25 Abril 2023 | Renata Vomero
O cinema veio para ficar: com mercado otimista, executivos denotam recuperação e desafios atuais
Primeiro dia da CinemaCon reuniu executivos internacionais e dos EUA para falar sobre desafios do momento e o cenário atual
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Como faz tradicionalmente, a CinemaCon abriu a sua programação com uma agenda voltada para discutir o mercado internacional, chamado de International Day. O programa trouxe executivos da área de distribuição e exibição para destacarem importantes pontos do momento atual da indústria. A partir disso, a convenção estreou sua programação oficial.
O evento, que está acontecendo até o dia 27 de abril em Las Vegas, abriu as conversas com um painel com Ajay Bijli, diretor geral da PVR INOX Limited e fundador da PVR Cinemas, e Mark Viane, presidente de distribuição internacional de cinema da Paramount Pictures.
Ambos trouxeram alguns insights internos das empresas, mas a apresentação de cada um convergiu no fato de que estamos em um momento de reaquecimento do mercado, com o cenário mais próximo, até o momento, de antes da crise.
Nesse sentido, Viane enfatizou que os números de bilheteria de 2022 estão apenas 39% abaixo de 2019. E que este primeiro trimestre foi apenas 10% abaixo do mesmo período de antes de começar a pandemia, em 2020. Aliás, a Gower Street Analytics, que consolida os dados de receita de cinemas no mundo e faz análises de mercado, atualizou a projeção de bilheteria global de 2023 de US$29 bilhões para US$32 bilhões, um excelente resultado se mantivermos o ritmo atual.
Ajay Bijli também ressaltou a importância da indústria não se apoiar integralmente nos filmes lançados por Hollywood, mas também reforçar a produção local para que haja maior equilíbrio entre ambos. A rede PVR conta com mais de 1500 salas na Índia e soma 120 mil pessoas por ano por sala.
Um dos destaques dessa programação internacional foi a participação de Jeffrey Cole, Diretor do Centro de Digital Future da USC, no painel intitulado, em tradução livre, “Os cinemas não vão a lugar nenhum”. Veterano da indústria de entretenimento, o pesquisador atuou prestando consultoria entre os players de música e jornalismo diante da transição para o digital e destacou o quanto o streaming e a mudança de consumo seriam impactantes para ambas. No entanto, ele destaca que o mesmo não tem impacto negativo na experiência de cinema, por ela acontecer no coletivo e fora de casa. Quem deve sofrer mais com o streaming será, portanto, a TV, especialmente a TV aberta.
Entrando também na programação formal da CinemaCon, já incluindo os destaques da região doméstica, as conversas pareceram girar em torno do que mais parece ser a preocupação da indústria no momento: como fazer as audiências voltarem para os cinemas.
Um outro painel reuniu Tony Chambers, diretor de distribuição global de cinema da Disney, e Jane Hastings, diretora geral e CEO da EVT. Os executivos se juntaram justamente para debatera questão da frequência do público nos cinemas.
Para Chambers, dois pontos devem ser os principais a serem trabalhados com o público: a urgência, ou seja, a sensação de que a pessoa estará perdendo algo fantástico e único se não for no cinema assistir a aquele filme; e também a experiência cinematográfica, de que estar ali é algo que não se pode replicar em casa.
Neste sentido, também foram destacadas questões como a janela de exibição, que deve ser mantida no modelo mais próximo do tradicional, e o preço, que pode ser menor ou maior a partir de cada formato e data.
Jane comentou o quanto os jovens estão dispostos a pagar pela experiência, e que o formato PLF (Premium) faz sucesso com esse grupo em específico. Ela ainda ressaltou que não há um problema da volta de pessoas, mas sim da volta de filmes.
Esse assunto também foi debatido em outro encontro que reuniu exibidores e distribuidores para falar sobre o National Cinema Day, iniciativa criada no último semestre do ano passado nos EUA oferecendo ingressos a US$3 (a ação foi replicada com sucesso no Brasil com a Semana do Cinema).
Na ocasião a ideia foi pensada porque se tratava de um período de escassez de lançamentos nos cinemas, então, o dia serviu para atrair o público para a sala escura e celebrar essa experiência. Inclusive, muitas pessoas voltaram pela primeira vez desde o início da pandemia aos cinemas naquele momento.
Tim Richards, fundador e CEO da Vue International, destacou que havia esse problema na quantidade de filmes, mas que agora há uma estabilidade, o que dá oportunidade para ver quais sãos os problemas reais que impedem as pessoas de voltarem, destacando que o desafio é fazer com a frequência suba e não, especialmente, que seja uma frequência ocasional, de acordo apenas com um filme ou ação específica.
Quanto ao Cinema Day, também replicado na Europa, o consenso geral é de que há melhorias para aplicar, entre elas, o desenvolvimento de uma estratégia pensada com maior antecedência, e também a possibilidade de fazer não só apenas em um dia, como foi ano passado.
Quanto ao preço, Eduardo Acuna, presidente da Cinépolis Américas destacou que a rede já fez iniciativas para baixar preços no México em outras ocasiões e que o resultado foi muito positivo. A rede testou diminuir os preços em 15% e viu um incremento de 30% nas receitas em tais ocasiões.
Claro que isso é algo que precisa ser pensado e pensado em conjunto, como os executivos bem destacaram. Um outro ponto levantando foi a urgência de justamente ter um maior compartilhamento de dados e informações entre si para que a indústria como um todo consiga aplicar melhorias, criar estratégicas assertivas e fazer novas ações para atrair mais público e receita.
A ideia geral é que a indústria se mantenha atenta e se adapte às mudanças de comportamento, crie novas experiências e aprimore as estabelecidas, trabalhe na divulgação para que o público sinta urgência de conferir os lançamentos na sala escura, use dos programas de fidelidade para observar dados e até crie novos produtos que vão além da própria exibição de filmes.
O primeiro dia foi encerrado com a aguardada apresentação das novidades e matérias da Sony Pictures.
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