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Artigo / Audiovisual

27 Maio 2020

O desafio de nos enxergar para superar a crise

A saúde e a economia são prioridade neste momento de pandemia, mas nossas mentes em quarentena, nosso desenvolvimento após essa crise, precisam de cultura, que tem papel essencial no resgate de nossa identidade.

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A quarentena nos reserva um olhar para dentro. Em um momento dramático, além da necessidade de isolamento em um Brasil que se torna o segundo país do mundo em número de casos de Covid19 - com mais de 350 mil infectados e mais de 22 mil mortos -, somos obrigados a nos reinventar. O setor do audiovisual e entretenimento é um dos mais impactados desde o começo da pandemia. Foi atingido drasticamente tanto na sua distribuição e exibição, quanto na sua produção e viabilidade. Temos, no Brasil e no mundo, o desafio de encontrar novos modelos de negócio, de produção e de entrega para seguir em frente.

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A crise é aguda e devastadora. De Hollywood, passando pela Europa e Ásia, aos países emergentes. No audiovisual nacional, não é diferente. Possivelmente é pior, pelo agravamento da crise que já enfrentávamos. Sabemos que o audiovisual brasileiro já vinha se debatendo há pelo menos dois anos, por uma crise política e pela busca por um modelo que equilibrasse a relação entre investimento e retorno para o setor.

A gravidade do que ocorre em 2020 exige um aprofundamento do debate. À discussão sobre os necessários subsídios ao setor – o que existe no mundo inteiro -, devemos agregar uma profunda reflexão. Não podemos contar apenas com subsídio público, é necessário também avançarmos em modelos privados complementares de captação.

O caminho das perguntas é longo. Mais do que a paralisação do parque exibidor, nos defrontamos com a interrupção das produções. Muitas dúvidas nos rondam. Não sabemos quando nem de que forma a retomada ocorrerá. E sabemos que quaisquer planos estabelecidos nesse momento, estão passíveis de mudanças recorrentes.

Encontraremos formas de filmar à distância? O streaming, já consolidado, se fortalecerá ainda mais? O drive-in renascerá ou será passageiro? Como as salas de cinema serão adaptadas ao mundo pós-pandemia? O uso da tecnologia avançada de pós-produção como recurso para  mudanças no set de filmagens será decisivo? Como retomaremos a indústria nacional? Como os projetos se viabilizarão? Como consolidar processos de fortalecimento de captações privadas?

São perguntas difíceis de serem respondidas de bate-pronto. Mas o caminho do debate é a alternativa possível. Precisamos olhar para fora, observar e aprender com as experiências dos países que enfrentam a Covid19 há mais tempo. Mas, sobretudo, é hora de olhar para dentro e adaptar as especificidades do mercado local. Temos o desafio de nos enxergar para superar esta crise, seja qual for o tempo da travessia.

Precisamos lembrar diariamente qual é o papel da cultura no Brasil. A questão é relevante nesse momento. Cultura é promoção de identidade. Dá rosto e voz a um país, a um povo, a uma sociedade. Cultura também é economia. É desenvolvimento social. É saúde mental, portanto física também. Essa crise intensifica uma necessidade que não é nova: a cultura brasileira precisa ser tratada como merece, como atividade econômica, social e artística relevantes.

A saúde e a economia são prioridade neste momento de pandemia, que não sabemos até quando se estenderá. Mas temos ao menos uma certeza: nossas mentes em quarentena, nosso desenvolvimento após essa crise, precisam de cultura, que tem papel essencial no resgate de nossa identidade.

Joana Henning
Joana Henning

É CEO do Estúdio Escarlate. Atua desde 2002 nas áreas de audiovisual, entretenimento e multiplataforma, assumindo funções de planejamento e execução de conteúdos artísticos, gestão de negócios e produção de eventos. Implantou e coordenou projetos como Especiais de Fim de Ano e Lançamento de Grades da Rede Globo, Globosat e MTV, SESI Ação Global, Rua do Circo - Rede Cirque Del Monde, FLUPP - Festa Literária Internacional das Periferias, Futr On Air (Rio x San Francisco), Planeta Ginga Film Festival (França-Brasil), Rio +20 Peace Child, Turnês Musicais Nacionais e Internacionais, Circuitos e Festivais de Teatro e Circo, entre outros. Cria, elabora e executa projetos na área de desenvolvimento cultural e social. Como CEO da Escarlate, está à frente de projetos como o filme “De Perto Ela Não é Normal”, comédia baseada no monólogo de Suzana Pires, que teve a estreia em abril adiada em consequência da pandemia da Covid 19. A Escarlate também toca projetos dos longas “Quem Matou Celso Daniel”

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