08 Maio 2024
Cajuína Filmes: Um ano de encontros e distribuição de impacto
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Há cerca de dois anos me mudei de São Paulo para Salvador, durante o curso do mestrado que concluí em Comunicação pela Universidade do Recôncavo da Bahia (UFRB). A pesquisa foi sobre a circulação da obra da cineasta Sarah Maldoror no Brasil, pioneira dos cinemas africanos e realizadora de mais de 40 filmes ao longo de sua carreira.
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O meu interesse em circulação, distribuição e difusão tem uma conexão direta com o trabalho que realizo há uns bons anos nas áreas de distribuição, programação e exibição, a famosa "ponta" da cadeia audiovisual, a que proporciona (ou ao menos deveria) o acesso à produção audiovisual do Brasil e outros territórios.
Em 2023, já mais do que "instalada" na Bahia e finalizando o mestrado, participei de um laboratório sobre produção e distribuição de impacto na Colômbia, durante o Festival Internacional de Cinema de Cartagena (FICCI). Essa experiência me encorajou a (finalmente) realizar uma empreitada que pensava há tempos: abrir a minha distribuidora, a Cajuína Audiovisual.
Os últimos anos trouxeram novas distribuidoras independentes que realizam um trabalho excelente, cito aqui a Descoloniza Filmes, Embaúba e Olhar, além (claro), da Vitrine Filmes estabelecida no mercado há quase 15 anos. No entanto, a distribuição no Brasil ainda é considerada um "gargalo", uma vez que a nossa produção é muito maior e também bastante diversa, há um limite de operação dessas empresas. E foi neste contexto que fundei uma nova distribuidora.
A Cajuína Audiovisual foi fundada e é sediada em Salvador (Bahia), e acredito que este singelo mas significativo gesto, é também um importante passo no fortalecimento da diversidade de nosso cinema. Evidente que a dificuldade na distribuição não pode ser analisada sem considerar o nosso parque exibidor, insuficiente para o tamanho do nosso território nacional, concentrado na região sudeste e majoritariamente restrito às capitais.
É fundamental, porém, que os profissionais da distribuição se empenhem em ampliar as nossas telas para além de um circuito tradicional, e que seja reconhecido e fomentado por políticas públicas, uma vez, e como já mencionado, o circuito e as demais janelas tradicionais não dão conta da nossa quantidade e diversidade audiovisual brasileira.
Neste primeiro ano, a Cajuína encontrou parceiras, parceiros e parceires que toparam esse desafio. São filmes da Bahia, Alagoas, Pernambuco, Piauí, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo. Ainda serão muito mais, destes e de outros territórios brasileiros. A distribuição de impacto não é e não pode ser reduzida às sessões com debates em espaços alternativos, mas sim ser reconhecida, respeitada e fomentada como uma frente capaz de ampliar a difusão do cinema brasileiro (principalmente) e do audiovisual independente.
O desejo para um futuro breve é que surjam mais distribuidoras e profissionais comprometidos com a ampliação de acesso e janelas, e que a Cajuína Audiovisual possa encontrar mais histórias brasileiras, com toda pluralidade que o nosso país possui. E também latinas (por que não?), entendendo que estamos inseridos neste imenso território, sendo parte para ser todo.
Leticia Santinon
É distribuidora, pesquisadora, curadora e programadora audiovisual. Mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Recôncavo (UFRB) com a pesquisa sobre a circulação de Sarah Maldoror no Brasil. Em 2023, fundou a Cajuína Audiovisual, distribuidora sediada em Salvador, Bahia, com foco em distribuição de impacto.
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