05 Outubro 2023 | Ana Paula Pappa
Legendagem e dublagem: especialistas apontam que falta planejamento para internacionalizar obras brasileiras
Pouca visão de mercado e verbas curtas para legendar e dublar são algumas das dificuldades enfrentadas pelas empresas
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O painel Legendagem e dublagem: como exportar as nossas obras cinematográficas trouxe Aluysio Riquet, da TransPerfect Media, e Javier Gagliano, da Centauro Comunicaciones, para um debate mediado pelo jornalista Roberto Sadovski. Dentre os assuntos, alguns dos mais comentados foram a falta de planejamento operacional e de investimento nesta etapa crucial para internacionalizar as produções nacionais.
Para Javier Gagliano, pensar na legendagem e na dublagem deve estar nos planos desde o início para que seja possível reservar investimento destinado a esta finalidade. Assim, será possível garantir o tempo hábil para que o trabalho seja desenvolvido com qualidade. “Um dos nossos pilares é a excelência, mas é muito complicado exigir excelência com um prazo de 20 dias. Em muitos casos também não recebemos o script das obras, o que dificulta ainda mais o nosso trabalho”, comenta.
Ao falar sobre planejamento, a discussão vai longe, entrando até em questões mais técnicas, como contratos de todos os envolvidos. Mesmo assim, as obras nacionais ainda têm apelo para o cenário global. “Os grandes distribuidores internacionais relevam a escassez da nossa indústria, que ainda está engatinhando”, explica Aluysio.
Para ele, além da falta de planejamento, ainda existe a falta de visão de negócio. “Quanto mais público atingir, mais receita gera e isso vira uma roda que trará mais investimento para novas produções nacionais”, conta o Diretor da TransPerfect Media.
Para que uma obra brasileira tenha apelo no mercado internacional, é preciso que ela faça sentido culturalmente para os países onde serão comercializadas. Seguindo este pensamento, a dublagem e a legendagem também precisam seguir uma adaptação cuidadosa e sensível do conteúdo e, para isso, é necessário tempo para uma entrega de qualidade. “O Brasil é referência em dublagem e faz um trabalho incrível de lip sync. É algo realmente artístico e que envolve muitas pessoas nesse processo”, conclui.
Segundo os painelistas, muitos produtores não acompanham esta etapa da forma que deveriam e poderiam ter mais cuidado com as obras para que o Brasil exportasse produções cada vez melhores. Há muitos processos internos que precisam ser seguidos para que uma obra de qualidade seja entregue e também consiga culturizar a obra original no país que será entregue.
Outra questão que aflige o setor é a utilização de inteligência artificial nas dublagens. “A prerrogativa é não discutir com a tecnologia, pois ela é irrefreável e já está aqui. O que buscamos é regulamentação de até onde ela pode ir. Já é possível colocar voz de um robô em humanos, por exemplo. Se tem qualidade ou não, é outra discussão”, pontua Javier.
Ainda sobre este assunto, é preciso levar em consideração a aceitação do público frente a esta dinâmica de criação artificial, pois ainda é algo novo que pode gerar estranheza.
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