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Artigo / Tendências & Mercado

28 Setembro 2022

Buscando o caminho da coprodução internacional

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Por mais que os produtores audiovisuais sempre mencionem a resiliência como um dos principais ativos na realização de seus filmes e séries, é preciso reconhecer que nos últimos anos essa talvez tenha sido a principal característica da atividade.

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O afastamento do presidente da Ancine pelo Ministério Público Federal (MPF) em 2019, as contendas da Ancine com o Tribunal de Contas da União (TCU) que se arrastam até hoje com respeito à prestação de contas de projetos, por um lado, e à inação da agência, por outro, prenunciavam um cenário já bastante assustador aos agentes desse segmento na época.

É fato que a entrada em cena das plataformas VOD parecia trazer um certo alento no financiamento das obras, ainda que com negociações menos favoráveis aos produtores em relação às propriedades intelectuais e patrimoniais das obras, fruto de uma não-regulamentação que só hoje começa a ser discutida e implementada inclusive em países europeus. Mas mesmo esse viés de respiro foi quase que totalmente sufocado com a chegada da pandemia, essa sim uma quase pá de cal em toda a cadeia cinematográfica, da produção à exibição em salas de cinema – incluindo aqui a janela de festivais. Hora de se pensar: até onde vai resiliência?

As dificuldades no financiamento de obras audiovisuais agora se juntam à crise das salas de exibição, que sofreram um duro golpe por conta da covid 19. Para se ter uma ideia, as salas brasileiras contaram com mais de 170 milhões de espectadores em 2019, número que baixou a menos de 50 milhões em 2021. Para agravar, cerca de 300 salas de cinema foram fechadas desde o início da pandemia, sendo que das restantes várias atualmente se valem de outras atividades que não só a exibição de filmes para garantir sua ocupação: eventos, transmissões de shows, atividades voltadas a games. Uma competição acirrada disputada cabeça a cabeça pelos filmes.

Nesse sentido, um formato que se destaca como uma possibilidade de amenizar esse desafio aos produtores são as coproduções internacionais. Esse mecanismo pode facilitar tanto no financiamento como na distribuição e exibição das obras audiovisuais brasileiras.

Numa resumida explicação, uma obra realizada no sistema de coprodução internacional “oficial” – aquela que é reconhecida oficialmente pelas agências de cinema dos países envolvidos – goza dos mesmos benefícios de uma obra originalmente nacional. Desde que observados os termos contidos nos acordos bilaterais e multilaterais assinados pelo Brasil, um filme co-produzido internacionalmente tem o mesmo acesso aos fundos de fomento brasileiros e do país ou países coprodutores. Ainda que o produtor brasileiro seja o minoritário na obra. Além disso, o filme já nasce com a garantia de que será exibido no país coprodutor, o que aumenta a possibilidade de êxito em termos de público nas salas de cinema. Sem mencionar a possibilidade de intercâmbio artístico e técnico e o acesso a janelas de festivais estrangeiros, que também pode funcionar como um impulsionador à carreira da obra.

 O Brasil possui acordos bilaterais de coprodução cinematográfica com doze países, que vão desde a Alemanha e Reino Unido até Israel e Índia. Também é signatário de acordos multilaterais, como o Convênio de Integração Cinematográfica Ibero-Americana, que reúne quase que a totalidade dos países Latino-americanos mais Portugal, Espanha e Itália. Este último permite ainda acesso ao Fundo Ibermedia, que oferece fomento a obras em coprodução entre seus membros.

 Segundo levantamento feito na plataforma Oca/ Ancine, em 2021 foram exibidas em salas de cinema brasileiras 23 obras em coprodução internacional – maior número dos últimos 15 anos - comparados com apenas 9 em 2020, ano afetado pela pandemia. Nesse período de 15 anos, o país com maior número de coproduções com o Brasil foi a Argentina, com um total de 60 obras.

 Ao que tudo indica, a resiliência agora também pode ser expressa em outras línguas: pues que vengan otros más!

Cao Quintas
Cao Quintas

Cao Quintas é professor do Curso de Cinema e Audiovisual da ESPM e está à frente da produtora Latina Estudio.

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