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06 Outubro 2023 | Ana Paula Pappa

Especialistas apontam quais pontos devem ser levados em consideração ao se trabalhar no setor audiovisual

Temas como cota de tela, quantidade de salas e qualidade das produções foram algumas das mencionadas

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(Foto: Mariana Pekin)

Se tratando de cinema no Brasil e, especialmente no momento atual, há riscos em todas as pontas do setor, desde a produção até a exibição. No painel Riscos de se trabalhar com audiovisual: quem paga o pato?, Luiz Gonzaga de Luca, diretor da Cinépolis Brasil, Márcio Fraccaroli, diretor-geral da Paris Filmes e Karen Castanho, sócia-fundadora da Biônica Filmes, se reuniram para discutir esta questão no âmbito nacional, tudo sob moderação de Luiz Morau, CEO da Integradora Digital. 

De Luca iniciou o painel traçando uma linha do tempo do ponto de vista das salas de cinema no Brasil. “Antigamente, os cinemas de rua ocupavam os melhores pontos da cidade e em 1980, com a expansão do sistema financeiro, houve uma tomada desses endereços por parte dos bancos e, consequentemente, o fechamento dos cinemas existentes”, explicou.  

Muito se fala sobre a pouca quantidade de salas no país. “Quando dizem que há poucos cinemas no Brasil, é preciso analisar o que esta fala significa. Temos cidades com excesso de salas em comparação à quantidade de habitantes. No meu entendimento, não há menos cinemas e sim cinemas inadequados”, completou o presidente da Cinépolis. 

Segundo ele, fechar um cinema é mais caro do que abri-lo, pois envolve quebras de contratos, indenizações de pessoal e outras tecnicidades tributárias inerentes a este tipo de atividade. Isto posto, uma análise mais crítica sobre cada cidade deveria ser levada em consideração no intuito de conduzir um cenário mais homogêneo nesta questão.

Outro ponto levantado na discussão foi referente às produções nacionais. Para Karen, faltam salas para o cinema nacional. A formação da identidade na nação é construída pela imagem e o cinema é um grande potencializador disso. “Felizmente tivemos a aprovação da cota de tela, mas fora a pouca disponibilidade da sala para o cinema nacional, nos perguntamos muito sobre ‘o que o espectador brasileiro quer ver?’”, questionou. 

Para Fraccaroli, “o cinema ia bem no Brasil quando a população tinha orgulho do país. Hoje estamos em outro lugar - politicamente e economicamente - e que, pessoalmente, acho que vai demorar a passar”, comentou. 

Um dos entraves é a restrição orçamentária frente aos orçamentos competitivos de outras produções. Ao final, isso gera uma disputa quase desleal em toda a cadeia se compararmos com obras internacionais, principalmente as de Hollywood. 

Ainda segundo Karen, “em mercado de muito risco, tentamos diluir esses riscos. A Biônica e a Paris Filmes iniciaram um trabalho compartilhado discutindo os filmes e algumas tomadas de decisão. É importante a escuta entre a produtora, a distribuição e a exibição para conseguirmos resgatar o público para ver o cinema brasileiro”, finalizou. 

A Paris Filmes tem um posicionamento de trabalhar mais próxima das salas de cinema do que dos streamings e este modelo também tem seus desafios. “Estamos em um momento de transformação e talvez as salas de cinema tenham que se transformar também pensando em experiências coletivas que extrapolem o âmbito da exibição de filmes, por exemplo”, pontuou o CEO da Paris Filmes. 

Hoje o público é impactado por shows, pelo streaming, pelas redes sociais. Tirar o espectador de casa ficou ainda mais difícil, inclusive pelo alto valor dos ingressos. Mesmo assim, Fracaroli vê com bons olhos as dificuldades do dia a dia e enxerga oportunidades para que o mercado prospere. “Na Paris Filmes, nós distribuímos obras nacionais e internacionais, mas somente produções de qualidade e que façam sentido. O que o mercado nacional precisa é de bons filmes, sejam eles quais forem, mas precisam ter aderência ao público para construirmos o cenário que queremos”, disse Fracaroli. 

O que fica claro é que há uma necessidade de políticas que olhem 360 graus da cadeia produtiva entendendo todas as pontas de desenvolvimento da indústria e regulando melhor o mercado para que não haja excessos e nem escassez, mas sim qualidade no cinema que o país produz.

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