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Artigo / Mercado

03 Maio 2024

Visibilidade trans no audiovisual para além da representatividade

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Falar sobre pessoas trans no audiovisual vai muito além de falar sobre transfake ou sobre representatividade. É necessário falar também sobre educação e políticas públicas. A luta por aceitação e visibilidade ainda é uma batalha diária em busca de reconhecimento e, mais importante ainda, em busca de dignidade. Essa é uma verdade em relação à sociedade e também em relação ao mercado audiovisual.

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Já se é amplamente sabido que o Brasil lidera, há mais de uma década, o ranking de país que mais assassina pessoas trans no mundo. E a grande maioria dessas vítimas são pessoas negras e pardas, fato que ressalta mais uma vez a necessidade de um pensamento interseccional.

E quando levamos tal pensamento para o campo da educação, nos deparamos com outra estatística importante: até 2022, em média 70% das pessoas trans não concluíram o Ensino Médio e apenas 0,02% teve acesso ao Ensino Superior, de acordo com a ANTRA (Associação Nacional de Travestis e Transexuais). Se não há acesso ao ensino, como devemos nos profissionalizar para adentrar o mercado de trabalho?

Uma possibilidade é através dos editais públicos de fomento à cultura. Mas os mesmos ainda estão despreparados para lidar com a pluralidade de vivências de pessoas trans. O edital Ruth de Souza voltado para mulheres trans e cis, por exemplo, foi bastante criticado. Não por ser voltado apenas a mulheres, mas sim por excluir pessoas não binárias e pessoas transmasculinas ao colocá-las no mesmo patamar que homens cis. Uma solução simples e fácil teria sido abrir diálogo com as instituições audiovisuais focadas no cinema trans, como a APTA (Associação de Profissionais Trans do Audiovisual).

Ainda existem iniciativas pontuais, e relativamente pequenas se comparadas as que poderiam vir de um órgão governamental tão grande quanto o Ministério da Cultura, que permitem o acesso a alguns cursos, palestras e festivais. Mas mesmo com todos esses obstáculos, cineastas trans como Rosa Caldeira, Nay Mendl e Ella Monstra continuam fazendo história e mostrando que o cinema trans é tão potente e excelente quanto o cinema cis.

Para que possamos continuar nesse caminho é necessário um esforço ativo da comunidade cinematográfica em acolher e preparar mais profissionais trans. É preciso que pessoas trans interpretem personagens trans, ao contrário do erro de casting da novela "A Força do Querer". Mas só isso não é suficiente. É preciso haver diretores trans, fotógrafos trans, técnicos de som trans e assim por diante. Precisamos de pessoas trans em todos os departamentos e não apenas quando a obra trata de questões transcentradas. Pelo contrário, nós somos capazes de contar qualquer história. E vocês, são capazes de contar as nossas?

Gautier Lee
Gautier Lee

Gautier Lee é cineasta, não-binária, negra e lésbica. Trabalhou em séries para a Amazon, Netflix, Globoplay e Comedy Central, tendo escrito as séries Auto Posto, Depois Que Tudo Mudou e De Volta aos 15, da qual também é diretora. É apaixonada por comédias românticas e narrativas teen.

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