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18 Setembro 2024 | Yuri Codogno

Cine Roxy completa 90 anos de sucesso em Santos: "O Roxy é abraçado pela cidade"

Portal Exibidor conversou com Toninho Campos, diretor-geral da rede exibidora

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(Foto: Divulgação)

Fundado em 15 de março de 1934, o Cine Roxy, tradicional rede exibidora da Baixada Santista, completou recentemente 90 anos de operação, sendo um dos cinemas mais antigos do Brasil que ainda está em operação. E para celebrar tamanha importância para a exibição nacional, especialmente no litoral paulista, o Cine Roxy irá receber uma homenagem durante a Expocine 2024, que acontece entre os dias 8 e 11 de outubro, em São Paulo, no Cine Marquise e Hotel Renaissance. 

Aproveitando o ensejo, o Portal Exibidor conversou com Toninho Campos, administrador-geral do Cine Roxy. A entrevista pode ser lida na íntegra ao final da matéria. 

Atualmente com três complexos (Roxy 2, no Parque Anilinas, em Cubatão; Roxy 5, no Gonzaga, em Santos; e Roxy 6, no Brisamar Shopping, em São Vicente), a história do Cine Roxy mostra que a rede passou por diferentes fases. Toninho, que tem suas memórias mais fortes a partir do momento em que começou a trabalhar com o pai (Antônio Francisco de Campos), quando tinha 18 anos, fez questão de lembrar de importantes momentos do Cine Roxy quando seu avô e pai ainda eram os sócios do cinema. 

“Me lembro praticamente [a partir de] quando meu pai assumiu, me lembro desse prédio, quando reinaugurou eu tinha três anos de idade, porque ele é nesse mesmo local, só que o prédio original foi derrubado para construir esse aí. Mas no mesmo local, igualzinho. E foi em 1956. Um dos principais momentos que lembro é quando pegou fogo em 1964. A caixa ficou preservada porque a construção era bem sólida. Me lembro [também] da briga pelos 60-70% que os distribuidores cobravam. Aqui em Santos ficou um ano sem exibir [filmes estadunidenses], mas graças a Deus naquela época as fitas italianas faziam muito dinheiro e os nacionais começaram a fazer época com a pornochanchada”, relembrou.

Na ocasião, os exibidores queriam aumentar sua fatia de lucro pelos filmes exibidos, visto que ficar com apenas 30% do valor do ingresso estava impraticável. Atualmente, apesar de existir modelos de negócios diferentes, a divisão costuma ficar em torno de 50% para cada lado. 

Toninho Campos começou a trabalhar mais efetivamente quando fez 18 anos, mas não na Baixada Santista. Antes, passou por Juiz de Fora e Porto Alegre, visto que naquela época existia um plano do Cine Roxy de ter cinemas em todo o Brasil. Quando voltou para Santos, começou a trabalhar com publicidade e marketing. Após isso, relembra de momentos marcantes na história do cinema.

Um deles foi a chegada do videocassete, que acabou complicando a sustentação de uma sala de 1400 lugares. Apesar disso, Toninho nunca concordou que essas concorrências de diferentes mídias atrapalham o cinema: “Nunca achei que o streaming, o cassete, as locadoras, atrapalharam o cinema, nunca foi minha opinião… posso estar errado. O problema é que, quando os produtores fazem qualquer merda que dá dinheiro, complica. Se o cara está fazendo qualquer merda e está ganhando dinheiro para tudo quanto é lado, para que vai se arriscar, né? É isso é que prejudica mais do que qualquer outro tipo de concorrência: a qualidade do produto”.

A dificuldade com o advento das fitas cassetes foi para conseguir encher uma sala de 1400 assentos, visto que ficou mais fácil para o público poder assistir ao filme que deseja, mesmo que meses depois, em casa. A questão, na visão de Toninho, nunca foi levar o público ao cinema, mas manter uma sala tão grande, visto que não se sustentava mais, com no máximo três fitas por ano que justificavam uma sala tão grande. 

A solução, entretanto, não demorou a aparecer. Durante a década de 1990 foi quando surgiram os multiplexes, dividindo uma grande sala em diversas outras com menos assentos. “Eu soube [da chegada dos multiplexes] e comecei a tentar financiamento, porque nessa época a gente já estava nessa situação, era difícil se sustentar, já estava tudo complicado, não tinha dinheiro sobrando. E depois de muito tempo consegui fazer a obra para dividir [a sala]. Esse foi um momento muito difícil para a gente, porque abriu o Cinemark aqui com dez salas no shopping”, explicou Toninho.

A partir dos esforços do Cine Roxy, a sala de 1400 poltronas deu lugar a quatro salas menores - e posteriormente a uma quinta sala. Isso aconteceu após Toninho experienciar a disputa com multiplexes em outros cinemas que trabalhava, como na Praia Grande, São José dos Campos e Santo André, percebendo que precisava seguir por um caminho semelhante. Foi esse o momento que decidiu sair dos negócios paralelos para focar em Santos. 

“O começo é que foi complicado. Eu era muito amigo dos exibidores e dos distribuidores e os caras olhavam para mim morrendo de pena, porque estava jogando meu dinheiro fora, reformando o cinema de rua, que ninguém mais acreditava. Mas é que eles não tinham muita noção que aqui em Santos estou na praia, não estou no centro [da cidade], é uma situação bem diferente. A primeira vez que fui para Los Angeles, no Hollywood Boulevard, falei ‘fodeu’, todos os cinemas tinham virado Igreja Universal do Reino de Deus. Aí quando fui para Santa Mônica, falei ‘não, é uma chance, tô num lugar que pode dar certo’. E deu e está dando bem até hoje”, explicou.

Além disso, o Cine Roxy se beneficiou do fato dos primeiros cinemas em shoppings não terem tanta qualidade, com os próprios shoppings negligenciando seus espaços de exibição - algo que só foi mudar, de fato, com a chegada dos multiplexes. Do outro lado, o Cine Roxy era um espaço criado exclusivamente para exibição de filmes, com mais conforto, qualidade de equipamento e experiência de décadas atuando no setor. 

Desde então, o Cine Roxy se manteve em uma estabilidade impressionante, atingindo um feito que muitos cinemas de rua não conseguem, que é bater de frente com as grandes redes. Para Toninho, são muitos fatores que explicam esse sucesso: “A localização, o centro geográfico e para o público de Santos o cinema é hábito. Então tenho um público muito grande de pessoas com mais idade e que têm hábito de ir ao cinema, que reclama quando bota muitas salas com um filme só, quando não altera a programação, quando ficam sem filme para ir ver. E o Roxy tem uma coisa com a cidade, ele é abraçado pela cidade. Tenho evento praticamente toda semana, exibição de filme de surf, hoje [11] estou passando o jogo do Corinthians… isso lá em São Vicente, porque aqui em Santos ia dar problema. Mas passo jogos do Santos, passo produções locais”. 

E o Cine Roxy não teria do que reclamar, se não fosse a crise sanitária global que afligiu todo o planeta. A pandemia de Covid-19 foi cruel com todos, com incontáveis perdas humanas e financeiras. Mas no aspecto dos negócios, o setor cinematográfico foi um dos mais afetados, com suas consequências ressoando até agora. 

“Veio o pior momento de todos, que foi a pandemia, cheguei a pensar que [o cinema] nunca ia fazer 90 anos. Na realidade, devo voltar ao normal ano que vem. Esse ano as coisas melhoraram muito, [...] mas ano que vem acho que as coisas normalizam de vez e o cinema sempre foi de pico, né? Sempre foi para gente forte, porque tem que ter coração forte, mas depois da pandemia ficou pior ainda. E de novo digo: não foi o streaming e nem porra nenhuma, era o produto. Primeiro fechou o cinema, nós voltamos, quando voltou tinha um produto represado, um produto bom, mas as pessoas ainda estavam com medo de ir ao cinema. Quando normalizou, não tinha mais produto, porque tinha parado também na pandemia, parou a produção, depois ficou muito irregular. E agora a Disney saiu da Covid faz uns dois meses, antes ela entrou em coma, não sei o que aconteceu lá, mas foi um desastre. A Disney era 40% do nosso faturamento, virou 5%. Então prejudicou também. Agora parece que as coisas voltaram ao normal”, explicou Toninho.

Para o futuro, além de contar com a volta de bons conteúdos e uma programação recheada, o Cine Roxy também conta com as reformas em duas de suas unidades. Enquanto as duas salas de São Vicente receberam projeção a laser, a unidade de Santos está fazendo reformas estruturais necessárias, como na entrada e na sala de espera. 

“Fiz a reforma, ficou maravilhoso, porque a reforma que fiz quando fiz as quatro salas, foi praticamente em três meses, é tudo estrutura metálica e siporex. Fiz muito rápido a obra, não do jeito que queria fazer, mas do jeito que dava para fazer rápido. Fechei em fevereiro e abri em junho, não podia perder o final de junho e julho. E depois a quinta sala fiz do jeito que queria. Agora estou corrigindo, fazendo do jeito que quero”, disse o empresário.

Aliás, é através da Lei Paulo Gustavo que o Cine Roxy está conseguindo fazer suas reformas. Sem o incentivo do governo, inclusive, Toninho ressaltou que talvez não conseguisse nem mesmo superar os primeiros meses de 2024. Vale citar que o Cine Roxy também está aderindo a locação de equipamentos, barateando os custos. No entendimento interno deles, os cinemas sempre tiveram um sócio extra, que eram as distribuidoras, mas agora, com as frequentes evoluções tecnológicas, parcerias com fornecedores também são necessárias, pois não tem mais como fazer patrimônio com equipamento e acompanhar a tecnologia através de compras.

Por fim, Toninho Campos destacou mais um diferencial do Cine Roxy, que é a sua qualidade técnica: “A parte técnica é uma coisa que conheço. Sempre fez uma diferença para o público, ele sabe disso. As pessoas sabem o que esperar do Roxy, a minha qualidade não é aquela coisa de apenas colocar som e imagem, não é aquela coisa que coloca para não mexer, para não dar trabalho. De vez em quando dá trabalho, mas tenho gente aqui para atender, então me arrisco ao máximo”.




CONFIRA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA

Quais momentos destaca como os principais da história de vocês?

Tem a parte do meu avô que não participei. [Me lembro] praticamente foi quando meu pai assumiu, me lembro desse prédio, quando reinaugurou eu tinha três anos de idade, porque ele é nesse mesmo local, só que o prédio original foi derrubado para construir esse aí. Mas no mesmo local, igualzinho. E aí foi em 1956.

Um dos principais momentos que lembro, que ainda era criança também, é quando pegou fogo em 1964. A caixa ficou preservada porque a construção era bem sólida, porque tem uma característica que é a seguinte: tem um prédio na frente, mas só vai até a sala de espera. Todas as salas de projeção não tem prédio nenhum em cima, elas são para trás, o prédio é reto. Tem a entrada e era uma sala só de 1400 lugares, que depois dividi em mais salas. 

Me lembro, quando eu ainda não participava, da briga pelos 60-70% que os distribuidores cobravam. E meu pai era o presidente do sindicato, participava muito no Rio de Janeiro lá da Federação, ele veio a ser presidente da Federação também, acho, e a briga foi feia e no final todo mundo ficou um ano sem exibir filme americano. Aqui em Santos ficou um ano sem exibir, porque com o concorrente dele tínhamos um acordo, mas graças a Deus naquela época as fitas italianas faziam muito dinheiro e os nacionais começaram a fazer na época da pornochanchada. Então tinha as fitas italianas, as independentes, a Condor era muito forte e deu para se sustentar. 

Depois já foi quando comecei a participar, primeiro fui trabalhar com cinema em Juiz de Fora e Porto Alegre, mas quando voltei para Santos comecei a trabalhar com publicidade e marketing. Fiz uma agência de publicidade que vinculada os filmes publicitários… naquele tempo não tinha TV local.

Aí veio o advento das fitas-cassete. Já estava meio complicado para cinema de 1400 lugares, apesar que a gente não tinha só o Roxy, tinha dois circuitos. Era o cinema de Santos e a Freixo, era chamada Cinelândia, era tudo ali no Gonzaga, nós tínhamos o Roxy, o Indaiá, Indaiá Arte e o Gonzaga, o Atlântico, Caiçara, o Freixo Iporanga, era tudo ali. 

Mas já estava ficando complicado. Esse foi o momento complicado, primeiro foi quando a gente ficou um ano sem exibir, aí chegou esse momento, complicou mais, mas depois melhorou de novo. Nunca achei que o streaming, o cassete, as locadoras, atrapalharam o cinema, nunca foi minha opinião… posso estar errado. O problema é que, quando os produtores fazem qualquer merda que dá dinheiro, complica. Se o cara está fazendo qualquer merda e está ganhando dinheiro para tudo quanto é lado, para que vai se arriscar, né? É isso é que prejudica mais do que qualquer outro tipo de concorrência: a qualidade do produto.

Mas aí chegou uma época em que o cinema de 1400 assentos não se sustentava mesmo. A gente tinha uma, duas, três fitas por ano que sustentavam um cinema desse. Então saíram os multiplexes, não é coisa antiga, é dos anos 1990. Eu soube e comecei a tentar financiamento, porque nessa época a gente já estava nessa situação, era difícil se sustentar, já estava tudo complicado, não tinha dinheiro sobrando. E depois de muito tempo consegui fazer a obra para dividir [a sala]. Esse foi um momento muito difícil para a gente, porque abriu a Cinemark aqui com dez salas no shopping. 

Os shoppings que tinha em Santos eram no Gonzaga, não eram shoppings grandes e eles não tinham cinema porque não tinham como concorrer com a Cinelândia ali do lado, então esses shoppings não tinham cinema. Aí abriu na Ponta da Praia, primeiro fizeram o contrato com a UCI, aí não sei porque eles romperam o contrato no final, acabou acertando com a Cinemark. Mas a planta do cinema é da UCI. 

Aí a coisa ficou mais difícil ainda. A Cinemark já tinha aberto na Praia Grande, foi o segundo lugar do Brasil. Primeiro eles abriram em São José dos Campos e adivinha quem tinha cinema em São José dos Campos… eu. Era sócio da Paris e tinha o cinema lá no shopping do Center Vale, e depois abriram na Praia Grande, abriu em Santo André, e quem tinha cinema em Santo André? Nós. Aí quando vi que iam abrir em Santos, saí dos outros negócios, que também não estavam dando, tinha que correr aqui, e comecei a tentar a reforma e acabei conseguindo. Fiz quatro salas primeiro e depois, com financiamento do BNDES, a quinta sala, que aí já era um terreno que a gente tinha atrás.

O começo é que foi complicado, eu era muito amigo dos exibidores e dos distribuidores e os caras olhavam para mim morrendo de pena, porque estava jogando meu dinheiro fora, reformando o cinema de rua, que ninguém mais acreditava. Mas é que eles não tinham muita noção que aqui em Santos estou na praia, não estou no centro [da cidade]. É uma situação bem diferente. A primeira vez que fui para Los Angeles, na Hollywood Boulevard, falei “fodeu”, todos os cinemas tinham virado Igreja Universal do Reino de Deus. Aí quando fui para Santa Mônica, falei “não, é uma chance, tô num lugar que pode dar certo”. E deu e está dando bem até hoje.

Quer dizer… aí veio o pior momento de todos, que foi a pandemia. É bem recente, cheguei a pensar que [o cinema] nunca ia fazer 90 anos. Na realidade, devo voltar ao normal ano que vem. Esse ano as coisas melhoraram muito, agora de junho para cá, mas esse mês de setembro está um lixo, mas acho que passa e a partir de outubro nós vamos bem. Foi excepcional junho e julho, agosto foi bem, mas setembro está difícil, vai ser difícil. Mas ano que vem, acho que as coisas normalizam de vez e o cinema sempre foi de pico, né? Sempre foi para gente forte, porque tem que ter coração forte, mas depois da pandemia ficou pior ainda. 

E de novo digo: não foi o streaming e nem porra nenhuma, era o produto. Primeiro fechou o cinema, nós voltamos, quando voltou tinha um produto represado, um produto bom, mas as pessoas ainda estavam com medo de ir ao cinema. Quando normalizou, não tinha mais produto, porque tinha parado também na pandemia, parou a produção, depois ficou muito irregular. E agora a Disney saiu da Covid, faz uns dois meses, que antes ela entrou em coma, não sei o que aconteceu lá, mas foi um desastre. A Disney era 40% do nosso faturamento, virou 5%. Então prejudicou também. Agora parece que as coisas voltaram ao normal. 

Então graças a Deus chegamos aos 90 anos e agora vamos em frente. Estou reformando o cinema de novo, não foi por recurso próprio, ganhei através da Lei Paulo Gustavo, então ainda estou no finalzinho da reforma, reformando a sala de espera, a entrada e tal, coisas que precisavam. Então bons tempos pela frente, mas o pior momento de toda teve essa briga com os americanos, a entrada do videocassete, a entrada da Cinemark e agora a Covid foi o pior de todos.


Você comentou sobre ser praia, não um centro. O que muda?

Na realidade, o Roxy foi o primeiro cinema a ser feito na praia, porque o centro de Santos era o Porto, fica meio longe da praia, uns 3 km, então toda a cidade era lá, depois do túnel, depois do morro, no centro, que era o Porto. As pessoas tinham casa de praia aqui, mas moravam lá no centro e tinham casa aqui no Gonzaga. 

Quando digo centro, por exemplo, não é o centro que nem o Ipiranga e o Marabá, era como se fosse Avenida Paulista, aqui é a Avenida da Praia… não estou no centro [propriamente dito], é um centro comercial, mas é diferente do centro, que a gente já tinha fechado todos os cinemas do centro há muito tempo. Todos os cinemas vieram para esse eixo aqui.

Santos hoje tem menos habitantes do que tinha em 1990. A cidade estagnou, não tem para onde crescer, as pessoas saem daqui para trabalhar. Nos anos 1970-80, o cinema de Santos fazia mais que os de Campinas, fazia mais do que Curitiba. E aqui sempre teve esse hábito de ir ao cinema, não é uma questão de praia, é uma questão que era uma era uma concorrência forte, cinemas grandes muito bem feitos, eram obras de engenharia, de arquitetura bonitas dos anos 1950. 

Os primeiros cinemas de shopping que tinham eram lixo. Até o advento do Multiplex, todos os cinemas de shopping eram um lixo. O cinema não era considerado âncora [para o shopping], botavam no canto qualquer, com pé-direito baixo, um lugar pequeno, a poltrona ficava colada, todos os cinemas ali quase acabaram com o negócio. O negócio levantou quando eles criaram o Multiplex, quando eles criaram Multiplex fizeram praticamente uma Cinelândia em cada shopping.


Em muitas cidades, cinemas de rua não conseguem competir com as grandes redes, mas o Roxy consegue, certo? Na sua visão, o que explica essa força do Roxy para os cinemas de rua frente às grandes redes?

A primeira coisa é a localização. O Gonzaga é um shopping a céu aberto. Lá tem dois shoppings que hoje um deles tem cinema, fez quatro salas que são da Cineflix, mas que foi oferecido para mim, mas não vou fazer cinema com pé-direito de quase cinco metros, quatro metros. Não vou andar para trás agora, a essa altura do campeonato. 

A localização, o centro geográfico, o público de Santos, como te falei, o cinema é hábito. Então tenho um público muito grande de pessoas com mais idade e que têm hábito de ir ao cinema, que reclama quando bota muitas salas com um filme só, quando não altera a programação, quando ficam sem filme para ir ver. Então, eles têm esse hábito. 

Para atender esse público, tinha aberto onde era o concorrente da vida toda, o Iporanga, fizeram o Shopping Pátio Iporanga. Tinha aberto quatro salas lá, então consegui passar esse público para lá, mas tive que fechar na pandemia. Não ia ter jeito de manter tudo, mas esse pessoal ainda vem no Roxy. 

E o Roxy tem uma uma coisa com a cidade, ele é abraçado pela cidade. Tenho evento praticamente toda semana, exibição de filme de surf, hoje [11] estou passando o jogo do Corinthians… isso lá em São Vicente, porque aqui em Santos ia dar problema. Mas passo jogos do Santos, passo produções locais. 

Quando fiz a reforma do Roxy, o Gonzaga tinha virado um nada. Quando abriu o shopping lá na Ponta Praia, não é que fez mal só para o Roxy, ele pegou todo o comércio do Gonzaga. O Iporanga fechou, o clube faliu, estava tudo fechado, tinha virado terra de ninguém. Já vi isso acontecer quando tinha cinema em São José dos Campos, em Sorocaba também.


Eu queria falar sobre o futuro do Cine Roxy, o que podemos esperar no curto e longo prazo?

Agora estou esperando coisas muito boas, tá? Fiz a reforma, ficou maravilhoso, porque a reforma que fiz quando fiz as quatro salas, fiz praticamente em três meses, é tudo estrutura metálica e siporex. Fiz muito rápido a obra, não do jeito que queria fazer, mas do jeito que dava para fazer rápido. Fechei em fevereiro e abri em junho, não podia perder o final de junho e julho. E depois a quinta sala fiz do jeito que queria. Agora estou corrigindo, fazendo do jeito que quero, a sala de espera, entrada e tal.

Consegui fazer negócio com a Orion, com locação de equipamento. Quando fiz o negócio da digitalização, não fiz através do BNDES, com aquele pessoal todo, fiquei com medo da confusão. Então fiz com a NEC, assim pude trocar todas as minhas telas, botei tudo metalizado, troquei tudo que pude, porque era uma janela de oportunidade de comprar tudo sem imposto e com o pessoal que agiu direito comigo, financiou e fizeram um preço bom. Foram US$ 2 milhões, pega a ideia. Graças a Deus o dólar estava a R$ 2 e foi travado em R$ 2,19. 


Hoje já não daria…

De jeito nenhum, mas nem pensar. Quando apareceu a digitação, tinha essa ideia que nós temos mais um sócio: as distribuidoras. E agora nós vamos ter um fornecedor de equipamento, porque esses equipamentos vão mudar sempre ad aeternum. Então não adianta pensar que vai fazer patrimônio com equipamento porque não vai. Vai ter troca, eles vão virar sucata. 


E agora todo ano tem uma inovação diferente para acompanhar, fica complicado.

Você tem que ter um parceiro. Infelizmente a NEC não gostou muito do negócio, tanto que agora está com a Sharp, né? Mas agora esse parceiro novo, estou com dois projetos a laser. Os dois de São Vicente foram pela Lei Paulo Gustavo. Consegui ganhar em Santos e São Vicente, lá em São Vicente coloquei os projetores a laser e em Santos fiz a reforma.  

Vou te dizer que se não fosse a Lei Paulo Gustavo no início desse ano, não sei se chegava em junho não, viu? Porque pelo menos deu uma alimentada na moral, porque o negócio foi feio, deu uma sobrevida. Normalmente o cinema começava a melhorar em março, fevereiro sempre foi ruim, abril e maio iam bem. Mas esse ano foi complicado.


Mas agora começando a entressafra da paralisação de Hollywood, tende a melhorar as coisas…

Acho que para a produção do ano que vem a gente volta ao normal, e agora esse segundo semestre não costuma ser tão bom, mas acho que esse ano vai ser excepcional, a partir de outubro, novembro e dezembro. Dezembro então está dos sonhos. Ano passado não tinha absolutamente nada, dava vontade de fechar tudo. Mas esse ano está uma beleza, vai ter briga por data, vai ser ótimo.


Toninho, a última pergunta não é exatamente uma pergunta, mas vou abrir espaço para você acrescentar alguma outra informação, tanto em relação ao Roxy, quanto a exibição num todo.

Quando comecei a trabalhar, fui para Porto Alegre tomar conta de cinemas do meu pai e parceiros que fizeram negócio para ter cinema no Brasil inteiro, tinham em Porto Alegre, cinema em Juiz de Fora, São Paulo, né? Quando voltei para Santos, em 1983 tinha um cinema que era o Cinema 1, que também tinha no Rio de Janeiro, tinha aqui, com fumo-ar, aquele sinal que fumava e fiz uma casa de show, fiz o heavy metal, uma casa noturna e mexi com o show. Em 1983 foi um ano mágico, foi quando apareceu Paralamas, Kid Abelha, Lobão, foi uma explosão porque trouxe um telão da Nasa, que naquela época era um monstro, me deu problema, mas apareceram as bandas, então me dei bem.

No final, fui fazer show para 3 mil, para 6 mil, para 12 mil pessoas. Então no meu cinema, essa parte técnica é uma coisa que conheço, tenho um técnico aqui. Sempre fez uma diferença para o público, ele sabe disso.

Por exemplo: na sala 5 do Roxy tem caixa de som no teto desde 2004. A Dolby fez o sistema de som dela agora, mas coloquei caixa de som no teto em 2004, quando construiu-se a sala, porque ela é meio larga, bastante larga, não tem o formato muito convencional. Fiquei com medo do surround não atingir o centro do cinema, então fiz um delay de surround. Hoje uso para outras coisas, porque tem um aparelho que corta o som, que joga onde ele é tri amplificado. 

As pessoas sabem o que esperar do Roxy, a minha qualidade não é aquela coisa de apenas colocar som e imagem, não é aquela coisa que coloca para não mexer, para não dar trabalho. De vez em quando dá trabalho, mas tenho gente aqui para atender, então me arrisco ao máximo.

Mas os formatos às vezes não são tão normais, porque tento tirar o máximo. Agora, por exemplo, botei o laser na sala 5, a lente está tendo que vir em outra sala. Está legal, está bacana, mas está trazendo uma outra para poder atender e completar 100%, ficou faltando dois palmos de cada lado da tela. Porque quem conhece sabe que tem uma diferença brutal nisso aí.

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