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Artigo / Tendências & Mercado

04 Setembro 2024

Diálogo e Resistência

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Os bailes funk, os slams e batalhas de rima, o passinho, o breakdance que hoje explodem nas periferias do país todo possuem um ancestral em comum: o baile black.  Neles, os jovens dos anos setenta fortaleciam sua identidade, autoestima e conexão com a comunidade. O movimento Black Rio provocou uma revolução política e cultural no país,   impactando o movimento negro, o hip hop, a moda, o comportamento, as políticas raciais, e a tecnologia usada até hoje nos bailes funk. Mais do que sucesso mercadológico e tendência, o soul  e o black power eram formas de resistência e orgulho.

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O documentário Black Rio! Black Power!, de Emílio Domingos, chega às salas de cinema do país em 5 de setembro após participar de 24 festivais, tendo recebido 8 prêmios. Após sua estréia no Festival do Rio 2023, recebendo a Menção Honrosa do Júri, o filme foi exibido em festivais na  Austrália, Colômbia, Estados Unidos, Itália, Madagascar, Reino Unido, Uruguai e Quênia. A estratégia de participação em festivais, além da visibilidade e ampliação de mercado, permite avaliar a performance do filme em salas de cinema, tanto no Brasil quanto em outros países. 

Lançar um documentário em salas após anos sem cota de tela para filmes brasileiros - finalmente regulamentada em junho deste ano! -  no cenário de grande assimetria competitiva com blockbusters, demanda um grande empenho das equipes de distribuição, programação, estratégia e comunicação na construção de pontes e de parcerias com exibidores. Temos o desafio coletivo de, conhecendo as limitações do nosso parque exibidor com número de salas insuficiente e distribuição territorial desigual, buscar formas de ampliar o market share das obras brasileiras e ao mesmo tempo encontrar espaço para a imensa diversidade e quantidade de obras produzidas no país.

Pensando nisso, paralelamente à marcação de salas e em constante diálogo com exibidores para que as sessões destinadas para exibição estejam de acordo com as características da obra e do potencial público interessado no filme, temos trabalhado numa estratégia de realizar sessões de pré estreia em várias cidades, tanto em capitais como em cidades menores do interior do estado do Rio de Janeiro, além de programar sessões especiais com baile, outras com debate, com o objetivo de agitar o boca a boca. Tudo isso aliado à uma forte campanha de comunicação sustentada e direcionada às redes sociais.  Alinhado a esta ideia de ampliação do alcance, desenvolvemos com a distribuidora Taturana a campanha de impacto do filme, numa estratégia de distribuição que complementa e vai além dos circuitos tradicionais. Outro ponto ao qual temos dedicado especial atenção é a acessibilidade, numa parceria com instituições que atuam com pessoas com deficiência em sessões especiais nas salas de cinema, visando ampliar não só o público, mas sobretudo o conceito de uma sociedade inclusiva.

Black Rio! BlackPower! é o resultado de um trabalho de pesquisa, desenvolvimento, financiamento e produção que se desenrolou ao longo de 10 anos. Apresenta um outro lado da história que aguardava há décadas para ser contada, mostrando que o tempo pode ser um grande aliado, e que é no coletivo que as transformações acontecem.

 

Letícia Monte
Letícia Monte

Letícia Monte é diretora, produtora, roteirista e sócia da Espiral, atua em projetos de documentários e ficção, videoarte, teatro e performance. É produtora de premiados documentários e diretora do Sicav.

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