Exibidor

Publicidade

Artigo / Tendências & Mercado

13 Dezembro 2023

Os desafios e as tendências do mercado cinematográfico em 2023 e as expectativas para 2024

Compartilhe:

O Brasil é um país de dimensão continental e nada mais natural que isso se traduza em uma vasta diversidade de culturas e formas diferentes de organização, entendimento do mundo e de expressão. Nossos costumes e tradições são um ingrediente fabuloso para a produção cinematográfica nacional e a leva de filmes brasileiros em 2023, mesmo que ainda sob os efeitos da retomada da produção pós-pandemia, não deixou de expressar essa característica. Tivemos novas cores, novos personagens e novas paisagens regionais representadas em um caldeirão cultural que, cada vez mais, tenta ser inclusivo e representativo. Mas, duas tendências se destacaram em nossa produção em 2023 e tudo indica que se perpetuarão também em 2024. 

Publicidade fechar X

A primeira destas tendências foram as cinebiografias, biografias e a revisitação a vários momentos importantes de pessoas extraordinárias que foram fonte de inspiração e que nos ajudaram a olhar o país e o mundo de perspectivas diferentes. Nessa mesma categoria também podemos incluir documentários e filmes musicais, que retrataram os processos criativos e as pessoas por trás deles, e relembraram o legado que impactou na formação de muitas gerações de brasileiros; e que foi, agora, reproposto através de um outro olhar, um olhar que nos permite comunicar com as gerações passadas e futuras. 

O outro destaque foram os filmes e séries documentais sobre histórias da crônica jornalística policial nacional. Estes casos reais nos ajudaram a entender aspectos comportamentais e psicológicos de mentes criminosas, mas também nos ofereceram uma oportunidade de dar voz às vítimas e de proporcionar uma reflexão sobre as questões sociais, sobre a justiça e o funcionamento do sistema legal, além de que criar uma conexão emocional direta com o espectador.

Seguindo um pouco estas tendências, a Zencrane Filmes irá lançar em 2024, em parceria com a Paramount Pictures e com Taís Araújo, o longa-metragem “Doutor Monstro”, uma história de tribunal, um filme sobre o assassinato de Maria do Carmo pelo médico Farah Jorge Farah. Um longa que se propõe a dar ênfase ao processo do julgamento, ao processo de condenação moral da vítima e ao processo emocional dos profissionais de justiça brasileiros que, embora bem intencionados, nem sempre conseguem fazer justiça como gostariam. 

Nossa outra aposta é o lançamento em parceria com a Warner. Discovery e com a Paris Filmes da continuação do filme Estômago, agora “Estômago 2 – O Poderoso Chef”. Uma coprodução internacional filmada no Brasil e na Itália, com duas equipes técnicas em cada país, mas que com a direção de Marcos Jorge, contribuíram do melhor modo para a criação de um filme que transita e dialoga bem nas duas culturas. 

“Estômago 2 – O Poderoso Chef” chegará aos cinemas 16 anos depois do primeiro filme em um momento muito diferente e de grandes transformações, onde novos desafios de mercado e de distribuição são colocados às produtoras de cinema independente. 

Em 2008 no lançamento do primeiro Estômago, um dos maiores desafios de um filme e de uma produtora de cinema era cruzar a barreira nacional, primeiramente através de grandes Festivais Internacionais de Cinema, que contribuíam para dar visibilidade às produções. Ser distribuído em outros países era um marco importante e nesse contexto fomos muito bem sucedidos com a distribuição do filme em 26 países e com a obtenção de centenas de prêmios em todo o mundo, tornando Estômago ao mesmo tempo um filme comercial e cult. Era um mundo mais simples, com barreiras territoriais e com janelas de exibição definidas, onde um sucesso internacional poderia nos ajudar em novas produções e na manutenção de nossas empresas.

Agora, em 2024, vivemos novos desafios em todo o setor do audiovisual. Questões importantes como a regulamentação das plataformas transnacionais, o papel do Estado frente às grandes corporações, direito patrimonial e a manutenção da propriedade intelectual - que garantem a preservação de ativos econômicos e empregos - interferem e ditam nossa sobrevivência. Um mundo cheio de contrastes onde é importante regulamentar para preservar a cultura dos povos, mas onde também é importante não controlar exageradamente os atores econômicos e setoriais que precisam de flexibilidade para lidar com as mudanças diárias e a reorganização econômica imposta pelas novas tecnologias. Um momento onde nosso próprio modelo de negócio precisa se reinventar e ser colocado à prova diariamente.

Também nesse contexto de mudanças e desafios, em 2024, filmaremos o longa-metragem a “Arte do Roubo” - em coprodução com a Intro Pictures e com a Disney - um filme de ação, com muitos efeitos especiais e uso de tecnologia, mas que discute ao mesmo tempo a necessidade da democratização dos legados culturais deixados pelos grandes mestres da pintura e das artes. Outro de nossos projetos, “A Floresta do Medo”, será um retrato improvável de temas relevantes do passado e do futuro nacional: a guerrilha do Araguaia e a preservação ambiental da Amazônia, com a ajuda de um monstro mitológico. Nosso mais recente projeto “Meat Brazil” foca nos grandes temas da política e do comércio exterior em tempos de pandemia, onde uma executiva do agronegócio de carnes tenta vencer e ser bem sucedida em um mundo marcado pelo etnocentrismo e pela misoginia.

E é nesse caldeirão de mudanças que esperamos com nossa produção mais recente e com os novos projetos, contribuir para a manutenção da diversidade, da qualidade das produções nacionais e para a formação de nossos públicos. 

Contar histórias, ter uma boa relação com as equipes e com nossos parceiros de mercado e manter o foco na qualidade técnica e artística de nossos filmes sempre permearam as nossas escolhas como produtora audiovisual. Mas, acima de tudo, a Zencrane sempre buscou comprometimento com o cinema e que nossos filmes sejam primeiramente exibidos na tela grande, porque acreditamos que o cinema, além de seu aspecto econômico e lúdico, é também um eficiente instrumento de preservação de nossa cultura e identidade.

Claudia da Natividade
Claudia da Natividade

Produtora audiovisual, fundadora e sócia-diretora da Zencrane Filmes

Compartilhe: