse 100% minha personalidade. Daí, criei a Downtown.
Quais foram os marcos iniciais da distribuidora?
Começamos com o pé direito, o primeiro filme lançado foi A Marcha dos Pinguins, ganhador do Oscar de melhor documentário de 2006. Mas rapidamente entendi as profundas transformações que a distribuição internacional independente estava passando e tomei a decisão, arriscadíssima então, que mudou a minha vida: transformar a Downtown na única distribuidora dedicada exclusivamente a filmes brasileiros.
Como você avalia a trajetória da Downtown nesses 18 anos?
Os números falam por si. Nesses 18 anos da Downtown, foram 162 filmes lançados e 155 milhões de ingressos vendidos, a maioria em parceria com a Paris Filmes. Uma média incrível de 956 mil ingressos por título. Essa parceria nos fez players fortes e respeitados pelo mercado. Dominamos o market share do cinema brasileiro e atingimos em 2018 e 2019 a impressionante marca de 80% da venda de todos os ingressos de filmes nacionais, além de acabarmos no terceiro lugar geral entre todas as distribuidoras em número de ingressos, ficando atrás apenas da Disney e da Warner, um feito histórico.
Quais foram os principais desafios e marcos neste período?
Resumo os principais desafios num só: a luta para fazer o poder público e vastos segmentos da produção entenderem que só existe um audiovisual local forte com distribuidoras locais fortes e concentradas. É assim em todos os países que conseguem preservar um pedaço importante do seu mercado diante do poderio das empresas transnacionais. Exemplos não faltam: Coreia, Índia, Turquia, França e Japão entre outros.
Como uma distribuidora dedicada exclusivamente ao cinema brasileiro, quais são as principais dificuldades e obstáculos que enxerga para o crescimento do cinema nacional e na formação de um público?
O principal obstáculo continua sendo o mesmo de sempre: ter que refazer todo o caminho a cada mudança de governo. Uma perda de tempo e desperdício de energia enorme. Sem definição de diretrizes de longo prazo e consistência na política pública não é possível crescer sustentavelmente. Mas isso não é uma característica exclusiva do audiovisual, é um traço cultural nosso, infelizmente.
Como você descreveria o momento atual da Downtown e quais são as perspectivas para o futuro?
Estamos num compasso de espera: por um lado há muito recurso via FSA e as linhas de desempenho comercial foram preservadas, o que nos dá meios para investir em projetos sem precisar passar por editais seletivos, o que é ótimo. Premia-se quem conseguiu criar resultados e isso gera um ciclo virtuoso de mentalidade, além de simplificar muito os processos burocráticos da Ancine. Também estamos com uma carteira muito competitiva comercialmente. Mas o ciclo precisa se completar com um trânsito bem pavimentado com as plataformas de streaming. E neste momento não há fluidez nessa relação. E essa fluidez só se estabelecerá com a regulamentação das plataformas de streaming, youtube incluído. Aí as perspectivas serão as melhores possíveis para a Downtown e para o mercado em geral.
Qual é a sua visão sobre o atual momento e o futuro do mercado audiovisual do Brasil?
Precisamos, todo o setor, nos focar no que realmente importa para assegurar a saúde da nossa atividade – a regulamentação do streaming, com regras justas para o audiovisual independente. Todo o resto é secundário. Sem uma boa regulamentação, não há futuro sadio para o audiovisual brasileiro.
Para encerrar, gostaria de saber o que significa para a Downtown estar entre as distribuidoras homenageadas na Expocine 2024 e qual a importância de receber essa homenagem no maior evento de negócios voltado ao mercado cinematográfico da América Latina?
Essa homenagem a Downtown me enche de orgulho pelo reconhecimento de uma trajetória única, inesperada e vitoriosa. Sem falsa modéstia, sou consciente dos números espetaculares que alcançamos e, diga-se, sem nenhum favorecimento, muito pelo contrário. E nestes tempos incertos, me dá a energia que preciso para continuar a luta. Tenho sempre a certeza que o melhor ainda está por vir.
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