16 Agosto 2023
Nosso cinema está falando com o público?
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Vivemos hoje um momento de excesso de oferta de títulos, tanto em séries como em filmes.
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Muito disso vem turbinado pelo rearranjo dos grandes estúdios em concorrência com os grandes streamings da área de tecnologia e o novo panorama dos hábitos de consumo de mídia pelo público.
Contrariamente à primeira impressão, esse excesso não quer dizer diversidade. Ou melhor, ao contrário disso, o excesso vem recheado de mesmice, de repetição de gêneros e perfis de produto que se imagina terem potencial para atrair grandes audiências frente à concorrência.
Isso é uma falácia e tem levado à ‘pasteurização’ da produção, gerando uma infinidade de produtos repetidos, assemelhados, genéricos e despersonalizados.
Com uma velocidade imensa, o público já vem dando sinais de cansaço e desinteresse.
Nós, produtores, devemos trabalhar por DIVERSIDADE. Sim! Diversidade é diferente de excesso e repetição!
Maior diversidade temática, novas histórias, outros pontos de vista, vozes sub-representadas ou ausentes, histórias que atinjam o âmago e o anseio do público.
Isso não precisa ser necessariamente feito em nichos pequenos e restritos, falando com poucas pessoas.
Há muitos caminhos para narrativas mainstream, super populares e comerciais, com novas temáticas, sem serem meramente reiterativas do status quo. Haja vista grandes sucessos como o Minha Mãe é Uma Peça e Pantera Negra, além Atlanta, Transparent, Run, Mulher Rei entre muitos outros exemplos.
São produtos que usam as melhores ferramentas narrativas, de gêneros conhecidos e estabelecidos, a serviço histórias e pautas urgentes, atingindo nervos abertos e sensíveis ao conjunto da nossa sociedade.
Encontrar, produzir e promover esses produtos é o único caminho para a renovação da nossa produção em busca de uma maior relevância do nosso cinema junto ao público. A reconquista se dará por uma cinematografia forte tematicamente e original narrativamente.
É nisto que a Moonshot tem trabalhado por 21 anos. Ser uma produtora independente tem dois lados bem marcados. O primeiro é depender de tudo e de todos no mercado, com grandes desafios de operar e sobreviver num ambiente altamente exigente e competitivo. Por outro lado, isso é compensado por uma independência editorial e de direcionamento dos nossos rumos e áreas de interesse que é inestimável.
Talvez o único particular em que sejamos independentes é o de pensar e propor assuntos ao debate público, desafiar e provocar reflexões através dos nossos produtos.
E isso nos é muito caro.
No dia 31 de agosto lançamos nos cinemas TPM! Meu Amor (direção Eliana Fonseca e roteiro e criação de Jacqueline Vargas), que, através do riso, irá despertar algumas reflexões importantes. É um produto desenhado para os novos tempos, com um lançamento técnico e focado em cinema e uma extensão de visibilidade e alcance nas mídias subsequentes, com um desenho de spin-off's e desdobramentos em vários outros produtos e janelas.
Em paralelo a isso, trabalhamos dezenas de outros projetos com temas urgentes e reais, que vêm atrelados a um posicionamento sempre trabalhado pela Moonshot.
Lançamos TPM! Meu Amor em meio a essa transição na forma de consumo de produtos de mídia, que quebrou as prateleiras tradicionais, desorganizando toda a cadeia de remuneração, faturamento e financiamento dos produtos audiovisuais. Estamos vivendo isso desde a evolução tecnológica, que levou à possibilidade de transitar vídeo pela internet.
Frente a isso, apenas uma coisa não muda e deverá ser cada vez mais o norte de decisões de compra e consumo de mídia - a RELEVÂNCIA CULTURAL - ou seja, o que toca e fala aos corações e mentes do nosso público.
A quebra da hegemonia dos grandes meios (e das prateleiras restritas, seja no Cinema, na TV e em qualquer outro meio), está pondo em cheque o conceito de ‘aldeia global’ com o qual convivemos pelas últimas cinco décadas e portanto, quebrando junto a hegemonia e o cabresto da produção centralizada no hemisfério norte (física ou mentalmente), dando espaço para mais pluralidade.
A Cultura entendida como um bem coletivo, construído e gerado pela somatória dos hábitos, vozes e espírito de um povo, é a nossa identidade e o elemento unificador do que chamamos de país.
A Cultura entendida como a produção e geração de bens culturais, especialmente os de maior demanda por capital e com pretensões de falar a mais pessoas, são (ou deveriam ser) as peças de resistência que formulam e consolidam a sensação e o espírito desse povo e criam nossas bases e referências comuns.
É de nossa imensa responsabilidade falar e expressar os assuntos do nosso país de uma perspectiva diversa, decolonizadora, antirracista, autônoma e autóctone, buscando refletir e expressar quem somos e para onde queremos ir como coletividade.
Roberto d’Avila
Produtor e Diretor, atua desde 1984 em televisão, vídeo e cinema. Diretor da Moonshot Pictures desde 2001, atua na área de Rights Management, concepção e desenvolvimento de propriedades e produtos audiovisuais para cinema e TV, tornando-se referência por séries de ficção como “Sessão de Terapia”, “Spectros” e “9mm: São Paulo”, programas de não-ficção, além de filmes como “Última Parada 174”, “Eliana e o Segredo dos Golfinhos”, “Magal e os Formigas”, “Querida Mamãe” e coproduções internacionais como “Rosario Tijeras” e “O Mistério da Estrada de Sintra”. Em 2022, lançou o filme “Predestinado – Arigó e o Espírito do Dr. Fritz” e a série” No Mundo da Luna”, além de novas temporadas de suas séries na TV paga.
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