10 Fevereiro 2020
Por que um filme ganha o Oscar?
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Tem que ser um filmão, claro. Mas não só isso. Quando analisamos um filme como um produto comercial de comunicação, pensamos quais os valores, universos, temas, posições estão atrelados a ele e como estão ligados com a sociedade e debates atuais, e também quais suas conquistas em números (de prêmios, de ingressos, de vendas) – o que chamamos em distribuição de selling points.
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O diretor, Bong Joon Ho, é coreano e dirigiu diversos filmes na Coreia falados em coreano, mas também dirigiu o primeiro filme original da Netflix em 2017, “Okja”, que também estreou no Festival de Cannes, mas por ser totalmente comercial e com elenco americano (ainda que a protagonista seja coreana e tenha que aprender a falar inglês no filme para se comunicar nos Estados Unidos), foi vaiado em suas sessões e saiu do festival comprando uma briga entre a Netflix e Cannes, impondo uma nova regra aos filmes que competirem pela Palma de Ouro a terem seus lançamentos em cinema garantidos.
Mesmo com o ocorrido, Bong Joon Ho voltou a Cannes dois anos depois, em 2019, agora em uma produção independente, inteligente, ácida e sensorial (cinema de autor) e ganhou o prêmio máximo. Mas era só o começo. Em agosto do ano passado, “Parasita” já era o filme vencedor da Palma de Ouro e de língua não inglesa de maior sucesso comercial da história!
A história de protagonistas de uma família desempregada, onde a sensibilidade do roteiro e da direção está no choque de classes sociais, econômicas e culturais, dialoga diretamente com muitas realidades em diversos lugares do mundo.
Em um momento onde o oriente está cada vez mais forte e chamando a atenção, o filme criou uma tendência própria no ocidente e foi virando um “must see”, criando um boca a boca e provando que sim, elogiar um filme e o indicar para amigos verem no cinema ainda funciona.
A carreira em festivais foi excepcional acumulando mais de 200 prêmios em festivais no mundo todo, e em 2020 o filme venceu o BAFTA de Melhor Roteiro e Melhor Filme Estrangeiro e o Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.
Mesmo falando inglês, o diretor fez questão de levar uma tradutora coreana durante toda a campanha do Oscar e sempre falar em seu idioma original nas entrevistas, agradecimentos e tapetes vermelhos, afinal, essa é a campanha comercial do filme - ‘aceitem assistir filmes falados em outros idiomas com legenda, existe um mundo além dos filmes feitos nos EUA’.
E para fechar o ciclo, a produção sul-coreana ganhou o Oscar de Filme Estrangeiro, Roteiro Original, Direção e se tornou a primeira obra não falada em língua inglesa a vencer como Melhor Filme! O que já indica uma nova tendência.
Barbara Sturm
É diretora de conteúdo na distribuidora Elo Company, professora do curso de planejamento estratégico no Centro Cultural B_arco e membro do coletivo Asas
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