28 Abril 2020
Cultura Maker e o Audiovisual
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Até pouco tempo atrás, o que fazia sentido era: prático, descartável e pronto para consumo. Pagava-se pela facilidade. Antes mesmo de termos que ficar em casa no isolamento social e fazermos nós mesmos da "faxina ao webinar", gerações começaram uma mudança de mindset, que gerou um novo comportamento e postura diante do mundo. Uma das vertentes que se identificou nesse ajuste está ligada ao que chamou-se de Cultura Maker. Um movimento “Do it yourself” ou, em bom português, “Faça você mesmo”.
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O conceito principal é que qualquer pessoa, dotada das ferramentas certas e do devido conhecimento, pode criar as suas próprias soluções para problemas do cotidiano. Originalmente, este conceito estava ligado essencialmente ao ambiente digital. Mas agora se expandiu inclusive para outros segmentos - até a confecção de nossas próprias máscaras para sair de casa neste período de quarentena. E ao que se chama aqui de problemas do cotidiano, podemos ampliar para produção de um vídeo, um podcast, um programa, uma série… e infinitos conteúdos audiovisuais.
Não por acaso, vemos plataformas e aplicativos relacionados à Cultura Maker ganhando grande expressão, entre eles Instagram, Youtube e Tik Tok. Em novembro de 2019 o Tik Tok alcançou a marca de 1,5 bilhão de downloads no mundo, ficando em quinto lugar entre os apps, atrás somente de Whatsapp, Messenger, Facebook e Instagram.
O Tik Tok se auto classifica "uma rede social audiovisual" e um de seus gestores avisa: "o TikTok pode ser explorado para exibir músicas, filmes e séries, por exemplo. Estamos sempre procurando novas oportunidades para criar valor para nossos criadores e marcas." Vale nosso olhar atento e nossa percepção de oportunidades no segmento da indústria audiovisual.
O que tem impulsionado o movimento é o surgimento de novas tecnologias e da transformação digital acelerada. A famosa quarta Revolução Industrial, que converge várias tecnologias - da digital à biológica, por exemplo. Quando o mundo tiver acesso ao 5G, vamos poder buscar novas possibilidades e programas que vão permitir ainda mais produções e postagens feitas por quem tem a ideia; o dono do projeto. O acesso massivo à internet banda larga vai impulsionar ainda mais o crescimento deste movimento e quem tem perfil "maker" vai poder colocar em prática projetos que antes eram feitos por empresas, agências ou grandes produtoras de conteúdo.
Um exemplo de que a Cultura Maker está difundida em vários segmentos é a quantidade de escolas do mundo que hoje oferecem aulas de robótica aos alunos, já a partir do ensino fundamental 1. Em universidades e instituições tecnológicas existem os Fab Labs, um conceito criado em 2001, no MIT, que elaborou plataformas de prototipagem técnica, fornecendo estímulos para o empreendedorismo local.
A Cultura Maker surge como grande aliada do aprendizado. Além de tornar a escola um ambiente colaborativo de aprendizagem, a máxima do “faça você mesmo” possibilita maior interação entre os estudantes e professores. É possível que o principal papel do Movimento Maker seja justamente o de difundir o aprendizado pela prática.
Algumas pessoas vão ainda mais longe na definição do conceito. É o caso do escritor Chris Anderson ("A Cauda Longa"), autor do livro “Makers: a nova revolução industrial”. Segundo ele, o movimento tem capacidade de ser radical a ponto de, daqui a alguns anos, qualquer pessoa com um pouco de conhecimento técnico e com as ferramentas certas vai conseguir produzir os seus próprios produtos. E com a impressora 3D… o céu será o limite.
Um dos principais impactos da Cultura Maker é a democratização do conhecimento e a agilidade na confecção de produtos. Com os meios digitais, o acesso às informações ampliou-se profundamente e esse cenário se inverteu: quem passou a ditar as regras dos negócios foi o consumidor. Esse movimento começou a tomar forma no final dos anos 60, absorvendo um pouco do conceito de ausência de regras e independência individual da cultura punk e ganhou força com a revolução digital e a facilidade de acesso aos recursos tecnológicos.
O evento mais conhecido de Cultura Maker no Brasil é a Campus Party. Ela reúne milhares de jovens em torno de um festival de Inovação, Criatividade, Ciências, Empreendedorismo e Digital. Um dos temas que seriam abordados na CP deste ano, que seria realizada na Amazônia, entre 18 e 22 de março e cancelada pela pandemia, era o Universo Maker.
Ficamos aqui com um estudo do psiquiatra americano William Glasser que pensou na imagem da pirâmide para representar os níveis de preensão da informação absorvida pelo ser humano, conforme cada estímulo. Que as crianças não nos escutem, mas, quando lemos, o nível de aprendizado é de 10%, quando vemos e ouvimos (nosso audiovisual) é de 50% e quando fazemos nós mesmos uma atividade ou experiência, o que registramos é 80% do conteúdo. Deve ser por essas e outras que a Cultura Maker ganha prestígio e espaço.
Cris Cunha
Executiva com mais 20 anos de experiência na liderança de marketing de distribuição de filmes nacionais e estrangeiros. Esteve ligada ao lançamento, à estratégia e à distribuição de diversos longas, como: Cidade de Deus, A Vida é Bela, Madame Satã, Olga, Minha Mãe é Uma Peça, De pernas Pro Ar, Chico Xavier, Estômago, Todo Mundo em Pânico, entre outros. A partir de 2017, iniciou atividades ligadas à coordenação de lançamento de filmes - planejamento estratégico da campanha - e à realização de pesquisa de produto (quantitativa e qualitativa) para o segmento audiovisual.
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