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29 Maio 2024 | Yuri Codogno

Diante de cenário desafiador do setor, aluguel de projetores se apresenta como alternativa para exibidores: "É realmente a melhor opção"

Portal Exibidor conversou com seis players do mercado - de fabricantes a redes de exibição - para entender o emergente mercado de locação

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(Foto: Divulgação)

Há pouco mais de um ano, a Christie e a OrionPC anunciaram, na CinemaCon 2023, o lançamento de um programa de aluguel de projetores para os cinemas do Brasil, de modo que a primeira empresa seria responsável pelo fornecimento do equipamento, enquanto a segunda faria o financiamento, instalação e manutenção. O projeto continua acontecendo, mas fica a dúvida no ar: o quão impactante é para os exibidores alugar projetores ao invés de comprá-los?

Um ano depois do anúncio, o Portal Exibidor conversou com diversos players do mercado para entender como está o emergente setor de locação de projetores e elucidar importantes questões sobre o presente e futuro desse serviço. 

Além de Rogério Silveira, sócio e diretor de marketing da OrionPC, e Ricardo Laporta, gerente de vendas da Christie no Brasil, ouvimos também: Douglas Mandrot, diretor executivo da Cineflix, a primeira grande rede a aderir ao programa; Edilson Andrade, diretor do Grupo Imperial, que possui o Cine Itaguari, na cidade de Santo Antônio de Jesus (BA); Gisele Freitas, business development executive da Barco no Brasil; e Jeffrey Kaplan, responsável pela Sharp

“O mercado recebeu muito bem o modelo, que leva um nível único de tranquilidade ao exibidor, com até oito anos de garantia no projetor, manutenções preventivas e corretivas, instalação, entre outras vantagens”, avaliou Rogério Silveira, da OrionPC. 

Para entender as vantagens da locação, é necessário comparar com a compra de um projetor. É um pouco complicado falar de valores absolutos, visto que para equipar uma sala o preço pode mudar por diversas variáveis, mas um projetor custa cerca de R$ 300 mil a R$ 1 milhão (mais impostos de importação), segundo nossa apuração. A compra é feita à vista com o fornecedor, com a possibilidade de financiamento através de um banco, que costuma oferecer juros relativamente abusivos pelo medo de não obterem o retorno esperado com o empréstimo. Desta forma, o valor mensal que um exibidor paga mensalmente pela compra de um projetor é, de certa forma, personalizado, a depender do preço do equipamento e das condições oferecidas do financiamento. 

“O exibidor precisava ir até o banco, conseguir um financiamento e negociar a compra deste equipamento junto a uma revenda. Depois, precisava manter este equipamento funcionando durante cinco a dez anos sem a menor previsibilidade de custos e isso trazia uma imensa insegurança. Hoje, o valor mensal que o exibidor pagará no modelo de locação com serviço garantidamente é muito menor do que o valor gasto com peças de reposição. E é isto que criamos: um modelo em que há previsibilidade total em relação ao custo de manter uma imagem na tela em condições ideais”, disse Ricardo Laporta, da Christie.

Rogério explicou um pouco mais sobre como funciona a locação: “O contrato é simples, porém muito seguro ao exibidor, pois garante a disponibilidade do equipamento por um tempo muito maior que o convencional. Como exemplo, citamos que em caso de sala parada, há um SLA que pode culminar com a substituição do projetor por equipamentos reserva que estão estrategicamente posicionados pelo país. O tempo de contrato varia de 60 a 96 meses e o valor mensal depende do modelo do projetor”.

Ou seja, entre cinco e oito anos, o exibidor possui um contrato para utilizar o projetor em sua sala e basicamente todos os gastos de manutenção são de responsabilidade das empresas. Mas a economia em alugar não está apenas nisso. 

“A vantagem primária se dá no aspecto financeiro, pois como no investimento inicial o custo dos projetores tem um peso considerável, isso é diluído no fluxo da operação. A economia se dá na manutenção preventiva [feita pela empresa contratada) e também por ser projetor a laser, que gasta menos energia elétrica”, disse Douglas Mandrot, da Cineflix, cliente da OrionPC desde que o programa foi lançado. 

Também cliente da mesma companhia, o Cine Itaguari está há oito meses operando com projetores alugados, decisão tomada após precisar substituir um dos equipamentos próprios. Edilson Andrade lembra que, quando compraram o projetor, foram necessárias 60 parcelas para liquidação total, em uma situação em que as taxas de juros foram favoráveis - algo que, segundo ele, não vem acontecendo nos dias atuais.

“Antes de iniciarmos nesse formato, tivemos algumas resistências, mas depois que aderimos vimos a positividade e funcionalidade desses equipamentos que vem correspondendo na íntegra com nossas expectativas. Detectamos uma economia mensal de aproximadamente 15% em relação à aquisição de novos projetores”, completou Edilson. 

Os exibidores também podem encontrar um outro benefício na locação de projetores. Ao ser adquirido, qualquer produto perde parte de seu valor agregado e, com o tempo, passa a valer cada vez menos. O desgaste, necessidade de manutenção e até mesmo o avanço tecnológico - que pode tornar obsoletos alguns equipamentos mais antigos - auxiliam nesse processo de perda de valor.

Na locação, porém, essa perda não se dá pelo fato do exibidor não ter a posse do produto e, desta forma, não ter o ônus de seu desgaste. Desta forma, o cliente pode até ganhar dinheiro com uma possível restituição do imposto de renda. Ao comprar um produto, a empresa “mantém” o valor, então legalmente precisa ser declarado; ao alugar o projetor, o exibidor está contratando um serviço, o que pode ser deduzido. “O exibidor que estiver em lucro real tem um ganho de mais 24% do contrato em impostos, sem falar na ausência de descapitalização ou em aumento de endividamento com os altos juros de nosso país. Portanto, podemos afirmar que é mais barato alugar do que comprar um projetor”, completou Rogério. 


E para as fabricantes, como funciona a locação de projetores?

Se para os exibidores - tanto os grandes quanto os de menor expressão - o mercado de aluguel de projetores tem se mostrado vantajoso, para as empresas que fabricam os equipamentos a situação é parecida, apesar de ter suas diferenças no modelo de negócio.

“No modelo de locação aliado a serviço, a Christie, como criadora deste modelo dentro do nosso mercado, precisa estar muito mais próxima e precisa viver o dia a dia do integrador que cuidará desse equipamento para o cliente final durante cinco ou oito anos. Neste modelo, o nosso comprometimento e a nossa performance precisam estar em sincronia com o que está sendo proposto pelo nosso integrador, a OrionPC”, disse Laporta.

E o negócio tem funcionado bem o suficiente para que outra fabricante esteja entrando no ramo. Ao Portal Exibidor, a Barco disse em primeira mão que está lançando o seu próprio programa de locação de projetores. 

“Como uma marca global, a Barco opera em muitos setores diferentes, incluindo o espaço de eventos, em que o aluguel é comum. Para o cinema, empregamos muitos modelos de negócios para apoiar nossos clientes a encontrar o caminho certo para a projeção a laser. Estamos satisfeitos em poder oferecer flexibilidade adicional por meio de nossos parceiros, como o programa de locação feito pela Santa Clara. Acreditamos que a locação de projetores é uma alternativa vantajosa e flexível para a atualização tecnológica das salas de cinema, contribuindo para o sucesso da indústria cinematográfica nacional”, ressaltou Gisele Freitas. 

A Santa Clara, por sua vez, foi procurada por nossa equipe de reportagem, mas não respondeu até o momento de publicação desta matéria. 


Desafios e futuro do setor

Até o momento, exibidores, integradores e fabricantes estão em consenso que não há verdadeiros problemas para esse segmento. Mas isso não significa que não haja obstáculos.

“Na nossa visão, não existem pontos negativos, mas sim desafios e barreiras, e o primeiro deles é criar condições para que os nossos potenciais clientes realmente entendam como este modelo funciona. Costumamos dizer que não estamos fazendo a locação de um equipamento, mas sim que estamos garantindo que a imagem na tela daquele cinema será a melhor imagem do mundo. É isso que estamos vendendo e é isso que estamos proporcionando ao mercado dentro de um modelo novo que ainda tem muito a crescer”, ressaltou Laporta. 

A perspectiva da OrionPC, por sua vez, é muito semelhante, ressaltando como a mentalidade coletiva precisa ser trabalhada para que o aluguel de projetores alce voos maiores no mercado. “Sem dúvida alguma, [o maior desafio] é o mindset dos exibidores. No Brasil, é muito forte o conceito de ‘posse’ do bem. No entanto, quando apresentamos as vantagens financeiras e operacionais numa reunião, conseguimos deixar claro que esse é o novo presente no mercado de cinema”, explicou Rogério. 

Para os exibidores, o status apresentado pelos seus fornecedores se mantém, mas ressaltam que até o momento a locação foi apenas solução, não problema. Douglas, da Cineflix, diz que o único aspecto que poderia ser negativo é se a sala não atingir o breakeven, mas esse é um problema que também poderia ter quando se financia um projetor.  

Já Edilson, da Cine Itaguari, falou sobre o estudo junto de técnicos e empresas que é realizado antes de contratar o serviço de aluguel e que, por enquanto, houve um retorno muito positivo em relação às máquinas: “Com apenas oito meses atuando com projetores alugados, até o momento não registramos pontos negativos que necessitam ser abordados”.

Entretanto, um ponto interessante foi apresentado por outra fabricante, a Sharp. Apesar de ainda não ter ingressado nesse mercado, a empresa vê o setor com bons olhos, considerando um “meio maravilhoso” de ajudar os exibidores que não tem como comprar os seus próprios projetores, e está procurando por meios de possibilitar a criação de um programa de locação.

Os pontos levantados por Jeffrey Kaplan, entretanto, são: “Um dos problemas com o aluguel de projetores é a segurança. Se um exibidor parar de pagar, como fica a situação de quem aluga? Portanto, precisamos encontrar um parceiro sólido e também um parceiro financeiro em cada país para montar um programa de locação”. 

Mas, apesar disso, a avaliação do mercado é positiva. Todos os elos - ao menos nesse primeiro momento - demonstram interesse em uma diversificação no mercado e projetores, abrindo possibilidade para que exibidores, fabricantes e intermediários encontrem mais caminhos para alcançar seus objetivos.

Por fim, Laporta comentou: “Para nós, hoje o mercado de locação - ou o conceito de locação aliado ao serviço - é realmente a melhor opção para o exibidor atualizar suas salas ou mesmo abrir um novo cinema. Este mercado, que nós iniciamos no país e é uma novidade até mesmo no exterior, continuará crescendo e se solidificará como uma maneira inteligente e financeiramente atrativa para todo e qualquer exibidor”.

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