Autor: Lucas Mascarenhas, Analista Sênior de Insights na Parrot Analytics

Em uma entrevista recente, a atriz Fernanda Torres viralizou ao afirmar que o Brasil é uma ilha continental isolada pela própria língua e, apesar da nossa complexidade, nós somos um país que consome a própria cultura. Além disso, Fernanda fez uma análise cuidadosa ao afirmar que o Brasil, mesmo com o complexo de vira-lata, “tem pena do mundo por não saber o que a gente sabe”.

Apesar de nunca ter saído de fato do imaginário da audiência brasileira e estar sendo descoberta por novas gerações a partir de cortes nas redes sociais com cenas clássicas de “Os Normais” e “Tapas e Beijos”, Fernanda Torres nunca esteve tão em alta. Vencedora do prêmio de melhor atriz em Cannes em 1986, Fernanda está ativa na campanha por uma indicação ao Oscar por “Ainda Estou Aqui”, e conta com o Brasil como torcida. 

De acordo com os dados da Parrot Analytics, líder em análise de entretenimento global, Fernanda Torres registrou um crescimento de demanda de 150% no terceiro trimestre de 2024 no comparativo com o trimestre anterior. Em relação a talentos, a demanda engloba o consumo de buscas online, redes sociais e consumo em sites de vídeo; para séries e filmes a métrica também engloba consumo em plataformas open-streaming, mapeando toda a jornada de descoberta de um conteúdo e quantificando a popularidade de um título ou talento na economia da atenção. 

Somada à crescente de engajamento de sua maior estrela, “Ainda Estou Aqui” conseguiu registrar um patamar de demanda de 37 vezes a média de todos os títulos no mercado brasileiro durante sua semana de estreia, índice que menos de 1% de todos os títulos mapeados pela Parrot, independente do gênero ou país de origem, alcançam. Devido a repercussão na temporada de premiações, o filme também consegue alcançar sólidos resultados nos Estados Unidos, registrando na média parcial de novembro uma média de demanda seis vezes maior que a média de todos os títulos do mercado americano. Esse patamar é o dobro do alcançado por “The Seed of the Sacred Fig” no mesmo período, filme que é um dos destaques do festival de Cannes desse ano e o representante da Alemanha ao Oscar 2025.

Apesar de muitos críticos afirmarem que o Brasil não precisa de um Oscar, é inegável a repercussão que a temporada de premiações pode trazer para um título de língua não-inglesa não só ao redor do mundo, mas também no seu mercado doméstico. Exemplos como “Anatomia de Uma Queda” e “A Sociedade da Neve” conseguiram furar a barreira linguística e alcançaram uma demanda expressiva em diferentes mercados, inclusive no Brasil, durante a temporada de premiações de 2024. 

A entrevista de Fernanda que abre esse artigo faz eco quando observada a diferença no consumo de conteúdos brasileiros no Brasil e no resto do mundo. De acordo com os dados da Parrot, entre o primeiro e o terceiro trimestre de 2024, o Brasil alcançou o Top 10 de países que mais demandam os seus próprios shows, entretanto, somos um mercado que ainda apresenta dificuldades em fazer esses mesmos conteúdos viajarem internacionalmente. Além dos Estados Unidos, que lidera esse panorama, mercados de língua não-inglesa como o Japão, a Coréia do Sul e a Turquia se destacam ao estarem no topo do ranking entre produtores que conseguem exportar suas produções para o resto do mundo. 

Talvez seja injusto alimentar aspirações a partir do resultado de um único título. Mas, se depender da vontade do brasileiro e dos bons resultados de “Ainda Estou Aqui”, o mundo pode começar a conhecer melhor a nossa cultura, seja com Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Clarice Lispector ou Fernanda Torres.