15 Maio 2024
A arte de programar e se adaptar
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A arte de programar um filme para a tela grande do cinema é frequentemente um assunto negligenciado por aqueles que estão fora dos bastidores. Sempre ouço pessoas lamentarem que perderam a oportunidade de assistir a um filme porque ele saiu de cartaz rapidamente, sem entender os bastidores do meu trabalho como Gerente de Programação na Distribuidora Elo Studios: convencer os exibidores de que o título brasileiro que estou apresentando merece um lugar entre os grandes lançamentos (blockbusters) e as trilogias premiadas em suas salas de cinema.
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Analisando os números de público e renda do cinema diariamente no mundo pós-pandêmico, somado à popularização dos streamings, as janelas mais curtas entre o filme na sala de cinema até chegar na sala da sua casa, conflitos no mundo, valor dos ingressos e os preços dos combos, sem a lei da cota de tela em vigor, a inflação somada ao problema basal latino-americano: formação de público, fica fácil compreender que, nem para a distribuidora e nem para o exibidor, apostar em um filme nacional em uma sala grande em horário nobre em seu cinema é a opção mais fácil.
No entanto, mesmo diante desse cenário desafiador, se faz necessário adaptar-se, pois os filmes continuam sendo produzidos com sangue, suor e lágrimas e os nossos títulos merecem ser exibidos nos cinemas, para bem mais além da obrigatoriedade de primeiras exibições nas salas de cinema. A experiência de assistir a um filme na tela grande numa sala escura, em formato original e com o som bem calibrado, compartilhando esse momento único com desconhecidos, não tem preço.
Pode soar romântico ou até antiquado, mas no lançamento de todos filmes na Elo Studios sempre buscamos "pensar fora da caixa", trazer inovações e assim buscar ampliar o público para cada um dos filmes.
Foi por meio de uma estratégia de impacto que alcançamos os 500 mil espectadores de Medida Provisória e foi assim também que Saudosa Maloca entrou para a lista dos filmes nacionais mais assistidos do ano. Para o filme "Saudosa Maloca", dirigido por Pedro Serrano, tornou-se uma necessidade urgente seguir rumo ao caminho da adaptação, por se tratar de um produto 100% nacional. Com o sambista Adoniran Barbosa em primeiro plano, o filme apresenta uma narrativa leve, construída a partir de canções clássicas de seu repertório, revelando uma São Paulo dos anos 50 - que crescia desordenadamente em busca do progresso.
Para ampliar o público do filme, foi-se desenhando lado a lado sessões especiais duas semanas antes da estreia em 21 de março, conectando dessa forma cinemas parceiros com os talentos do filme, como foi o caso da sessão para mais de 700 pessoas no Cineteatro São Luiz em Fortaleza, seguida por bate-papo com o diretor Pedro Serrano e o ator patrimônio cultural do nordeste Gero Camilo. Outro caso emblemático foi o da nossa Iracema, interpretada pela atriz e cantora Leilah Moreno, que topou realizar um pocket show com músicas do sambista em sua cidade natal, São José dos Campos, convidando seus parentes para tocarem juntos. Para tal evento, o shopping foi envolvido e o evento se deu na praça de alimentação do Shopping Jardim Oriente e seguiu com uma sessão com a presença da mesma em uma das salas do Cinépolis Jardim Oriente.
A estratégia da marcação dessas pré-estreias e sessões especiais antes e durante o lançamento foram imprescindíveis para o boca a boca do filme chegar primeiro no exibidor que percebeu a força do filme, o que ajudou na marcação da sala e depois no público.
Dessa forma, o filme foi ganhando corpo antes da estreia, e se faz importante destacar também a disponibilidade de nosso Adoniran nas telas, o titã Paulo Miklos, que percorreu a via-crúcis trilhada pela assessoria de imprensa e gentilmente atendeu todos os pedidos de vídeos para exibidores e parceiros com muito carinho, contribuindo muito para a campanha do filme.
Foi a reunião de todos esses elementos que fez o filme estrear em 74 cinemas e 79 salas em todo o país no dia 21 de março e continua em cartaz na sua nona
semana, com uma média por sala de 273 (a quarta melhor ocupação por sala de filme nacional em 2024), prometendo uma vida mais longa do que inicialmente
prevista. Esta é a prova de que a arte de programar e se adaptar é o único caminho a ser trilhado para que o cinema nacional ganhe o espaço que merece nas salas de cinema.
Nosso line-up de 2024 é potente e as estratégias sempre inovadoras! Queremos efetivamente lotar os cinemas com a diversidade e beleza do cinema nacional!
Lívia Fusco
Gerente de Programação na Elo Studios. Mestre em Comunicação e Especialista em Crítica de Cinema. Atua ativamente como pesquisadora do cinema latino americano. Trabalhou por 6 anos na Cinemateca Brasileira e nos principais Festivais Nacionais e Internacionais de São Paulo.
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