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Artigo / Tendências & Mercado

20 Julho 2022

Uma análise integrada da distribuição no cinema brasileiro

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A distribuição ainda é um segmento menos conhecido dentro da cadeia cinematográfica, quando comparado com a produção e a exibição. E este desconhecimento de suas especificidades e da importância da atividade pode levar a uma falta de sinergia e comunicação entre os três elos, prejudicando o setor como um todo.

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O mercado cinematográfico brasileiro observa com esperança o retorno das chamadas públicas do Fundo Setorial do Audiovisual, fundamental para que sigamos o ciclo virtuoso da atividade audiovisual do país. Entretanto, é preciso pensar de forma integrada em como mantemos o cinema nacional forte em um cenário de extrema competição e com alto desequilíbrio econômico entre empresas brasileiras e internacionais que atuam no país. Como é possível, então, uma obra independente brasileira ter espaço e competir em um mercado concentrado e com mudança de hábitos de consumo pelos espectadores?

Primeiramente, é necessário compreender o mercado, seu dinamismo e como ele se relaciona com questões sociais e políticas. No Brasil de 2022, após uma pandemia que impactou intensamente o cinema e da diminuição de políticas públicas para o audiovisual brasileiro, nos deparamos com uma realidade dura para as obras de nosso país. A ocupação de salas de blockbusters norte-americanos já ultrapassou 90%. Isso utilizando um indicador que é público e que já ajuda a compreender o cenário. Porém, pouco se fala sobre os investimentos em distribuição, no quanto é investido em comercialização de nossos filmes.

Ao deixar de olhar para este aspecto financeiro, conseguimos analisar apenas os filmes, sem incluí-los em uma relação direta com os espectadores. E pensar políticas públicas pressupõe a, justamente, pensar no público como um todo. Distribuir é comunicar, difundir. E, na comunicação, precisamos dos meios – ou seja, das mídias - para se chegar às pessoas. E, em uma sociedade capitalista, é com recursos financeiros que se compram espaços na mídia para ter um número maior de impressões e impactos no público potencial que se deseja alcançar.

É essencial, ao se analisar a crise que nosso cinema brasileiro atravessa, com redução de participação no mercado e maior dificuldade de conseguir grande público nas salas, que se leve em consideração uma análise comparativa nos investimentos em distribuição. Ações locais recentes, como o fomento da SPCine ao segmento, fomentou a comercialização de obras como “Marighella”, destaque de público entre as ficções brasileiras recentes com mais de 300 mil espectadores em 2021, e “Bixa Travesty”, documentário mais assistido em cinemas nos últimos três anos. Porém, a ausência de um fomento específico e que atue em todo o país, levou a uma redução dos valores investidos nos lançamentos brasileiros nos últimos quatro anos – muitas vezes, com distribuidoras independentes e de pequeno e médio porte sendo as únicas a assumirem o risco do investimento. Isso sem contar na importância da distribuição de impacto e ações de retorno social que fortalecem a sociedade, mas que fogem às lógicas econômicas da atividade de exibição e, sem apoio, também se tornam mais escassas, prejudicando na formação de público.

Precisamos repensar o cinema como uma arte que também faz parte do campo da comunicação. O cinema se completa na espectatorialidade, com a recepção do público e, para alcança-lo, uma boa estratégia de comercialização está alinhada com recursos financeiros para garantir que o público potencial seja impactado, além da defesa do espaço para consumo dessas obras – com cotas de tela aliadas ao fortalecimento das campanhas. E, somente com a união dos três elos da cadeia e uma política cultural forte, plural e que atua de forma diversa, conseguiremos uma real eficácia desta indústria tão forte e potente.

 

Felipe Lopes
Felipe Lopes

Professor da pós-graduação em Cinema e Audiovisual na ESPM, sócio-diretor da Vitrine / Manequim, e presidente da Associação Nacional dos Distribuidores do Audiovisual Independente (ANDAI). Lopes atua há quinze anos no mercado audiovisual, passando pelas áreas de produção, distribuição, festivais e gestão pública. É formado em comunicação social e mestre em Cinema e Audiovisual pela UFF, e possui especialização em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM.

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