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Artigo / Tecnologia

26 Dezembro 2019

Inventário simples

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Inventário simples. Uma expressão mágica, o desejo supremo de qualquer exibidor ou distribuidor. Significa que um produto só e, no caso da nossa indústria, uma variante só do DCP será distribuída ou recebida nos cinemas com a garantia de que uma vez colocado na playlist irá rodar sem inconvenientes de imagem, som, legendas, etc. Quando não é assim, o distribuidor enfrenta o problema de enviar o conteúdo correto para cada exibidor, o que exige manter um catálogo de quem possui um determinado equipamento e cuidar da logística, mais ainda quando há distribuição física de HDs. Mas há vários fatores que dificultam ou dificultaram conseguir este objetivo. Vou mencionar alguns.

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O padrão DCI não especificou tudo.  Algumas coisas ficaram em aberto e a sua implementação foi encontrando dificuldades para fazer conversar fluidamente conteúdos DCP fabricados e empacotados por diferentes programas e reproduzidos em sistemas de projeção de diferentes fabricantes. Ainda lembramos a existência de DCPs com uns misteriosos padrões SMPTE e INTEROP, esta última uma solução de emergência encontrada entre diferentes atores da indústria para tentar minimizar as incompatibilidades, dando um tempo até que todos os softwares e versões estejam alinhados. Essas incompatibilidades resultam do fato de que em Tecnologia da Informação há muitas maneiras de implementar coisas. E quando estas não estão definidas no padrão, temos a receita para uma casa da Mãe Joana.

A engenharia tenta compatibilizar sistemas e fabricantes para tornar a indústria viável e funcional, mas é uma indústria onde tudo anda muito rápido, mais do que seria desejável para poder acompanhar e amadurecer. Vivemos numa situação permanente de poeira no ar, onde mal assentou uma parte quando outra lufada aparece no horizonte.

Uma fonte de problemas são as legendas. Existem vários formatos, onde alguns podem estar embebidos na imagem e outros são gerados e superpostos na hora da projeção, e nem sempre as versões dos sistemas instalados aceitam todos eles. Na imagem os clássicos formatos “Scope” e “Flat” não são problema, desde que um simples comando adapte o sistema de projeção para um formato ou outro, e basta o operador tomar o cuidado de incluir o “cue” apropriado na playlist. O mesmo vale para o caso de utilizar masking.  

Já o som tem as suas particularidades. O padrão DCI obriga um mínimo de canais que devem estar presentes sempre em um DCP: Existem 16 canais como base, onde 8 podem ser utilizados para o formato 5.1 ou 7.1, e ainda tem dois canais adicionais utilizados para inclusão. Os outros 6 podem ser utilizados em formatos adicionais, desde que o sistema de som esteja preparado para eles. Um caso particular é quando o DCP inclui o sistema de som Dolby Atmos. Nestes DCPs, além do arquivo com o conteúdo Atmos, existem sempre os arquivos para som convencional 5.1 ou 7.1, o que permite que o som também seja reproduzido em salas não equipadas com som Atmos, naturalmente reproduzindo em formato 5.1 ou 7.1, e ainda servem de back up automático se o som Atmos não funcionar. Quando um DCP com conteúdo Atmos e reproduzido em servidores não preparados para este sistema, este conteúdo é simplesmente ignorado, e o som é reproduzido utilizando os arquivos mencionados em formatos 5.1 ou 7.1 da forma convencional. Pelos mesmos motivos, no caso inverso, uma sala equipada com som Atmos reproduz sem inconvenientes um DCP que contenha unicamente formatos 5.1 ou 7.1, onde o som é reproduzido nestes formatos. Tudo acontece em forma automática, já que o servidor em ambos os casos buscará os arquivos apropriados.  Este é um caso de inventário simples: Não é necessário contar com dois tipos diferentes de DCPs.

Com o avanço das tecnologias, se incorporaram os DCPs com tecnologia 3D, criando uma nova categoria. Temos também as opções de resolução 2K e 4K, e não muito frequentemente as versões em HFR, “High Frame Rate”, onde em vez dos superclássicos 24 fotogramas por segundo que nos acompanham desde 1927, temos 48 e ainda 60 fotogramas por segundo. Começamos a ter também conteúdo em alto rango dinâmico de imagem. Aqui nem sempre os equipamentos são compatíveis e é preciso alguns cuidados especiais.

Percebemos que estas variantes tornam a tarefa de implementar a ideia “Inventário simples” bastante complicada. Em geral, as soluções avançam, mas nem tudo é barato ou amistoso. Em sucessivas notas, iremos analisando algumas particularidades destas opções.

Carlos Klachquin
Carlos Klachquin | CBK@dolby.com

Carlos Klachquin é gerente da DBM Cinema Ltda, empresa de serviços, projetos e consultoria na área de produção e exibição cinematográfica. Formado como engenheiro eletrônico fornece suporte de engenharia em tecnologias de áudio, entre outras empresas, para Dolby Laboratories Inc, sendo responsável também pela administração de operações vinculadas à produção Dolby de cinema e ao licenciamento das mesmas na América Latina. Desde 2013, trabalha na implementação do programa Dolby Atmos na América Latina, incluindo a supervisão da instalação e a regulagem dos sistemas em cinemas e estúdios e da produção de som Atmos no Brasil.

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