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04 Outubro 2023 | Yuri Codogno

Especialistas apontam caminho para as políticas públicas: "nós que mostramos onde [o Estado] está falhando"

Painel sobre o assunto aconteceu hoje (4), durante o segundo dia da Expocine 2023

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(Foto: Mariana Pekin)

Uma pauta que está sempre presente no debate do fomento ao audiovisual são as políticas públicas, que são vistas como essenciais para auxiliar em todo elo do desenvolvimento audiovisual do Brasil. Mas esse é um assunto que não se limita apenas ao nosso país, visto que representantes de nossos vizinhos Argentina e Colômbia comentaram sobre o tema no painel Políticas públicas para o audiovisual na América Latina, que aconteceu hoje (4) na Expocine 2023

Com mediação de Mauro Garcia, presidente executivo da BRAVI, participaram do debate: Adrian Ortiz, diretor executivo da argentina Cines Dino; María Teresa Salazar, produtora executiva e comercial da colombiana Preciosa Media; e Mario Levit, produtor, distribuidor e curador da APIMA Distribución, também da Argentina.

“A política pública necessariamente passa por uma regulação. Contudo, as falhas nas regulamentações geram falhas em todo mercado e se essas políticas não forem bem construídas, este mercado sofre”, ressaltou Mauro Garcia na abertura do painel. Um dos pontos abordados foi que as políticas públicas devem pensar também no futuro, não apenas no atual momento.

“Temos que continuar pensando em quem vai comprar. Essa linha editorial começa assim, mas do ponto de vista da distribuição e das questões das políticas públicas como eles devem ser, isso não dá espaço para o whitespace, aquele lugar que ainda não existe, mas que existirá quando o conteúdo estiver pronto. O filme não acaba quando a pós-produção se conclui, é preciso tratar disso nas políticas públicas, porque a vida do filme começa naquele momento. Precisa potencializar esse movimento”, destacou Maria Teresa. 

Outro ponto que recebeu bastante atenção é como as políticas públicas não são fixas, pois mudam a cada eleição. Segundo os painelistas, elas dependem dos políticos que estão naquele momento, de modo que suas visões pessoais podem se contrapor aos processos justos, se fazendo necessário uma proteção às políticas públicas vigentes para que elas perdurem mesmo em caso da oposição política vencer as eleições. 

“Na Argentina, estamos em um novo momento, por causa das eleições. A cada quatro anos as políticas públicas mudam e nos seguintes quatro anos ainda desconhecemos o que irá acontecer. Muito do que falarmos agora, daqui quatro ou cinco semanas pode mudar”, alertou Mario Levit. Aliás, no país hermano as eleições presidenciais acontecem no final de outubro, com o ultraconservador da extrema-direita Javier Milei despontando como um possível favorito, além do peronista Sergio Massa e da candidata Patricia Bullrich.

As políticas públicas, ainda de acordo com os especialistas, precisam ser mobilizadas pelos players do mercado, evitando que o Estado as traga com leis e regulamentações atrasadas. “Eu vejo que [o problema] não é a indústria, mas um monte de áreas que procuram se conectar ao estado. E claramente isso não tem resultado, porque o estado não tem staff e não tem pessoas preparadas para ajudar a exibição, distribuição e produção”, ressaltou Adrian. 

Um exemplo direto da Argentina foi uma cota de tela bastante elevada que, ao buscar fazer o certo, acabou errando na dosagem e prejudicando toda a cadeia. Mario, aliás, disse que os discursos sobre a cota de tela no debate brasileiro também apresentam discursos retrógrados, em meio a alguns poucos que estão de acordo com a necessidade atual. 

Para conseguir contornar a situação, o ideal é que os recursos do Estado devem ser compartilhados entre exibição, produção e distribuição. “Temos outros problemas nas políticas públicas, mas por muito tempo a questão da distribuição [na Colômbia] era inexistente. Então as políticas públicas são um ecossistema. Temos que criar uma resenha maior em volta do filme, que gera força em outros espaços e geram interesse. Precisamos que os conteúdos gerem interesse no público. Estamos oferecendo espaços para que esses conteúdos existam, mas não estamos criando condições para que melhorem esses conteúdos”, desabafou Maria. 

Aliás, outra questão foi que os palestrantes entraram em alta concordância em um que talvez possa ser o ponto-chave da questão: a formação de público, algo que o Estado deveria olhar com mais carinho. Mario destacou como a situação é crítica nas bilheterias do mundo todo, além de ter chamado atenção para os jovens que preferem as telinhas do celular do que as telonas dos cinemas, de modo que seja necessário se movimentar para que esse potencial público seja alcançado e mobilizado.

Adrian destacou: “Temos que decidir ou aprender aquilo que é o perfil do consumidor, se não será muito difícil. Um exemplo claro: quando íamos nos cinemas no passado, adolescentes de até 14 anos viam animação. Hoje, uma criança de 8 anos quer ver um filme de terror. Os modos de consumo mudaram. E se não entendermos, essa conversa não poderá contribuir para um resultado final”. 

Para ele, a geração de público precisa ser focada em entender a audiência e em trabalhar melhor a experiência cinematográfica. Maria, por sua vez, completou: “precisamos formar público, precisamos resgatar todos aqueles adolescentes e que compareçam nos cinemas, mas que vejam o que foi feito para eles. Os jovens não estão recebendo atenção dos cinemas. O Estado sempre chega atrasado, somos nós que mostramos onde ele está falhando”.

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