18 Maio 2020
Os impactos do COVID no mercado audiovisual
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Vivemos um momento único em nossas vidas. Para a grande maioria que não passou por guerras, talvez a maior crise, sem precedentes. Nos últimos dias não assisti lives mas conversei com pessoas que muito admiro. Adoro a troca de ideias, impressões e percepções, e nesse momento, mais que essencial.
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Entre as conclusões que divido com colegas e amigos como Mauricio Fittipaldi, Eloisa Winter, Iafa Britz, entre outros, destaco que o impacto do Covid-19 no mercado audiovisual será essencialmente acelerar mudanças que já se apresentavam no cenário.
Regionalização em contrapartida a globalização
Temos observado nos últimos anos a ascensão de governos extremistas, xenofobia e retrocesso no processo de globalização. Durante a pandemia, encaramos fechamento de fronteiras, questionamento sobre a cadeia de produção global e medidas protecionistas locais.
A guerra econômica EUA / China deve se acentuar e a posição da União Europeia face ao dilema ainda maior, afinal, o que a união tem feito como bloco na luta contra a pandemia?
O impacto para o audiovisual não é claro, mas algumas das perguntas que nós fazemos são:
- Qual o futuro das coproduções internacionais?
- Haverá retrocesso no consumo de conteúdo internacional?
- Quando voltaremos aos festivais internacionais e de mercados? Afinal se há um mercado que é efetivamente global, é o nosso!
Crise econômica e desemprego
"A proporção da economia global paralisada neste momento ronda provavelmente os 50% do PIB mundial, e isso não inclui a China, que, de uma forma geral, está de fora das atuais paralisações", avalia Ben May, economista da Oxford Economics, empresa de previsão e análise econômica.
A pandemia gerou uma crise econômica em curtíssimo prazo e o desenrolar dependerá muito de quanto tempo levaremos para encontrar a cura ou vacina, e também de como os governos agirão daqui pra frente. O Banco Mundial prevê a queda de 5% do PIB do Brasil este ano - Google e Facebook sozinhos devem perder US$ 44 bilhões em publicidade.
A diminuição dos investimentos em publicidade afetará também a receita de canais de TV e plataformas de AVOD. Outro impacto direto será na produção de peças publicitárias.
Qual será o impacto sobre assinaturas de TV ou VOD? É certo que a pirataria tende a aumentar. O grande desafio da indústria no Brasil é, foi e será acabar com a pirataria.
Mudança da dinâmica de mercado de cinema
A bilheteria global atingiu 42 bilhões de dólares em 2019, com leve crescimento anual. No mercado norte americano, a queda de bilheteria já foi sentida em 2020, porém se mantém como maior mercado de cinema do mundo, com 27% do share.
Com a crise atual, as grandes redes de cinema foram fechadas e a previsão é de abertura apenas no segundo semestre deste ano. Mas não sabemos quanto tempo levará para que a população se sinta confortável para frequentar shopping centers e salas de cinema. Salas menores podem não sobreviver à crise.
No curto prazo, alguns filmes foram lançados diretamente nos meios digitais. É o caso de Star Wars e também de outras grandes franquias da Disney, que tiveram seus lançamentos digital adiantado.
Será que a tradicional ordem de janelas mudará para sempre? É o que a Netflix vinha tentando há anos, e talvez para alguns filmes essa mudança realmente ocorra.
Vale lembrar que as receitas da exibição em cinemas ainda respondem por aproximadamente metade do resultado dos grandes estúdios de forma direta - sem considerar os desdobramentos de licenciamento de produtos, dentre outros.
Crise política da ANCINE e visão mais liberal
Os últimos meses foram marcados também pela falta de novas linhas de financiamento público via Fundo Setorial, e pela não renovação do Artigo 1º da lei do Audiovisual.
Sem a distribuição de filmes estrangeiros em cinema no ano de 2020 como efeito da COVID-19, haverá também a redução de recursos via Artigo 3º de majors, dificultando ainda mais a viabilização de longas metragens nacionais. Por outro lado, a ANCINE tem se mobilizado para auxiliar o setor e trabalha com maior agilidade na liberação de recursos de projetos aprovados.
O impacto futuro para a distribuição será a redução do número de produções nacionais e a necessidade de novos modelos de financiamento. As empresas do setor que terão sucesso são aquelas que contam com know how e acesso a financiamento, e confiança para prestação de serviços aos grande canais e plataformas.
Sabrina Nudeliman
CEO da Elo Company. Formada em administração de empresas na FEA-USP e Florida International University (International Business), possui cinco anos de experiência na Consultoria McKinsey & Company e dois anos como líder de comunicação e marketing - Ink Group e Edelman Group. A executiva foi homenageada no Rio Content Market 2016 e já ministrou diversas palestras e aulas no Brasil e no exterior, entre elas, no Festival de Cinema de Cannes.
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