05 Outubro 2023 | Ana Paula Pappa
Diversidade deve ser prioridade no audiovisual e não apenas uma commodity, apontam painelistas
O debate girou em torno das políticas que o setor pode adotar para construir um cenário cada vez mais inclusivo e com mais representatividade para o público
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A diversidade e a inclusão no audiovisual são temas urgentes e necessários. Pensar nas políticas que as empresas do setor têm adotado ajuda a entender o que podemos esperar neste sentido em um país onde as ditas minorias sociais estão, na prática, em maior número. O painel A commodificação da diferença trouxe provocações e debates sobre o assunto com profissionais da área que abrem caminhos, questionam e propõem uma nova forma de realizar as produções atuais.
Ariane Breyton, da Quanta Escola, Gabriel Ferreira, do Grupo Quanta, João Andrade, da APTA (Associação de Profissionais Trans do Audiovisual), e Keyti Souza, da Têm Dendê Produções, integraram a mesa mediada pela Tatiana Carvalho Costa, Presidente da APAN (Associação de Profissionais do Audiovisual Negro).
O objetivo deste painel foi apresentar o contexto, as perspectivas e os caminhos práticos para a promoção da equidade, além de debater se os processos no audiovisual estariam se apropriando da diversidade apenas como mais uma commodity em sua cadeia produtiva.
Segundo Tatiana, “para assumir a diversidade, temos que assumir a pluralidade. Hoje as narrativas ditas universais são masculinas, brancas e cis e é preciso que a gente quebre esse ciclo de violência entendendo que algumas pessoas tiveram mais acessos que outras, apesar do talento”, explica.
Muitas empresas lidam com a diversidade como se fosse apenas um checkbox, já que atualmente este é um tema de muita relevância, mas ainda não levam em conta todas as particularidades disso. Como essa pessoa será recebida pela equipe? Ela terá seus pronomes respeitados? Essas são algumas perguntas importantes e que também estão atreladas à saúde mental.
“Na APTA estamos olhando para essa questão de como acolher as pessoas nas equipes e nos sets. Precisamos que todas as produtoras comecem a normalizar a diversidade para que isso não seja usado como uma commodity. Algo que temos consciência é que precisamos ter um jurídico muito forte para dar suporte às pessoas trans que estão nas equipes”, ressaltou João.
Na ponta de quem atua com formação de profissionais para o mercado de trabalho, a Quanta Escola faz um trabalho de inserção de estudantes pretos e periféricos para que possam ter acesso e possibilidades de escolha. “Tivemos uma preocupação muito grande de cuidado, de olhar e de escuta para acolher esses alunos. Existe um trabalho constante de formação para que eles alcem outros voos”, explicou Ariane.
É curioso perceber como a mentalidade colonial ainda permanece viva na nossa sociedade. A maioria da população brasileira é negra e, mesmo assim, mais de 80% das produções são compostas por pessoas brancas. Para Gabriel, “historicamente, grupos brancos sempre puderam sonhar. Grupos minorizados não tiveram essas possibilidades e estamos chegando pela primeira vez em cargos com poder de escolha”.
Gabriel é um dos alunos formados pela Quanta Escola e hoje colhe os frutos do acesso que teve a uma boa formação, aliada ao seu talento e às oportunidades que pôde abraçar ao longo de sua carreira.
Um ponto importante a ser destacado é o quanto a diversidade agrega na tomada de decisão e, principalmente, na inovação, já que unir pessoas com formas de pensar diferentes traz novos pontos de vista.
“Para a Têm Dendê, as pessoas não são mercadoria para contabilizar números de diversidade. É muito importante pensar na diversidade nas empresas numa visão geral, não apenas para posar para a foto. Uma vez que as minorias chegam em cargos de lideranças, elas trazem seus pares e isso começa a virar algo natural”, afirma Keyti.
Falando do ponto de vista empresarial, o olhar para as contratações diversas precisa se tornar algo mais orgânico, pensando que essas pessoas também têm boas formações e que podem agregar igualmente. Se hoje a diversidade é vista como commodity, é preciso que se transforme em algo que vai se tornar saudável e orgânico no futuro.
Com todos esses esforços do lado da produção, faz-se necessário também pensar em como distribuir estas obras. “Não adianta produzir se não tiver onde mostrar!”, conclui João.
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