14 Maio 2020
Acústica
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- A A nossa indústria é áudio – visual. O áudio é um dos fatores que podem afetar, e muito, a exibição de um filme. Para que o espectador tenha a melhor experiencia, não basta ter os equipamentos de som adequados e bem regulados. A sala deve também reunir condições acústicas que tirem o máximo do conteúdo. Estas condições envolvem solucionar dois questões fundamentais e diferentes para os quais existem dois recursos que frequentemente são confundidos: Isolamento acústico e tratamento acústico. Ambos resolvem problemas muito diferentes.
Vejamos primeiro o isolamento acústico. Ele diminui a intensidade de ruídos externos a sala. Entendemos por ruído qualquer som não desejado e alheio ao conteúdo do filme. Até o som do filme da sala ao lado neste caso, é considerado ruído.
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Quando o som exterior a uma sala se torna perceptível dentro dela, cria uma perturbação para o espectador, especialmente nos trechos em que o filme tem um som mais sutil. O auditório é uma fábrica de mundos imaginários, e precisa ser um santuário, livre de interferências. As altas potencias do som utilizadas hoje tornam este um problema sério, muito frequente nos cinemas e especialmente nas baixas frequências, que se atenuam menos que as altas. Existem soluções muito eficientes de isolamento, mas é recomendável que sejam aplicadas na fase de projeto e construção do complexo, onde tem um impacto menor. Resolver depois é possível, mas dispendioso e demorado, já que envolve aspectos que vão desde modificar os muros, a vedação do teto, o projeto do ar condicionado etc., tudo a ver com a própria infraestrutura do complexo. Por isso, quando considerado durante a construção, o impacto é mínimo. O interessante é que o isolamento acústico funciona em ambos os sentidos. Ao isolar o auditório das interferências externas, também o tornamos menos interferente para as salas contiguas. O isolamento dificultará que a energia acústica vaze para o exterior. Outro dos elementos que podem gerar ruído é o sistema de ar condicionado, próprio ou de outras salas. Os componentes, entre eles os compressores, ventiladores, bombas de água, tudo que tiver motor, devem ficar fora da sala, com isolamento mecânico para evitar transmissão de vibrações pela estrutura. Os dutos devem possuir atenuadores de som e a seção deve ser o suficientemente grande para transportar o ar necessário com velocidade reduzida, para evitar gerar ruídos por turbulência ou chiado nas grades de distribuição. As mesmas considerações devem ser aplicadas aos retornos de ar. Se um mesmo duto alimenta duas salas, devem ser tomadas precauções para evitar o efeito by-pass, vazamento de som de uma sala para a outra pelos dutos.
A outra solução, o tratamento acústico, resolve o problema da reverberação e reflexões excessivas. O comportamento do som dentro de um local é um fenômeno muito complexo. Todas as superfícies dentro da sala refletem o som, incluindo o teto, as poltronas, os muros laterais e do fundo, o muro por trás da tela etc. O que ouvimos é a combinação do som original emitido pelas caixas de som mais todos os sons refletidos. E esta combinação é bastante complicada, porque em cada um de todos os pontos onde o som bate ele é modificado ao ser refletido, dependendo do material. E como para cada um destes pontos o som viaja por percursos de comprimentos diferentes, para cada ponto da superfície se atrasa proporcionalmente. E esse atraso é percebido pelo nosso ouvido. Ou seja, um resultado complexo porque é uma soma de inúmeras reflexões, cada uma modificada e atrasada em tempos diferentes. Este é o fenómeno básico estudado pela ciência da acústica. Precisamente, esta ciência é o que permite analisar e projetar como tratar a maioria das superfícies com materiais acusticamente absorventes para diminuir e controlar essas reflexões. Não é conveniente absorver demais, por motivos económicos e de percepção. Há limites máximos e mínimos para a reverberação em função do tamanho da sala. Conseguir bons resultados não é uma tarefa simples. Aqui é preciso um profissional especializado. A acústica é coisa séria.
Um outro aspecto importantíssimo é a regulagem do sistema de som. É feita considerando as caraterísticas acústicas da sala e seu tamanho, e tem um padrão internacional que normatiza como o som deve ser reproduzido, para ter consistência entre produção e a exibição em qualquer sala, para que o conteúdo chegue ao espetador da forma que foi concebido. Mas este é um tema para ser tratado em outra entrega.
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com
Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.
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